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MAL EXIBIDO
Número de ingressos de cinema vendidos no país cai de 212 milhões para 70 milhões em 20 anos
Crise econômica e novas tecnologias achatam mercado
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Reportagem Local
O principal mercado de filmes
norte-americanos são os Estados
Unidos. O de europeus, a Europa.
O de brasileiros, o Brasil. Começa
aí o primeiro grande gargalo do cinema nacional: a exibição.
Voltemos a 1978. Nesse ano foram vendidos quase 212 milhões
de ingressos no país -61,9 milhões para filmes nacionais
(29,2%).
Cheia de volúpia, Sônia Braga,
em "A Dama do Lotação", de Neville d'Almeida, foi a grande atração
da produção brasileira, num mercado que contava com 2.973 salas
cadastradas em todo o país.
Em termos absolutos, foi o melhor ano do cinema nacional, mas
já se iniciara o declínio do mercado. Em 1975, o país contava com
3.276 salas -foram vendidos
275,4 milhões de ingressos (17,7%
para filmes brasileiros).
Em 1998, ano da chegada ao mercado de "Central do Brasil", o número de salas de exibição no país
era estimado em 1.300.
Apesar do megassucesso de "Titanic" (visto por 16,4 milhões de
pessoas no país), estima-se em
apenas 70 milhões o número de ingressos vendidos nesse ano.
Com a desestruturação dos órgãos governamentais do setor, não
há dados precisos. As informações
hoje em dia ou vêm dos exibidores
e distribuidores ou de empresas
privadas de assessoria especializadas no setor, como a Filme B, do cineasta Paulo Sérgio de Almeida.
O governo inicia este ano a implantação, associado aos exibidores, de um sistema informatizado,
chamado Sicoa (Sistema de Informatização e Controle de Obras Audiovisuais), que deve aprimorar a
coleta de informações desse mercado.
TV e vídeo
Como dizem os números, o mercado de filmes sofreu com a crise
da dívida externa, no início dos
anos 80, se desorganizou com a inflação galopante do governo José
Sarney (85-90) e praticamente acabou com o governo Fernando Col-
lor de Mello (90-92).
Enquanto o preço do ingresso
crescia em termos reais (subindo,
já contada a inflação do dólar, de
US$ 1,33, em 1971, a US$ 4,23 em
1998), o número de espectadores
de cinema, qualquer que fosse a
sua origem, caía.
Em 1997, no fundo do poço do
mercado, apenas 52 milhões de ingressos foram vendidos -ou seja,
menos gente foi ao cinema para assistir a filmes nacionais e estrangeiros nesse ano do que em 78 somente para ver filmes nacionais.
Mas não se pode atribuir esse declínio exclusivamente aos altos e
baixos da economia brasileira.
Nos anos 80, houve a disseminação da TV colorida e a chegada do
videocassete doméstico.
Aliadas à crise, essas novas tecnologias ajudaram a afastar o público de cinema -e, consequentemente, a provocar um declínio do
número de salas de exibição.
O cinema brasileiro que tenta
agora se reerguer (e que, em 99, vai
especialmente bem, representando 22% dos 12,4 milhões de ingressos vendidos até o fim de fevereiro) tem de enfrentar esse problema
-a falta de espaço no seu maior
mercado (onde, aliás, já é uma espécie de "sócio minoritário").
Como todo o mercado diminuiu,
não bastaria o cumprimento ou a
extensão da lei que obriga exibição
de filmes nacionais por 49 dias por
ano em cada cinema.
O grande problema hoje não se
trata tanto de conquistar mercado
quanto de criar (ou recriar) um.
Em especial no interior do país:
se, no ano mítico de 1975, havia
2.701 salas fora das capitais, desde
1989 esse dado nem sequer é contabilizado.
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