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País traça rota para fazer da piscina fábrica de ouros
DA ENVIADA A MELBOURNE
Um país com 25.760
km de costa em que quatro de
cada cinco habitantes vivem
em cidades litorâneas.Não é de
se estranhar que a natação seja
o esporte nacional na Austrália.
"Nadar é uma coisa cultural
para nós", explica o técnico Ian
Pope, à beira de uma das duas
piscinas do Vicentre Swimming
Club de Melbourne, onde
treinam Grant Hackett, três
ouros olímpicos, e MattWelsh, duas pratas, entre outras estrelas da natação australiana.
"Vivemos perto da água e
desde cedo nadamos. Há uma
piscina em cada escola e na
maioria de nossos quintais.
Além disso, toda criança pratica
algum tipo de esporte."
A base da natação australiana
está nos clubes. De acordo com
números da federação local, no
ano passado havia 1.051 espalhados
pelos sete Estados e territórios.
Nova Gales do Sul, terra
de Ian Thorpe, mais laureado
atleta olímpico do país, é o
quemaispossui escolas: 389.
"Nos últimos dois ou três
anos a federação tem investido
pesado emmanter esse sistema
de clubes, já que são eles que
têm ajudado no desenvolvimento
da natação", afirma Pope,
que estará nos Jogos de Pequim
ao lado da delegação de
42 nadadores que a Austrália
levará à China. "Nós, por exemplo,
acabamos de ganhar 5.000
dólares australianos [cerca de
R$ 8.500] por termos sido eleitos
o clube do ano. E é assim,
comessas pequenas coisas, que
os clubes se mantêm vivos."
Apenas isso, porém, não faria
do país uma potência, com 52
ouros em Olimpíadas "de longe
seu esporte com melhor desempenho",
nem de seus nadadores
protagonistas de nove
das 19 quebras de recorde em
piscina longa sóneste ano.
"Acho que o mais importante
nesse processo é o segundo
passo, que é depois que as
crianças já aprenderam a nadar",
explica DavidLyall, membro da Swimming Australia, a
federação de natação local.
"Temos um programa bastante proativo neste sentido. As
crianças aprendem desde muito cedo o que é preciso para ser
bem-sucedido, então, quando
chegam a um nível competitivo,
já sabem o que esperar."
O caminho para quem quer
se tornar nadador profissional
na Austrália começa a ser traçado
desde cedo, e os passos já
estão todos esquematizados.
Nos clubes, são identificadas
as crianças com maior potencial
para se tornarem atletas. A
partir de então, coma obtenção
de índices pré-determinados,
esses nadadores são encaminhados
para os institutos estaduais
de esporte, bancados pelo
governo local e que possuem
toda infra-estrutura para dar
prosseguimento à carreira.
Além de receberem dinheiro
do governo para poder competir,
esses atletas freqüentam
centros de treinamento específicos,
têm acompanhamento fisiológico
e contam com equipes
especializadas em filmar suas
performances. Tudo isso acontece
paralelamente ao trabalho
realizadopor seus clubes.
O passo seguinte é conseguir
as marcas para seremacolhidos
pelo AIS, o Australian Institute
of Sport. O instituto, localizado
em Canberra e centro de excelência
do esporte no país, foi
criado em1981, após o fracasso
nos Jogos de Montréal-76,
quando os australianos não
conquistaram nenhum ouro
"em Moscou-80, foram dois.
A partir dali foi traçado plano
emergencial, que culminou
com a realização da Olimpíada
de Sydney, em 2000, quando o
país abocanhou 58 medalhas,
18 delas na natação"5 de ouro.
"Apesar de termos tradição
em esportes aquáticos, muitos
nadadores que fazem sucesso
hoje se inspiraram naquela
equipe que ganhou o ouro no
revezamento 4 x 100 m nos Jogos
de Sydney", afirma Lyall.
"Um deles foi Eamon Sullivan."
O nadador, que tinha 14 anos
à época, assombrou o mundo
da natação no início deste ano,
quando, em somente 41 dias,
quebrou três vezes o recorde
mundial dos 50m livre.
Uma das maiores esperanças
australianas em Pequim, Sullivan
é só mais um exemplo bem sucedido
de como se formam
campeões na Austrália. Começou
na piscina de casa e, aos nove
anos, foimatriculadoemum
clube para combater a asma.
Desde então, nunca mais parou.
(TATIANA CUNHA)
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