São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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Nova geração rejeita rótulo

FORA DOS PADRÕES Exceções ao estereótipo de timidez e introspecção, descendentes quebram regras

DA REDAÇÃO

Se a auto-imagem dos descendentes de imigrantes japoneses é bem delineada, dentro do estereótipo disciplinado, esforçado, tímido e introspectivo, não faltam exceções à regra.
Até ganhar fama como baterista entre os fãs de rock nacional, Ricardo Di Roberto, 34, o Japinha da banda CPM22, se encaixava no modelo: era tímido, "CDF" e bem disciplinado.
Descendente de quarta geração e mestiço de pai italiano e mãe japonesa, Japinha foi bancário, estudou computação e cursou duas faculdades -entre elas, ciências sociais na USP.
Até na escolha do instrumento musical em que se especializou sobressaiu a timidez: "Quando comecei, queria ficar atrás, sentado, com os pratos da bateria na minha frente".
Hoje não se sente mais encabulado ao se apresentar a platéias de milhares de jovens por todo o país -e até no Japão, onde fez shows recentemente.
"Fui me auto-afirmando e deixando para trás o que era pejorativo", conta o baterista, que credita parte de sua fama à sua ascendência nipônica. "Com o apelido Japinha virei referência no meio artístico."
Guitarrista do grupo de rock Hell Sakura e baterista do Hats, Cherry Takitami, 31, diz que a influência familiar é forte. "Sofremos pressão para fazer faculdade. Decidi estudar música e no começo sentia que não era valorizada", exemplifica.
Desde cedo, percebeu que não se encaixava nos padrões. "Cortava o cabelo das bonecas, fazia tatuagens nelas, inventava roupinhas alternativas."
Hoje, contudo, Cherry diz valorizar a influência da origem japonesa em sua música. Aprendeu shamisen (instrumento de cordas) e pretende convidar músicos de taikô (espécie de tambor) para tocar em sua banda, a fim de mostrar como as pessoas do "underground" enxergam o mundo.
"É preciso quebrar as regras mesmo. Para poder melhorar, tem de sentir um baque, só assim é possível crescer", afirma.
Longe da delicadeza das "garotas de Hello Kitty", a professora de inglês Juliana Kajimoto, 29, ressalta que sempre fugiu aos rótulos nipônicos.
Quando era pequena, lembra, para seus pais, menos do que nove não era nota. Para contrariar a maré, teve a fase punk, com seis piercings no rosto e "cabelo de todas as cores" -pink, azul e verde.
"Meus avós achavam engraçado; meu pai, horrível; e minha mãe dizia que enquanto eu tivesse cabelo estaria bem. Ela foi muito reprimida quando era jovem, por isso hoje me apóia no que faço", explica.
Juliana afirma que, no dia em que se considerar um peixe dentro d'água, estará com problemas. "Meu negócio é fazer barulho. Essa é a minha essência." (CÁSSIO AOQUI)

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