São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

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Valmir Vale

MUSIVA
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Acorda favela

Inspirado em Gaudí, artista carioca junta cacos da vida e faz do mosaico ferramenta de reflexão crítica

ROBERTO DE OLIVEIRA

ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Valmir Vale resolveu encarar uma partida rápida de sinuca, a meia quadra de casa. Cansado, encurtou prosa e jogo e rumou para a cama.
Não tardou e foi sacudido pelo irmão, em desespero. Era 29 de agosto de 1993.
Nesse dia, 21 moradores foram executados -alguns no botequim de horas antes- por policiais no que ficou conhecido como a chacina de Vigário Geral.
As cápsulas das armas que tomavam as ruas da comunidade foram recolhidas. Valmir trabalhou nelas por três anos. "Almas Aflitas" é o resultado do trabalho: uma escultura com 12 mil balas que virou símbolo de sua luta contra a violência.
Deveria ser uma das últimas obras no Brasil do jovem que cresceu esculpindo a lama do rio Meriti em uma Vigário ainda sem tráfico.
Em busca de segurança, partiu para a vida circense na Alemanha, a convite de um amigo. Perambulou pela Europa por 12 anos.
Até que, na Espanha, o rapaz do subúrbio carioca tomou gosto pela obra do artista catalão Antoni Gaudí.
Juntando cacos, principalmente os da vida, Valmir percebeu que o mosaico poderia descortinar um novo mundo. Para ele e para os moradores das favelas.

OLHAR PARA DENTRO
Voltou ao Rio e criou números postais para 300 casas de Vigário Geral. A iniciativa mexeu com o brio dos moradores, que passaram, eles mesmos, a melhorar suas casas, em um processo maior de reforma interior.
Era o rascunho do que, em 2010, tornou-se o Instituto Musiva, que promove cursos sobre a técnica do mosaico.
Neste ano, com 30 moradores do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, criou nove painéis para as estações de teleférico.
Em comum, uma proliferação de cores que, no fim, reflete o profundo exercício de olhar para si mesmo.
Não à toa, Valmir adora repetir a frase atribuída ao escritor russo Leon Tolstói: "Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia".

QUEM É
Apaixonado por Di Cavalcanti, Valmir do Vale Lins, 42, formou-se artista na Mangueira e na Portela, nasceu e vive no Rio com a mulher e a filha

INOVAÇÃO
Criou método próprio de afirmação da identidade e da autoestima em oficinas de confecção de objetos em mosaico, sempre voltadas para geração de renda

IMPACTO SOCIAL
Pela parceria com o trabalho social do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do governo federal, beneficiou mais de 470 pessoas em menos de dois anos de existência nas comunidades do Complexo do Alemão, da Rocinha e de Vigário Geral, no Rio de Janeiro

ORÇAMENTO 2011
R$ 200 mil (9 parceiros)


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