São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

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País traça rota para fazer da piscina fábrica de ouros

DA ENVIADA A MELBOURNE

Um país com 25.760 km de costa em que quatro de cada cinco habitantes vivem em cidades litorâneas.Não é de se estranhar que a natação seja o esporte nacional na Austrália.
"Nadar é uma coisa cultural para nós", explica o técnico Ian Pope, à beira de uma das duas piscinas do Vicentre Swimming Club de Melbourne, onde treinam Grant Hackett, três ouros olímpicos, e MattWelsh, duas pratas, entre outras estrelas da natação australiana.
"Vivemos perto da água e desde cedo nadamos. Há uma piscina em cada escola e na maioria de nossos quintais. Além disso, toda criança pratica algum tipo de esporte."
A base da natação australiana está nos clubes. De acordo com números da federação local, no ano passado havia 1.051 espalhados pelos sete Estados e territórios. Nova Gales do Sul, terra de Ian Thorpe, mais laureado atleta olímpico do país, é o quemaispossui escolas: 389.
"Nos últimos dois ou três anos a federação tem investido pesado emmanter esse sistema de clubes, já que são eles que têm ajudado no desenvolvimento da natação", afirma Pope, que estará nos Jogos de Pequim ao lado da delegação de 42 nadadores que a Austrália levará à China. "Nós, por exemplo, acabamos de ganhar 5.000 dólares australianos [cerca de R$ 8.500] por termos sido eleitos o clube do ano. E é assim, comessas pequenas coisas, que os clubes se mantêm vivos."
Apenas isso, porém, não faria do país uma potência, com 52 ouros em Olimpíadas "de longe seu esporte com melhor desempenho", nem de seus nadadores protagonistas de nove das 19 quebras de recorde em piscina longa sóneste ano.
"Acho que o mais importante nesse processo é o segundo passo, que é depois que as crianças já aprenderam a nadar", explica DavidLyall, membro da Swimming Australia, a federação de natação local.
"Temos um programa bastante proativo neste sentido. As crianças aprendem desde muito cedo o que é preciso para ser bem-sucedido, então, quando chegam a um nível competitivo, já sabem o que esperar."
O caminho para quem quer se tornar nadador profissional na Austrália começa a ser traçado desde cedo, e os passos já estão todos esquematizados.
Nos clubes, são identificadas as crianças com maior potencial para se tornarem atletas. A partir de então, coma obtenção de índices pré-determinados, esses nadadores são encaminhados para os institutos estaduais de esporte, bancados pelo governo local e que possuem toda infra-estrutura para dar prosseguimento à carreira.
Além de receberem dinheiro do governo para poder competir, esses atletas freqüentam centros de treinamento específicos, têm acompanhamento fisiológico e contam com equipes especializadas em filmar suas performances. Tudo isso acontece paralelamente ao trabalho realizadopor seus clubes.
O passo seguinte é conseguir as marcas para seremacolhidos pelo AIS, o Australian Institute of Sport. O instituto, localizado em Canberra e centro de excelência do esporte no país, foi criado em1981, após o fracasso nos Jogos de Montréal-76, quando os australianos não conquistaram nenhum ouro "em Moscou-80, foram dois.
A partir dali foi traçado plano emergencial, que culminou com a realização da Olimpíada de Sydney, em 2000, quando o país abocanhou 58 medalhas, 18 delas na natação"5 de ouro.
"Apesar de termos tradição em esportes aquáticos, muitos nadadores que fazem sucesso hoje se inspiraram naquela equipe que ganhou o ouro no revezamento 4 x 100 m nos Jogos de Sydney", afirma Lyall.
"Um deles foi Eamon Sullivan."
O nadador, que tinha 14 anos à época, assombrou o mundo da natação no início deste ano, quando, em somente 41 dias, quebrou três vezes o recorde mundial dos 50m livre.
Uma das maiores esperanças australianas em Pequim, Sullivan é só mais um exemplo bem sucedido de como se formam campeões na Austrália. Começou na piscina de casa e, aos nove anos, foimatriculadoemum clube para combater a asma.
Desde então, nunca mais parou. (TATIANA CUNHA)


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