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1998
Orgulho de ser francês
Conquista do time de Zidane se torna mais um capítulo do longo processo para resgatar a autoestima do país
ESPECIAL PARA A FOLHA
Para a França, o futebol funcionou, desde o início do século
20, como uma via de reafirmação após o recuo de sua condição de potência mundial.
Foram os franceses que tomaram a iniciativa da fundação
da Fifa, da criação da Copa do
Mundo, da implantação da Copa dos Campeões, da instituição do prêmio Bola de Ouro.
A França marcou o primeiro
gol das Copas do Mundo e tem
o maior goleador do torneio em
uma única edição -Fontaine,
que marcou 13 gols em 1958.
Por outro lado, seu melhor
desempenho até então havia sido o terceiro lugar em 1958 e
1986. Pior. Em 1990 e 1994,
nem sequer se classificou.
Assim, sediar a última Copa
do século significava uma chance única para o país mostrar ao
mundo e a si mesmo sua capacidade de organizar o torneio. E
que tinha condição de vencê-lo.
Enquanto a Copa de 1938 havia ocorrido em um clima de
desunião nacional pré-Segunda Guerra Mundial, a de 1998
poderia inaugurar uma nova
Revolução Francesa que ajudasse a pôr fim à "fratura social" diagnosticada pelo então
presidente Jacques Chirac.
De fato, as Copas do Mundo
atuam como depositárias de esperanças e frustrações de comunidades inteiras. No caso
francês, o título de 1998 teve o
poder de valorizar a recente diversidade étnica da nação.
No caso brasileiro, a crise de
Ronaldo e a derrota na partida
decisiva serviram para alimentar velhos complexos e novas
teses conspiratórias.
No caso croata, o terceiro lugar deste pequeno e novo país
-independente da Iugoslávia
desde 1991, contra quem precisou lutar até 1996 para garantir
a autonomia- serviu para reafirmar o orgulho de sua população por sua identidade étnica.
Mas a geopolítica não se manifestou apenas em episódios
isolados. Estava na própria estrutura da Copa do Mundo.
A Fifa aumentou para 32 o
número de países no Mundial
para favorecer mercados futebolisticamente mais frágeis.
As novas vagas foram direcionadas principalmente para
África e Ásia, o continente mais
beneficiado devido à sua pujança econômica e à recente popularidade do futebol na região.
Ao longo da década de 1990, o
PIB da Coreia do Sul cresceu
mais de 6% anuais e, em 1998, a
renda per capita do país alcançava US$ 8.600. Naquele mesmo ano, o Japão cresceu 2,4%, e
a renda média de cada japonês
foi superior a US$ 32 mil.
A África enfrentava situação
mais difícil, mas seu potencial
também não podia ser desprezado pela entidade do futebol.
O exemplo da África do Sul é
ilustrativo. Embora tenha sido
o primeiro país não europeu a
se filiar à FIFA, em 1910, o futebol era ali praticado apenas pela marginalizada maioria negra.
O fim da política de segregação racial, em 1994, permitiu a
afirmação do país e do futebol
nacional, que se classificou para o Mundial-1998. Coroando o
processo, a África do Sul seria
escolhida sede da Copa-2010.
(HILÁRIO FRANCO JÚNIOR)
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