São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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PEDIATRIA

Médico de toda a família

Pioneiro no estudo da diarreia infantil e militante da campanha pela amamentação, Jayme Murahovschi,75, foi o mais citado na pesquisa

Marisa Cauduro/Folha Imagem
Jayme Murahovschi

FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Referência brasileira em gastroenterologia pediátrica, Jayme Murahovschi, 75, é um dos pioneiros no estudo de diarreia infantil no país e recebe pacientes de vários Estados com problemas complexos no sistema digestivo. Apesar disso, o mais citado de todos os indicados na pesquisa Datafolha diz que se considera, antes de tudo, um pediatra generalista, "um dos últimos espécimes dessa raça em extinção".
Nos mais de 50 anos de carreira, a relação de confiança com seus pacientes faz com que muitos continuem indo a seu consultório mesmo depois de adultos. "Às vezes, o pai chega com a criança, e eu não sei qual deles vou atender", brinca.
Entre os vários informativos que criou para distribuir aos pais, sobre temas como retirada da mamadeira e prevenção de acidentes, está um com dicas de alimentação saudável para toda a família, que ele batizou de "dieta prudente".
E o médico garante que segue o que recomenda. Gosta de andar, vai para o trabalho a pé e corre algumas vezes por semana. Conta, feliz, que completou uma prova de dez quilômetros em 67 minutos.

Periferia
Filho de imigrantes judeus originários da Bessarábia (atual Moldávia), Murahovschi foi criado no bairro do Ipiranga, então na periferia da cidade.
Curiosamente, foi uma diarreia crônica na infância que o levou a conhecer um renomado pediatra que o inspirou a seguir a medicina: Margarido Filho, o único médico que conseguiu tratá-lo. "Na minha casa, só faltavam acender uma vela para ele, de tão gratos que ficaram. Isso me influenciou muito a ser médico e pediatra."
Depois de se graduar na USP (Universidade de São Paulo), em 1956, voltou para seu bairro, onde abriu um consultório e foi trabalhar na Clínica Infantil do Ipiranga, centro de excelência em pediatria onde atendeu por quase 30 anos -hoje, o local é um hospital geral.
Após perceber que diarreia e desidratação eram as principais causas de morte das crianças no primeiro ano de vida, dedicou-se a estudar o tema.
Por muito tempo, Murahovschi buscou o antibiótico ideal contra micro-organismos causadores da diarreia. Até que percebeu que era o aleitamento materno a melhor proteção.
Começou, então, a fazer campanha pela amamentação, conscientizando as mães no pré-natal, incentivando a primeira mamada na sala de parto e o alojamento conjunto da mãe com o bebê. "Hoje isso tudo é comum, mas na época nem se falava nisso", diz.
Devido à distância, pensou em recusar um convite para criar o Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas de Santos (atual Unilus). Não só aceitou como foi professor no local por 35 anos -atividade que adora. "Acho que tenho habilidade para transmitir para quem sabe menos do que eu coisas que aprendi com pessoas que sabem mais do que eu. Sei o que é ser médico de bairro. Por isso, me coloco no lugar do pediatra e tento tornar seu caminho menos árduo", diz.
Foi uma apostila que criou para seus alunos que serviu de embrião para um de seus livros, "Pediatria: Diagnóstico+Tratamento", lançado há 30 anos e que ajudou a formar várias gerações de pediatras.
Casado há 46 anos com Enny Lowenthal, com quem tem quatro filhos e dez netos, diz que ela "nasceu para ser esposa de médico", pois sempre foi compreensiva em relação à sua dedicação ao trabalho -que inclui estar disponível a qualquer hora. "Falo para meus pacientes me telefonarem e atendo em qualquer lugar, mesmo nas férias ou no exterior. Eu brinco que o pediatra tem uma relação de amor e ódio com o telefone. Mas não tem outro jeito de fazer uma boa pediatria."


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