São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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Takako, 65, é a casamenteira de Campinas

ESPECIAL PARA A FOLHA

A paixão da adolescente Takako pelas fotografias e sua mania de colá-las em um álbum acabariam por dar rumo à sua vida. "Esta daqui, vovozinha, tirei na escola, esta daqui foi no curso de cabeleireira", ela explicava, aos 19 anos, a uma senhora de 70. A "baachan" (vovó em japonês) que espiava o álbum com um olho e que, com o outro, mirava um futuro casamento, pediu uma foto.
Em Campinas, aos 65 anos, Takako mostra hoje, com a mesma paciência e atenção, as fotografias de mulheres e homens descendentes de japoneses que querem se casar para outros descendentes de japoneses que também querem se casar. Em dez anos, ela promoveu 230 encontros, dos quais 15 acabaram em casamento.
Takako Nacano vive o papel que no passado era desempenhado pelo "nakodo", pessoa que arrumava casamento entre os japoneses. No Japão tradicional, o "miyai", casamento acordado entre os pais dos noivos, era um dos pilares da vida social -símbolo de que os interesses coletivos deveriam se sobrepor aos individuais.
"Eu faço isso para ajudar as pessoas a encontrarem a felicidade. Cobro apenas uma "taxinha" para fazer o cadastro, depois tem uma "taxinha" para as minhas despesas quando há um encontro. Se dá em casamento, aí também tem mais uma "taxinha'", diz.
Takako recebe telefonemas de vários lugares. Houve até um dos EUA: um senhor prospectando uma noiva para seu filho. Um outro cara, arrogante, dizendo ter fazendas, procurava por uma mulher que soubesse "cortar sashimis". Takako respondeu a ele que, nos dias de hoje, "só se ela for dona de restaurante japonês". Um viúvo de São Paulo tinha uma exigência: queria que a mulher fosse até sua casa. Takako pensou: ou ele tem uma casa muito bonita ou é pão-duro e não quer vir até Campinas. Ela não aceitou o pedido do viúvo: "Aqui tem que seguir a minha regra".
Aquela foto tirada de seu álbum aos 19 anos voltou à sua vida quando recebeu a visita de um senhor do Paraná. Ele havia visto a fotografia e perguntava se ela se encontraria com o filho, de 24 anos. Takako consultou a mãe, uma imigrante da região de Fukuoka, que não se opôs a que ela conhecesse Minoro Nacano, com quem está casada há quatro décadas. Onde foi o primeiro encontro? Em um casamento, é claro! Takako não tem fotos deste dia. (MS)


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