São Paulo, Domingo, 14 de Março de 1999
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OS SEXOS
Fisiologia traz desvantagens às mulheres

da Reportagem Local

Em 1992, dois fisiologistas norte-americanos publicaram uma pesquisa afirmando que as mulheres iriam superar os homens em todas as provas do atletismo.
Sua conclusão se baseava no fato de que os recordes femininos evoluíam com mais rapidez do que os masculinos. As suas projeções indicavam que a primeira ultrapassagem ocorreria na maratona. Em 1998, o melhor atleta de cada sexo deveria estar fazendo os 42.196 m da prova em 2h01min59. A partir daí, os homens ficariam para trás.
Vendo as marcas atuais (2h20min47 para as mulheres e 2h05min06 para os homens), essa previsão parece ridícula. Mas a idéia de que as mulheres algum dia vão superar os homens no atletismo durou até recentemente.
Uma pesquisa importante contra essa corrente saiu em maio de 98. O fisiologista norueguês Stephen Seiler, do Agder College, em Kristiansand, analisando as finais do atletismo em Campeonatos Mundiais e Olimpíadas desde 52, chegou à conclusão de que a diferença entre os sexos nas pistas não só não diminuiu como está aumentando.
Ao contrário dos norte-americanos, que apenas colocaram os recordes num gráfico e viram onde as linhas se cruzariam no futuro, Seiler tomou várias precauções.
Para evitar o efeito provocado pelo aparecimento ocasional de uma marca extraordinária, ele usou a média dos tempos dos seis primeiros colocados, em vez de usar só o tempo do vencedor.
Foram feitas correções nos tempos devido à altitude e velocidade do vento no local da prova e descartadas as competições fortemente influenciadas por eventos extra-esportivos, como uma chuva torrencial ou um boicote político.
Segundo Seiler, a diferença entre o seu estudo e o de 1992 deve-se à chuva de recordes nas provas femininas na década de 80. Velocistas delgadas, como Evelyn Ashford, deram lugar a mulheres supermusculosas, como Florence Griffith-Joyner e Gwen Torrence.
""Esses recordes se devem muito ao aumento no consumo de esteróides anabólicos. Com a redução nos últimos anos, as marcas pioraram", escreveu Seiler. Segundo ele, nesta década, as mulheres só conseguiram evoluir em relação aos homens na maratona.

GENÉTICA
A comparação da fisiologia dos dois sexos indica que a desvantagem das mulheres nas corridas e saltos continuará a existir nas próximas décadas. Quando comparados um homem e uma mulher com o mesmo peso e altura, na média as mulheres possuem coração menor, menos massa muscular, mais gordura corporal e menos hemoglobinas (as células sanguíneas que transportam o oxigênio).
Todos esses fatores interferem na produção de energia pelo corpo, seja nos processos aeróbicos (que utilizam a respiração), seja nos processos anaeróbicos (que não dependem dela).
A diferença é tanto maior a favor dos homens quanto mais explosão muscular é exigida pela prova. O fisiologista Renato Lotufo, da Universidade Federal Paulista, indica outro ponto contra as mulheres: devido à forma da bacia, a posição das pernas das mulheres é menos adaptada à corrida e ao salto do que a das pernas masculinas. É só nas provas de resistência, como a maratona, que suas marcas se aproximam mais das masculinas.
Há outros fatores que podem diferenciar o desempenho de um atleta, como capacidade de concentração e velocidade de transmissão de impulsos nervosos, mas a ciência não encontrou em nenhum deles uma vantagem feminina capaz de contrabalançar suas desvantagens genéticas.
Para o médico Turíbio Leite de Barros, um dos pioneiros da fisiologia esportiva no Brasil, a explicação é outra: ""Como os homens começaram a competir muito antes do que as mulheres, por um certo tempo os recordes nas provas femininas eram quebrados com maior frequência. Como era previsível, isso acabou". (MD)


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