São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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CLAUDIO E SUZANA PADUA

Terreno fértil

Mentores da 3ª maior ONG ambiental do país, casal inova ao integrar comunidades empobrecidas à paisagem local

Renato Stockler/Na Lata
Claudio e Suzana Padua na construção da Escas

ANDRÉ LOBATO
CÁSSIO AOQUI
ENVIADOS ESPECIAIS A NAZARÉ PAULISTA E TEODORO SAMPAIO (SP)

O administrador Claudio, 61, e a designer Suzana Padua, 58, podem ser vistos como um casal comum. Conversam sobre os filhos antes de dormir, trocam olhares ora carinhosos, ora de reprovação, pensam na viagem de fim de ano em família e planejam as contas a pagar.
O biólogo Claudio e a educadora Suzana também formam uma dupla fora do comum. Criaram a terceira maior ONG ambiental brasileira, o Ipê (Instituto de Pesquisas Ecológicas), pioneira no país ao abrir um curso próprio de mestrado.
A diferença nada tênue entre o trivial e o especial está em uma característica preponderante que põe em relevo o casal -o primeiro a vencer o Prêmio Empreendedor Social no Brasil: sua natureza agregadora.
Juntos, Claudio e Suzana são os principais responsáveis por uma teia de mais de 10 mil pessoas, entre beneficiários do Ipê e seus apoiadores. Ao instituto, integraram desde empresários de renome, como Guilherme Leal, da Natura, e Juscelino Martins, do Grupo Martins, até assentados do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e gestores locais.
Nessa trilha nem sempre bem demarcada, contaram com a força mútua de quem se complementa pelas diferenças. Alto, reflexivo e de fala mansa, Claudio se encarrega no Ipê dos ramos técnicos e acadêmicos voltados à conservação da biodiversidade. Baixinha, enérgica e de riso estridente, Suzana cuida da raiz social do instituto.
"Ela é a parceira, a alma gêmea desse processo e uma boa parte da energia de tudo o que aconteceu. A gente se complementa muito", define Claudio, que, ironicamente, aproximou-se de Suzana pela admiração que nutria por seu pai, à época um exímio caçador carioca.
O namorico na sala de caça foi o inusitado começo de um casamento em prol da conservação ambiental aliada ao desenvolvimento sustentável local que já dura 37 anos.

Plantar verde
Até que o Ipê florescesse maduro nas seis regiões em que atua pelo Brasil, contudo, muito verde teve de ser plantado.
De famílias tradicionais -Claudio é sobrinho do ex-governador Valladares, de Minas, e Suzana, bisneta do representante do rei de Portugal no Brasil-, deixaram a vida confortável de executivo e designer, respectivamente, para se embrenharem nas matas selvagens no Pontal do Paranapanema (SP).
"Pensei: "Ou me dedico a ganhar dinheiro para comprar o meu tempo ou me dedico a fazer o que gosto para ganhar o meu tempo'", teoriza Claudio, que ficou com a segunda opção, ao voltar do mestrado nos EUA.
Se, para o biólogo, nada o faria desviar-se de sua missão -a de trabalhar a biologia da conservação e salvar o mico-leão-da-cara-preta-, para Suzana, tratou-se de um começo árido.
"Não tinha dinheiro para pagar a conta de luz, peguei leishmaniose, e os "coronéis" ameaçavam meus filhos. Fiquei magoada com a vida, com o Claudio, doía por dentro", lembra.
Mas a revolta inicial aos poucos deu lugar a um novo olhar: o da educação ambiental, que transformou as atividades realizadas pelo marido, focadas na ecologia, e foi definitivo para que o Ipê fincasse as raízes atuais, com o viés social.
"Embora ela tenha levado um tempo para se engajar, no momento em que entrou, fez toda a diferença", diz Claudio.
De estudos ecológicos, o programa expandiu-se para educação ambiental, recuperação de habitats e soluções de desenvolvimento para comunidades.
Para o futuro, o Ipê semeia a integração de economia, ambiente e sociedade. O pagamento de serviços ambientais, como a absorção de CO2 -em discussão neste momento em Copenhague-, já é ensinado a gestores públicos nos projetos.
"Quero colocar a conservação no centro da economia. É uma missão forte, que está no meu coração", crava Claudio.
"Chorei no início no Pontal, mas chorei muito mais quando fui embora. A sensação de ter feito diferença dá uma sensação de propósito na vida, e isso me transformou para sempre", complementa Suzana.


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