São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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6 em cada 10 dizem falar japonês

IDENTIDADE Interesse pelo idioma cresce, e Brasil é hoje o 13º país em número de estudantes da língua japonesa, atrás de Austrália e EUA

ESPECIAL PARA A FOLHA

A pesquisa Datafolha revela que a comunidade nikkei da cidade de São Paulo conserva um vínculo forte com a língua japonesa. Na história dos imigrantes japoneses no Brasil, o idioma é visto como o elo preponderante, o valor essencial na preservação da sua identidade.
Os primeiros imigrantes eram alfabetizados -o Japão passou por um processo de alfabetização em massa nas últimas décadas do século 19- e, como pensavam em voltar para o seu país de origem, trataram de criar escolas de japonês e ensinar a língua para os filhos.
Em abril de 1932, a Associação de Pais de Alunos de Escolas Primárias Japonesas contava com 187 estabelecimentos reconhecidos. Em 1939, existiam 486 escolas, com cerca de 30 mil alunos. O "nihon gakko" era não só uma escola, mas um lugar para transmitir os valores culturais dos antepassados.
O idioma era tão preservado que a imprensa em língua japonesa, até a Segunda Guerra, tinha grande volume de títulos. Uma pesquisa na região da Estrada de Ferro Noroeste, em 1939, mostrava que 87,7% dos imigrantes declaravam ser assinantes de jornal -cifra altíssima para padrões brasileiros.
Dos 607 entrevistados pelo Datafolha, 82% declaram entender alguma coisa, 60% afirmam saber falar, 46% dizem ler, e 43%, escrever em japonês.
Mais de dois terços (73%) afirmam ter aprendido o idioma em casa, fato que indica o grau de permanência e o valor da língua para a comunidade.
Para Jaqueline Mami Nabeta, diretora-geral de Ensino da Aliança Cultural Brasil-Japão, o maior (tem 1.700 alunos) e um dos mais tradicionais centros de ensino da língua japonesa no país, é "preciso descobrir o que as pessoas têm em mente quando declaram saber ler e escrever. Significa que sabem apenas ler e escrever o nome em hiragana ou que serão capazes de compreender um texto inteiro?" Segundo ela, poucos conseguem atingir o nível 1, o mais alto, no exame de proficiência da língua da Fundação Japão. Para se sair bem no exame, é preciso conhecer cerca de 2.000 kanjis, o suficiente para ler um jornal.
O número de estudantes de japonês no Brasil está crescendo. O Centro Brasileiro de Língua Japonesa contabilizava 18.372 estudantes do idioma no Brasil em 1993, distribuídos em 274 escolas, com 868 professores. No censo realizado em 2006, o número tinha crescido para 21.631, em 544 escolas, com 1.213 professores. Com os números de 2006, o Brasil era o 13º país em número de estudantes da língua japonesa. A Austrália, com 367 mil estudantes, era o terceiro. Os EUA, o sexto, com 118 mil.
Mas, como ressalva Yoshikazu Niwa, do Centro Brasileiro, enquanto na Austrália apenas 4.000 e, nos EUA, 14 mil estudavam em escolas particulares, no Brasil, mais de 16 mil dos cerca de 22 mil pagam para aprender japonês. "Isso mostra que há um grande interesse pelo idioma neste país", diz. (MS)


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