São Paulo, Domingo, 14 de Fevereiro de 1999
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Temas das principais escolas de samba cariocas, que começam a desfilar hoje pelo Grupo Especial, repetem idéias que já foram utilizadas em outros Carnavais
Crise e mesmice ameaçam glamour de desfiles no Rio

FERNANDA DA ESCÓSSIA
LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio

Quando começar o desfile no Sambódromo, as escolas de samba cariocas estarão lutando para não sucumbir a dois fantasmas: à mesmice e à crise financeira.
Os enredos das 14 escolas que integram o Grupo Especial se resumem todos aos batidos temas biográficos e turísticos -homenageiam pessoas, Estados, cidades, bairros e até ruas. Um dos "biografados" é o próprio samba, cuja história neste século, tantas vezes apresentada na passarela, foi escolhida como enredo da Mangueira.
Os carros alegóricos seguem um padrão de uniformidade estética já consagrado, com brilhos, apêndices móveis e, para quem pode, luxo. Nos desfiles deste ano, o observador atento perceberá uma profusão de sóis, índios e colonizadores, alegorias comuns a todos os enredos que citam cidades ou personalidades nordestinas.
Repetem-se também as fantasias que relembram Carnavais antigos. Não há crítica social nem sátiras políticas, temas que já fizeram história no Sambódromo. É como se não houvesse crise no país, pelo menos na avenida.
Nos barracões, porém, a crise deu o tom. A opção pelos enredos-homenagem foi uma consequência da busca de patrocínio. Desde que os bicheiros, patronos do Carnaval, foram obrigados pela Justiça a sair de cena, as escolas procuram outras fontes.
Duas escolas, o Salgueiro e a Vila Isabel, chegaram mesmo a subverter a lógica da criação de um enredo, em que o patrocinador se adapta ao tema. Nessas duas escolas, captadores de recursos agiram primeiro e venderam o tema do enredo a patrocinadores. Só depois foram escolhidas as escolas que desenvolveriam as histórias.
Muitas escolas acabaram não conseguindo patrocínio. A desculpa alegada por todos foi a crise financeira no país. O carnavalesco da União da Ilha do Governador, Milton Cunha, viu sua dívida de US$ 100 mil quase dobrar depois da crise cambial.
"Há falta de dinheiro e de infra-estrutura. Por que não criar uma escola para formar a mão-de-obra do Carnaval?", diz Joãosinho Trinta, carnavalesco da Viradouro, que homenageia Anita Garibaldi.
""O espetáculo de escola de samba é uma fórmula esgotada. Privilegiou-se o cênico em detrimento da música", diz o compositor Nei Lopes. Para o sambista Nélson Sargento, a padronização se deve às limitações impostas pelas sinopses entregues aos compositores.
O crítico musical Ricardo Cravo Albim não aprova o ""samba de encomenda". ""O samba virou acessório. É o oposto dos anos 30 e 40."


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