São Paulo, domingo, 13 de abril de 2008

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PRELÚDIO

Música é prazerosa, mas pode fazer condutor acelerar mais e perder velocidade de reação

Som define o ritmo do motorista

Ilustração de Bruno Algarve sobre foto de Rafael Hupsel/Folha Imagem


EDUARDO CAMPOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os paulistanos costumam passar, em média, uma hora e 40 minutos por dia dentro do carro -e 85% deles estão insatisfeitos com isso, aponta pesquisa feita pelo Ibope, em janeiro, com 1.512 pessoas.
Enquanto a prefeitura não dá partida nas propostas para aliviar o trânsito, muitos ligam o som para relaxar em meio a 6 milhões de carros. "A música tem poder terapêutico e regula os hormônios que controlam o estresse", diz a musicoterapeuta Maristela Smith, 56.
Ela explica que canções são benéficas: dão sensação de segurança e de bem-estar e aumentam níveis de endorfina, neurotransmissor (substância liberada por neurônios) ligado ao relaxamento e ao prazer.
Os motoristas parecem saber disso: o toca-CDs é o acessório mais vendido pela Volkswagen e pela General Motors, acima até de equipamentos de segurança, como airbags. Na Ford, só perde para os tapetes de borracha e, na Fiat, é o terceiro opcional mais procurado.
Quem gosta de alta fidelidade, porém, não se contenta com o que vem de fábrica e pode agregar alto-falantes mais sofisticados e amplificadores para dar mais potência a eles.
Após esse "upgrade", dá para ouvir bem distintamente os instrumentos e os vocais das músicas -confira nas páginas a seguir como chegar lá.
Com um áudio tão afinado, é difícil não se deixar levar pela trilha sonora. Só que se empolgar demais com alguns ritmos pode acabar em acidente.
"A música pode causar déficit de atenção e distrações, diminuir a percepção de perigos e prejudicar a atenção à velocidade", explica a professora Nicola Dibben, 39, do departamento de música da Universidade de Sheffield (Inglaterra).
"Ainda que tenha efeito antiestressante, sobrecarrega a carga cognitiva, diminuindo o tempo de reação e a percepção", completa José Aparecido da Silva, 55, professor do departamento de psicologia e educação da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto.

Reação mais lenta
O alto volume também reduz significativamente a velocidade de reação do motorista, aponta uma pesquisa de cientistas canadenses publicada em 2004.
Ela mostrou que, a 95 decibéis (ruído de um apito ou de uma buzina), aumenta 20% o tempo que as pessoas levam para executar tarefas envolvendo atividades motoras e mentais.
Até o ritmo da música pode atrapalhar a condução do carro. Quanto maior o número de batidas por minuto de uma canção, mais chances tem o motorista de acelerar demais, segundo pesquisa da universidade israelense Ben Gurion.
"Há tipos de música que podem sobrecarregar os órgãos sensoriais", diz Silva, da USP. "Enquanto a música tem um efeito agradável, faz bem. Se começa a incomodar, é preciso desligar o aparelho", conclui.
A quem prometer se comportar no volante, especialistas em som mostram, nesta edição, como incrementar o sistema de áudio do carro, quais são as novidades tecnológicas e uma lista de oficinas especializadas.


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