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SOLIDARIEDADE
Telefonistas ficaram até 20 minutos na linha para acalmar quem procurava parentes
Embratel vira "CVV" de familiares
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O drama das famílias brasileiras
que buscavam desesperadamente
por notícias de parentes nos Estados Unidos, depois do ataque terrorista da última terça-feira, emocionou uma categoria que, usualmente, é associada à frieza e ao
distanciamento: os telefonistas
internacionais.
No dia dos atentados ao Pentágono e ao World Trade Center,
520.344 pessoas tentaram ligar do
Brasil para os Estados Unidos, via
Embratel, mas só 17% delas tiveram êxito. O tempo de espera para completar uma ligação para o
exterior, com auxílio de telefonista, foi de sete horas, um fenômeno
nunca visto até então.
Quatro telefonistas internacionais da Embratel relataram à Folha as situações mais dramáticas
testemunhadas por eles no dia do
atentado. ""Muitos de nós choravam quando conseguíamos colocar os parentes na linha", disse a
telefonista Cátia Nascimento.
No atendimento rotineiro, esses
funcionários dedicam, em média,
dois minutos para cada cliente.
No dia do atentado, as normas de
procedimento foram para o espaço. Os telefonistas contam que
bancaram os psicólogos em muitas situações e que ficavam até 20
minutos na linha acalmando os
mais nervosos.
A telefonista Flávia Luiza Máximo, que tem cinco anos de experiência na função, conta que se
emocionou quando uma mulher
de São Paulo conseguiu localizar a
filha que vive em Boston e é comissária da United Airlines.
Por orientação da Embratel, os
funcionários não podem revelar
os nomes nem os telefones das
pessoas citadas.
Flávia diz que a mulher contou
que a filha deveria estar na tripulação do avião que foi arremessado contra a torre do World Trade
Center. Depois de muitas horas
de tentativa, a ligação foi completada e a aeromoça contou que havia escapado da tragédia porque
estava com dores nas pernas e foi
substituída por uma colega.
""Minha amiga morreu no meu
lugar", teria dito ela à mãe, que
voltou a ligar para a telefonista para contar que estava tudo bem.
Apreensão
Flávia lembra de uma outra ligação, no dia seguinte ao atentado,
que a deixou apreensiva: ""Uma
voz com sotaque árabe pediu uma
chamada pessoa-a-pessoa para os
Estados Unidos. É um tipo de serviço em que a chamada só é completada se a pessoa indicada estiver na linha. Depois de relutar em
atender, um homem, também
com sotaque árabe, disse algumas
palavras e desligou. Não me pareceu uma ligação usual", disse a telefonista.
Ela admite que sua reação pode
ter sido influenciada pela suspeita
de que o atentado tenha sido praticado por árabes.
Cátia Nascimento, que também
tem cinco anos de experiência como telefonista internacional, lembra da ligação desesperada de um
homem que suspeitava que o pai
pudesse estar soterrado em Manhattan, pois tinha uma reunião
marcada no World Trade Center.
Depois de muita expectativa, o pai
foi localizado, na madrugada de
terça-feira, em um hotel no Reino
Unido, pois havia adiado a viagem para os Estados Unidos.
""Nós três choramos ao telefone",
conta a telefonista.
Convencer
Rafael Russo conta o drama de
uma mulher que procurava insistentemente pelo pai em Nova
York. ""Como eu conheço bem a
cidade, consegui convencê-la de
que ele estava seguro", relata.
Houve também a história da família que, em prantos, procurava
notícias da mãe, que deveria estar
em um hotel em Manhattan. O telefonista conseguiu ligar para um
telefone vizinho, mas a pessoa do
outro lado recusava-se a cruzar a
rua para chamar a brasileira. Depois de muitas tentativas, o contato foi feito.
As ligações para os Estados Unidos só começaram a se normalizar a partir de quarta-feira, quando 55% das 400 mil ligações foram completadas.
Na sexta-feira, o índice já atingia
65% -considerado normal pelas
empresas.
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