São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

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Escolas com alta abstenção estreiam no top paulistano

Colégios em que muitos faltaram à prova subiram para os 20 melhores

Estudos mostram que quanto menos alunos fazem o exame melhor a nota do colégio; nove escolas lideram ranking

RICARDO WESTIN
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO

Dos colégios particulares paulistanos mais bem colocados no último Enem, nove são novatos no ranking dos top 20. A maioria deles deu um salto gigantesco entre o Enem 2008 e o 2009.
O colégio Maria Imaculada (zona sul) trocou o 92º lugar pelo 7º. O Batista Brasileiro (zona oeste), o 116º pelo 14º.
Um ponto comum foram os poucos alunos na prova.
Estudos do Inep (instituto de pesquisas do MEC) mostram que as escolas tendem a ter melhor resultado quando menos alunos seus fazem o exame -são os menos preparados os que mais desistem.
De qualquer forma, uma pequena mudança de posição no ranking não significa que o ensino da escola melhorou ou piorou. Com vários colégios com nota parecida, um mero ponto consegue alterar bastante o ranking.
Na escola Lourenço Castanho (zona oeste), só 14% dos alunos participaram do Enem. Foi do 37º lugar ao 10º.
O último Enem teve a maior abstenção da história.
Dos inscritos, 39,5% faltaram -1,5 milhão de estudantes. O Estado de São Paulo puxou essa porcentagem para cima.
O motivo foi o vazamento das questões. A prova, antes marcada para outubro, teve de ser adiada para dezembro.

CAUTELA
Os alunos se sentiram duplamente desestimulados. Primeiro, universidades desistiram de aproveitar o Enem em seus vestibulares, como USP e Unicamp. Depois, a nova data caiu bem na temporada de vestibulares.
"Desisti do Enem porque eu teria vestibular uma semana antes e uma depois. Eu iria me desgastar demais", afirma Bruno Machado, 18.
Machado, hoje no Insper (antigo Ibmec SP), era aluno do colégio Batista Brasileiro. Na escola, só 14 dos 41 estudantes prestaram o Enem.
"Antes do adiamento, quase 100% fariam a prova", diz Eliana Aun, do colégio Dumont Villares (zona sul), o 13º na lista das particulares.
No final, foram 30,5%. Mauro Aguiar, do colégio Bandeirantes (zona sul), acusou o MEC de "irresponsabilidade". Para ele, o ranking não reflete a realidade. A escola foi do 2º ao 4º lugar.
"A amostragem [de 2009] não foi significativa. Alunos excelentes não fizeram a prova porque queriam só a USP, que não usou o Enem", diz.
Para o diretor da Lourenço Castanho, Alexandre Abbatepaulo, o local das provas atrapalhou. "Muitos foram mandados para fazer prova no meio da favela".
O Inep diz que divulgou as notas da mesma forma que antes, com o número de alunos matriculados na escola e o número de quantos fizeram o Enem. Porém, reconhece que é preciso olhar as notas com cautela, já que o exame é voluntário.
Dos colégios top 20 de São Paulo, o que teve maior participação (77% dos alunos) foi o centro educacional Pioneiro, 10º lugar, escola da zona sul onde a maioria dos alunos descende de japoneses.
"Orientamos para que fizessem a prova, mesmo que só como forma de se testarem. Mas deixamos claro que a decisão final era deles", diz o diretor Fernando Isau.
Colaboraram FÁBIO TAKAHASHI, de São Paulo, e ANGELA PINHO, de Brasília

39,5%
foi o índice de abstenção na prova do Enem, o maior índice da história

13,73%
foi o índice de presença na prova dos alunos do colégio Lourenço Castanho (SP), que saltou 27 posições no ranking


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