São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2001

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CULTURA

Ataques esvaziam a vida noturna

Associated Press
Os atores Nathan Lane, o terceiro da esq. para a dir., e Matthew Broderick, o quarto, durante encenação de "God Bless America", na última quinta


Cinemas, teatros, boates e museus reabrem, mas recebem público abaixo do normal

JOSÉ SACCHETTA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

A vida noturna de Nova York acaba na rua 14, exatamente onde há uma semana ela era mais intensa. Algumas quadras para o sul, na ponta da ilha de Manhattan, ficava o World Trade Center.
Abaixo da fronteira imaginária da rua 14 estão Greenwich Village, East Village, Soho, Tribeca, Little Italy e parte de Chelsea, bairros que há quatro décadas fazem a fama da noite nova-iorquina.
Só que em vez de música ao vivo, mesas nas calçadas e barulho animado de gente, o que se escuta são sirenes. E conversa dos grupos de resgate, voltando dos escombros, sujos, cansados, tentando tomar um ônibus ou o metrô.
Fechado desde terça-feira para facilitar os trabalhos de resgate, o sul de Manhattan afugentou turistas e gente para outras áreas da cidade. Em barreiras nas esquinas, policiais pedem documentos. Nas ruas vazias, moradores circulam à pé, de bicicleta ou patins. Automóvel, nem pensar.
O Soho está fechado. As calçadas da Bowery Street, normalmente cheias na madrugada, ficaram vazias. Alguns bares abriram discretamente, sem música.
Entre a Canal Street e a rua 14, a maioria dos restaurantes planejava abrir as portas ontem. Mas enfrentaram a dificuldade de abastecimento, já que os veículos estão proibidos de circular na área.
Union Square e Washington Square viraram locais de peregrinação. Velas, flores, cartazes com recados, mensagens religiosas e nacionalistas. E bandeiras, muitas bandeiras. Fotos dos desaparecidos estão por toda parte, com telefone das famílias. Em cada uma delas, histórias trágicas.
Em Chelsea e no Village, regiões tradicionalmente frequentadas pela população gay, bares e clubes reabriram na sexta-feira. Stonewall, uma das mais antigas boates de Nova York, tentou agir como se nada tivesse acontecido. A maioria da clientela não apareceu.

Broadway
Momentos após a tragédia, os museus fecharam as portas. Os cinemas suspenderam as sessões. No dia seguinte, nenhum teatro da Broadway abriu. O Lincoln Center suspendeu o Festival Rachmaninoff. A City Opera cancelou récitas. A Festa de San Gennaro, em Little Italy, foi adiada.
Na quinta-feira, os programadores culturais tentaram fazer a cidade voltar ao normal. O MoMA reabriu. O Museu do Brooklyn inaugurou a mostra "Identidades Americanas: um Novo Olhar". Não houve público.
"Quem tiver ingresso comprado para qualquer espetáculo pode trocar para outra data ou pedir o dinheiro de volta", anunciou Eileen Drucker, funcionária da Liga Americana de Produtores e Donos de Teatro, ao confirmar a pequena audiência na reabertura dos 21 teatros da Broadway.
Depois de dois dias sem atividade, na quinta-feira a Broadway decidiu retomar a programação normal. Mas várias peças e shows foram interrompidos por ameaça de bomba. No início ou no final de cada espetáculo, o elenco pediu um minuto de silêncio.
"Simbolicamente, é importante para a cidade que o show continue, com ou sem audiência", opina Elizabeth McCann, produtora da peça "Copenhagen".
Produtores e donos de casas de espetáculo temem que os ataques afastem o público nos próximos meses. "Há uma sensação de que as coisas serão difíceis para o teatro de Nova York", diz McCann.
Com os espetáculos de teatro Off-Broadway e Off-Off-Broadway (fora do grande circuito comercial), a situação é mais complicada. A maioria utiliza teatros que ficam no sul da ilha, abaixo da rua 14. Com a interdição da área, não há previsão de volta.
Pelo menos uma estréia da próxima temporada foi cancelada: a peça "Assassinos", sobre um grupo de sequestradores que tenta jogar um avião sobre a Casa Branca. A peça deveria estrear no final de setembro, no Music Box Theater. A coincidência entre o roteiro e os ataques levou o autor Stephen Sondheim e o diretor John Weidman a anunciar o cancelamento.
Bares e restaurantes encheram nas últimas noites, em Upper East Side e Upper West Side, os bairros que ocupam os lados direito e esquerdo do Central Park.
"O movimento aumentou depois do desastre", avalia Gino Naccara, da rede de pizzarias Famiglia. Nos restaurantes chineses, nos pubs ou nos cafés da área elegante entre as ruas 60 e 80, bandeiras enfeitavam as fachadas.


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