São Paulo, terça, 14 de julho de 1998

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PANORAMA DAS ARTES

Diná Lopes Coelho, 86, que promoveu o primeiro renascimento do mam, a partir de 1967, ao conseguir sua sede e criar o Panorama, diz que não guarda mágoas do museu que a demitiu

A dama de ferro

FERNANDO OLIVA
da Redação

A mulher que tirou o mam do buraco em que ele se encontrava no final dos anos 60 -conquistando a atual sede junto ao prefeito Faria Lima e inventando uma mostra que a encheria de obras- vive hoje reclusa e sozinha em uma cobertura na avenida São Luís, no centro de São Paulo.
Nas paredes de seu apartamento dorme parte da história do modernismo brasileiro: telas de Volpi, Bonadei, Mário Gruber e Di Cavalcanti. A mesinha da sala é um mosaico do suíço John Graz.
Diná Lopes Coelho foi a peça-chave do primeiro renascimento do museu, a partir de 1967, quando já acumulava a experiência de organizar a 7ª e a 8ª bienais (63 e 65). Hoje, aos 86 anos, revela a mesma personalidade que foi a sua marca. Ela, a "mulher forte" do mam por 15 anos, diz que não guarda mágoas do museu que a demitiu, em 1982, logo no início da gestão Aparício Basílio da Silva. "Eu já estava cansada, tinha 70 anos e havia trabalhado muito pelo mam."
Diná, como diretora-técnica, assumiu em 1967 um museu sem teto e sem acervo. Levando na bolsa a sua fama de durona, bateu à porta do gabinete do prefeito e resolveu o primeiro problema. O Pavilhão Bahia da 5ª Bienal, sob a marquise, era a nova sede. Quanto ao segundo, inventou o Panorama de Arte Atual Brasileira e seus Prêmios Aquisição, mostra que reunia obras recentes de artistas emergentes e consagrados.
"O Panorama nasceu porque não tínhamos o que expor. Expor o quê, se não havia mais acervo?", lembra Diná.
Expuseram o que ela conseguiu amealhar pelo Brasil -o que não foi pouco nem de má qualidade. Mira Schendel, Ana Bella Geiger, Flávio de Carvalho e Clóvis Graciano estrelavam o Panorama de 69, obras de 109 artistas vistas por cerca de 15 mil pessoas, em seis meses.
Os trabalhos premiados passavam a compor o acervo do museu. Foi assim que o mam conseguiu sua importante coleção de arte brasileira dos anos 70 e 80 -Rubem Valentim, José Resende, Amilcar de Castro, Franz Weissmann.
A maioria dos artistas, mesmo não premiada, doava suas criações. Resultado: se em 1969 o mam possuía 79 obras (a coleção Carlo Tamagni), 13 anos depois acumulava 1.394, a maior parte proveniente dessas doações.
Em 1970, a mostra passou a revezar anualmente as categorias pintura, desenho e gravura, escultura e objeto.
Com Diná já fora do museu, a seleção do Panorama de 1983 (pintura), agora no prédio redesenhado por Lina Bo Bardi, foi feita por meio de uma consulta a 27 críticos de arte brasileiros.
As categorias em rodízio foram abandonadas em 1995, quando um curador (Ivo Mesquita) selecionou os artistas, olhando agora para fotografias, instalações, vídeos e novas mídias.
Diná não sabia que seu Panorama ainda existe e que vai para a 26ª edição. Durante a entrevista que concedeu à Folha, foi apresentada à instalação premiada em 1997, do artista Paulo Buennos, e mostrou que continua fiel ao espírito democrático e vanguardista da mostra que idealizou. "Se eu gosto desta instalação? Não importa. Nunca tive preconceito contra qualquer forma de arte. Eu selecionava, mas quem tinha de gostar ou não era o público."



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