São Paulo, domingo, 19 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

155 anos

História no divã

Autor do livro "Pensando Ribeirão Preto: Ontem, Hoje e Amanhã" questiona título já reivindicado de "capital da cultura" e diz que município não tem arquivo público nem biblioteca decentes

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE RIBEIRÃO PRETO


O professor e historiador Jorge de Azevedo Pires, 80, decidiu colocar Ribeirão Preto no divã. Em seu livro "Pensando Ribeirão Preto: Ontem, Hoje e Amanhã", faz um diagnóstico dos problemas estruturais e pontuais da cidade. E convida o leitor a fazer uma análise sobre cada um dos temas propostos.
"Adotei Ribeirão como minha cidade em 1980 e sinto que tenho obrigação em participar ativamente de entidades e discussões para o bem comum da população. Esse é o meu papel como cidadão", afirmou ele, que faz parte do Comur (Conselho Municipal de Urbanismo) e da Soderma (Sociedade de Defesa do Meio Ambiente).
Um de seus questionamentos é se a cidade é mesmo "capital da cultura" -título almejado no passado. A resposta do é irônica: "Seria a cultura da cana-de-açúcar?".
Ele recebeu a Folha em sua biblioteca particular, em meio a mais de 6.000 livros. Leia a seguir trechos da entrevista. (GABRIELA YAMADA)

 


Capital da cultura
Ribeirão foi importante quando o Brasil exportava café. Hoje, é conhecida pela cana-de-açúcar. Dizem que Ribeirão é capital da cultura e eu questiono: seria a cultura da cana-de-açúcar? O que vejo hoje são iniciativas pobres, oba-oba, festas que trazem barulho infernal. Cultura é algo maior que eventos populares. Exemplo: Ribeirão Preto não tem nem biblioteca nem um arquivo público histórico decentes.

Transporte público
Quando vim a Ribeirão pela primeira vez, em 1947, conheci uma pavimentação impecável de paralelepípedos. Ao longo dos anos, vi uma piora das condições de trânsito, com as ruas estreitas e o centro cada vez mais cheio de carros. Não vejo outra alternativa para o futuro senão garagens verticais. Em 1991, sugeri à prefeitura da cidade a construção de cinco dessas garagens, em espaços que hoje já estão ocupados com outras edificações.

Enchentes
Uma característica do poder público de Ribeirão Preto: não toma iniciativa, vive sempre tapando buraco. Várias medidas tiveram de ser tomadas ao longo dos anos para evitar enchentes, mas tudo de forma paliativa. O maior problema de Ribeirão é que a cidade está sujeita aos interesses de empresas do ramo imobiliário, crescendo onde a infraestrutura urbana ainda não chegou.

Aquífero Guarani
Ribeirão Preto é a maior cidade do Brasil abastecida exclusivamente com água do aquífero. O problema é que ocorre uma extração maior em detrimento de uma recarga baixa. É claro que um dia isso vai se tornar inviável e existe o problema do risco da contaminação por agrotóxicos, porque hoje o manejo é feito sem controle.
Imagine o caos que pode acontecer se o aquífero for contaminado? Há 20 anos sugeri que se buscasse o rio Pardo para abastecimento complementar. E só agora estão atrás disso.

Futuro de Ribeirão
Já fui convidado para me filiar [a um partido político], mas não tenho vocação para política partidária. Fora dela, tenho melhores condições para participar, questionar, exigir.
Ribeirão é uma cidade acolhedora e não tenho vontade de sair daqui. Acredito que o futuro ainda reserva algo bom para a cidade.


Texto Anterior: Restauro do Pedro 2º encontrou raridade
Próximo Texto: Raio-X
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.