São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

1938

À sombra da guerra

O fascismo italiano volta a triunfar no Mundial da França, e a Alemanha joga com atletas da Áustria anexada

ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 1938, no Rio de Janeiro, o poeta Jonas Rosa comprou um jornal que estampava, na primeira página: "Não confunda, Leônidas, o lacedemônio, com Leônidas, este demônio".
O bom humor estava nas alturas. Leônidas da Silva era mais que um rei espartano, era o diamante negro. Encantou o público francês, marcou oito vezes e se tornou o primeiro negro artilheiro de uma Copa do Mundo. Na vitória contra a Tchecoslováquia, deu uma bicicleta: a foto correu o mundo.
Caçado em campo, não pôde jogar a semifinal contra a Itália, partida que tirou o Brasil da final do Mundial. Muitos anos depois, seus inimigos o acusaram de ter sido comprado por Benito Mussolini, o Duce, ditador fascista italiano, assim como teria ocorrido com Domingos da Guia, que fez o pênalti sobre o italiano Piola, lance que decidiu o jogo. Puro racismo.
Fora da esfera esportiva, a política, que já esteve presente em 1934, nunca mais deixou de bater ponto nos Mundiais.
A Itália fascista utilizou suas vitórias nas Copas de 1934 e 1938 como propaganda do regime, assim como Adolf Hitler tentou fazer ao sediar a Olimpíada de Berlim, em 1936.
A Alemanha nazista, porém, não repetiu o êxito na Copa de 1938. Mesmo com atletas austríacos - a Áustria foi anexada pelos alemães naquele ano-, não passou da primeira fase.
Os alemães se mostravam mais bem-sucedidos nos campos político e militar. Além da Áustria, tomou os Sudetos, na Tchecoslováquia, e a Polônia.
Já a equipe italiana, liderada pelo meia Giuseppe Meazza, era uma metáfora da expansão fascista e nazista pelo mundo.
O fascismo atingia Portugal, sob a ditadura de Salazar desde 1933, e Espanha, cuja guerra civil chegou ao fim em 1939 com a vitória do "caudilho de Deus", o ditador Francisco Franco.
Até no Brasil as ideias fascistas estiveram presentes, graças à Ação Integralista Brasileira, fundada por Plínio Salgado em outubro de 1932.
A África também foi palco da expansão fascista. Em outubro de 1935, a Itália invadiu a Etiópia. Apesar dos protestos do imperador etíope Haile Selassiê à Sociedade das Nações, organização internacional fundada após a Primeira Guerra Mundial e da qual a Etiópia era membro desde 1923, a entidade nada fez de concreto para barrar Benito Mussolini -apenas aprovou sanções que foram descumpridas pelo ditador.
Em maio do ano seguinte, o Duce anunciou o final da guerra e a anexação da Etiópia ao império colonial italiano, juntamente com Abissínia, Eritréia, Somália e Líbia.
Com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, as colônias inglesas e francesas foram usadas pelas metrópoles para fornecer gêneros agrícolas, minerais e também milhares de soldados.
Os territórios franceses na África ficaram, depois de vários combates, sob o controle do governo no exílio, liderado pelo general Charles de Gaulle, futuro presidente do país.
Isso porque, na Segunda Guerra, parte da França foi ocupada, a partir de 1940, pela Alemanha de Hitler. No centro-sul do país, foi organizado um governo colaboracionista com os nazistas, em Vichy, sob comando do marechal Petain.
O norte do continente africano foi teatro de vários combates, como a célebre batalha de El Alemain, quando o Exército alemão, comandado pelo general Rommel, foi derrotado pelas tropas aliadas sob a chefia do marechal Montgomery.
(MARCO ANTONIO VILLA)


Texto Anterior: Vargas inicia casamento com futebol
Próximo Texto: Estado novo toma conta da seleção
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.