São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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Dólar caro leva empresas ao 'desespero'

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O cenário era "desesperador" -palavra usada pelas próprias empresas e bancos. Com a disparada na cotação do dólar no mercado, no último semestre de 2002, as companhias caíram numa cilada. Não tinham caixa para quitar ou, pelo menos, para rolar as dívidas em moeda estrangeira. Isso porque a desvalorização do real tornou muito cara as dívidas.
Nos últimos meses de 2002, o setor privado encontrou grandes dificuldades para rolar seus débitos contraídos no exterior. Isso começou a ocorrer quando os bancos estrangeiros começaram a olhar com desconfiança para a economia brasileira -por causa das incertezas em relação às eleições presidenciais.
Em outubro, a situação se agravou e as empresas não refinanciaram praticamente nada dos títulos que venceram no período.
Na prática, as companhias conseguiram "jogar para a frente" só 7% de seus empréstimos externos, por meio de títulos, que venceram em outubro, mês das eleições. Os vencimentos somaram aproximadamente US$ 700 milhões, dos quais apenas US$ 49 milhões foram refinanciados.
O restante, ou seja, 93%, precisou ser efetivamente pago. Dólar caro e escasso atrapalhou os planos de pagamentos ou renegociação das empresas.

Resultado
Esse cenário fez com que as empresas passassem a colecionar endividamentos recordes em moeda estrangeira. Foi isso que, em parte, pressionou as receitas dos grupos e tornou minguados os lucros das empresas no fim do governo FHC. Não foi a única razão, mas a disparada na cotação ajudou a elevar os débitos.
Para dar idéia do tamanho da dívida que a indústria passou a carregar, basta analisar os balanços. O total de débitos dividido pelo patrimônio líquido disparou. Em 1994, primeiro ano do Real, essa taxa estava em 172%. Ou seja, de cada R$ 100 de patrimônio, as empresas deviam, em média R$ 172, segundo dados consolidados de 362 balanços de companhias. Em setembro de 2002 -mês em que foram publicados os mais recentes balancetes-, essa taxa atingiu 317,6%. Logo, de cada R$ 100, elas tinham de pagar R$ 317, segundo levantamento feito da Economática.

Menos dólar, mais reais
Traduzidos em cifras, os volumes das dívidas assustam. Em 1994, quando o dólar era vendido a R$ 0,865, as empresas deviam US$ 69,941 bilhões. Isso equivalia a R$ 60,498 bilhões. Agora, os dados dos balanços de setembro de 2002 mostram valores muito mais elevados. Naquele mês, as dívidas foram de US$ 47,922 bilhões. Em reais, esse montante hoje chega a R$ 180,6 bilhões. Isso por causa da perda de valor do real no ano.
A razão para o aumento é não só a disparada do dólar, como também a necessidade de as companhias se endividarem mais para realizar mais investimentos durante os anos do Real.
O fato de as dívidas financeiras dispararem não deve ser visto, necessariamente, como um sinal negativo. Só captam recursos no mercado as empresas que precisam realizar investimentos.
"Até 1993 a dívida das companhias era minúscula. E isso não era nada bom, porque ninguém aplicava recursos em nada. Agora mudou", diz Fernando Exel, presidente da Economática.


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