São Paulo, terça, 14 de julho de 1998

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RENASCIMENTO

Administração eficiente, programação de destaque, prestígio do público e preocupação com os serviços educacionais revigoram o MAM e o colocam definitivamente no circuito

Os anos dourados

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Ampliação de sede, acervo com cerca de 2.500 obras e pronto para ganhar dois catálogos, reforma e reestruturação de seu parque de esculturas, intercâmbio com grandes instituições do mundo, sucesso de público e de crítica. No ano em que comemora seus 50 anos, o mam já pode dizer que entrou em seus anos dourados.
As perspectivas são as melhores, apesar de Milú Villela, sua presidente há três anos e meio, ainda lidar com dois problemas estruturais básicos: falta de espaço e falta de dinheiro.
O museu, por exemplo, não se sustenta. Nem tem quem o sustente. Mês após mês, Milú corre atrás de patrocínios que cubram uma despesa fixa mensal que gira em torno de R$ 120 mil por mês, necessários à manutenção da casa.
"A nossa proposta quando assumimos o museu era conseguir a sua auto-sustentação, algo que ainda não foi possível. Temos planos para ampliar o número de sócios, alugar mais o espaço do museu... Se o espaço for otimizado, ele poderá se autogerir", afirma.
O fato de sua família ser sócia majoritária do Banco Itaú certamente ajuda. Ninguém bate a porta na cara de Milú e o próprio banco já socorreu a sua maior acionista individual algumas vezes, como recentemente, quando o mam perdeu o patrocinador da mostra de Anselm Kiefer e ele foi substituído às pressas pelo banco e pela Volkswagen.
Foi também o Itaú que comprou a escultura "Aranha", de Louise Bourgeois, uma das estrelas do museu. Menos glamourosos, os terminais de computador também foram doados pelo banco.
O problema da falta de espaço também já está sumindo, provisoriamente, do horizonte de Milú. "Já conseguimos o espaço do Museu do Presépio, que é provisório, depois de lutar o ano passado inteiro, sem sucesso, para obter o espaço do Museu da Aeronáutica, que está fechado há 13 anos", disse Milú.
Um novo espaço hoje é fundamental para o museu, pois possibilita o exercício efetivo do acervo que permanece fechado em uma bem aparelhada, mas acanhada, reserva técnica.
Vez ou outra é exercitado pelo grupo de estudos de curadoria que funciona no museu, que tem o acervo como laboratório e a sala Paulo Figueiredo -quando ela está livre- como espaço.
"O Oscar Niemeyer já prometeu um anteprojeto para um novo museu, que seria atrás da Bienal. Isso se não conseguirmos o Museu da Aeronáutica ou o prédio da Prodam, que são duas opções pensadas pelo arquiteto", disse a presidente, que até 1995 pouco entendia de arte ou de política cultural.
Psicóloga de formação, Milú havia se dedicado basicamente à criação de seus dois filhos e à educação de outros, na escola que criou e manteve por sete anos.
O convite para a presidência do museu foi aceito depois de uma tentativa pouco frutífera de trabalhar no banco Itaú. Encontrou um museu sem dinheiro, sem prestígio e uma sede em precárias condições.
A reforma da sede é, até o momento, a maior obra de sua gestão, que dura três anos e meio. "A reforma transformou o mam em uma entidade de nível internacional, com câmeras de segurança, controle de umidade e outras benfeitorias sem as quais não poderíamos receber nada. Outro ponto é a luta do museu para desenvolver sua parte educativa, que no início não era considerada prioridade, mas que hoje atende até 7.000 pessoas por mês", disse.
Milú acabou com os problemas técnicos do museu, viabilizou algumas das melhores programações da cidade, com mostras como a de Iole de Freitas, Anselm Kiefer e coleção Costantini, e colocou o mam no mapa cultural do Brasil.
Todo esse trabalho tem repercutido. O publico visitante do museu saltou de 8.500 pessoas em 1993 para 97 mil no ano passado. O mam mantém intercâmbio com instituições internacionais de prestígio, como o Museu de Arte Moderna de Paris e a Fundação Cartier.
Não é pouco, mas Milú quer mais. Por isso caprichou na programação deste ano e já se lançou em campanha para disputar no final do ano uma terceira gestão na presidência da entidade. Milú quer estar no mam no ano 2000.



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