LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO

Duas horas depois de participar de evento como presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva se vestiu de cabo eleitoral da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT). Ele participou da inauguração de um prolongamento de cinco quilômetros da avenida Radial Leste até o bairro de Guaianazes, na zona leste da capital paulista.
Lula entrou na campanha eleitoral em São Paulo no mesmo dia em que chegou ao conhecimento da opinião pública que a avaliação do seu governo cresceu 9 pontos percentuais desde junho. Sua taxa de ótimo/bom subiu de 29% para 38%, segundo pesquisa CNI/Ibope. O resultado reflete, segundos analistas, a melhora do quadro econômico do país.
Apesar de Marta não ter comparecido ao ato, já que a legislação eleitoral proíbe a presença de candidatos em inaugurações públicas, a candidatura dela foi o mote da inauguração. O presidente afirmou compreender o objetivo da lei, mas para ele seria necessário fazer um distinção entre "abuso eleitoral" e "inauguração de uma coisa concreta".
A entrada de Lula na campanha foi um pedido direto de Marta, que enfrenta uma disputa acirrada com o adversário tucano José Serra pelo comando da Prefeitura de São Paulo. Durante o ato, ele disse que não poderia deixar de participar da inauguração de uma obra "dessa magnitude" -são cinco quilômetros prontos.
Em seu discurso, além de exaltar as principais bandeiras da gestão petista em São Paulo, o CEU (Centro Educacional Unificado) e o bilhete único, Lula fez questão de destacar que o governo dele, que é do PT, repassou muito mais recursos para a prefeitura paulistana, também do PT, do que o governo anterior, do PSDB.
"Só o Ministério das Cidades investiu, entre 1995 e 2002, o equivalente a R$ 580 milhões na capital paulista. O nosso governo, em apenas 18 meses, já investiu R$ 390 milhões", afirmou.
Lula disse ter ficado "horrorizado" ao ver como a candidata do PT é vítima do preconceito nas propagandas eleitorais no rádio e na televisão. Declarou ainda que, por outros motivos, também já foi vítima do preconceito.
"Pensei que o preconceito era porque eu era nordestino e metalúrgico. Mas a Marta é paulista, de família tradicional, mulher inteligente e bonita", disse o presidente, que completou: "O que incomoda os adversários é a competência administrativa da Marta".
De acordo com Lula, poucas vezes na história da capital paulista, uma "prefeita ou um prefeito" teve a coragem de Marta em levar grandes obras e projetos para a periferia da cidade.
"Esta mulher, em vez de ser vítima do preconceito, poderia ser considerada, sem sombra de dúvida, a melhor prefeita que esta cidade já teve", disse o presidente, que pediu diretamente votos para as cerca de 5 mil pessoas -público estimado pela Guarda Civil Metropolitana. A platéia era formada basicamente por operários que trabalharam na obra e por militantes petistas.
Descontraído, Lula brincou com o fato de a primeira-dama Marisa Letícia e a ministra-interina das Cidades, Ermínia Maricato, estarem vestidas com a mesma cor de tailler: "Parecem uma dupla de periquitos australianos".
O ministro José Dirceu (Casa Civil) disse ontem em Curitiba que Lula vai continuar a inaugurar obras de candidatos a prefeito à reeleição do PT e de "outros partidos" em pleno período eleitoral.
Dirceu disse que a participação de Lula no evento não poderia ser vista como engajamento na campanha de Marta. "Ele não entrou na campanha. Foi visitar uma obra importante da cidade de São Paulo, como tem ido em todos os Estados do Brasil", disse.