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Temas das principais escolas de samba cariocas, que começam a desfilar hoje pelo Grupo Especial, repetem idéias que já foram utilizadas em outros Carnavais
Crise e mesmice ameaçam glamour de desfiles no Rio
FERNANDA DA ESCÓSSIA
LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio
Quando começar o desfile no
Sambódromo, as escolas de samba
cariocas estarão lutando para não
sucumbir a dois fantasmas: à mesmice e à crise financeira.
Os enredos das 14 escolas que integram o Grupo Especial se resumem todos aos batidos temas biográficos e turísticos -homenageiam pessoas, Estados, cidades,
bairros e até ruas. Um dos "biografados" é o próprio samba, cuja história neste século, tantas vezes
apresentada na passarela, foi escolhida como enredo da Mangueira.
Os carros alegóricos seguem um
padrão de uniformidade estética já
consagrado, com brilhos, apêndices móveis e, para quem pode, luxo. Nos desfiles deste ano, o observador atento perceberá uma profusão de sóis, índios e colonizadores, alegorias comuns a todos os
enredos que citam cidades ou personalidades nordestinas.
Repetem-se também as fantasias
que relembram Carnavais antigos.
Não há crítica social nem sátiras
políticas, temas que já fizeram história no Sambódromo. É como se
não houvesse crise no país, pelo
menos na avenida.
Nos barracões, porém, a crise
deu o tom. A opção pelos enredos-homenagem foi uma consequência da busca de patrocínio. Desde
que os bicheiros, patronos do Carnaval, foram obrigados pela Justiça a sair de cena, as escolas procuram outras fontes.
Duas escolas, o Salgueiro e a Vila
Isabel, chegaram mesmo a subverter a lógica da criação de um enredo, em que o patrocinador se
adapta ao tema. Nessas duas escolas, captadores de recursos agiram
primeiro e venderam o tema do
enredo a patrocinadores. Só depois foram escolhidas as escolas
que desenvolveriam as histórias.
Muitas escolas acabaram não
conseguindo patrocínio. A desculpa alegada por todos foi a crise financeira no país. O carnavalesco
da União da Ilha do Governador,
Milton Cunha, viu sua dívida de
US$ 100 mil quase dobrar depois
da crise cambial.
"Há falta de dinheiro e de infra-estrutura. Por que não criar uma
escola para formar a mão-de-obra
do Carnaval?", diz Joãosinho Trinta, carnavalesco da Viradouro, que
homenageia Anita Garibaldi.
""O espetáculo de escola de samba é uma fórmula esgotada. Privilegiou-se o cênico em detrimento
da música", diz o compositor Nei
Lopes. Para o sambista Nélson Sargento, a padronização se deve às limitações impostas pelas sinopses
entregues aos compositores.
O crítico musical Ricardo Cravo
Albim não aprova o ""samba de encomenda". ""O samba virou acessório. É o oposto dos anos 30 e 40."
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