São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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TRABALHO

Taxa de desemprego passa de 4,3% para 7,7%; informalidade aumenta; PIB cresceu em torno de 2,5% ao ano, percentual não muito distante do registrado durante a chamada "década perdida", nos anos 80

Desemprego cresce; renda per capita sobe menos de 1% ao ano

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A deterioração do mercado de trabalho ganhou força no último ano de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. O baixo crescimento econômico dos últimos anos é apontado por economistas e pesquisadores da área como o principal responsável pelo fenômeno do desemprego crescente.
Os juros altos, a política cambial dos primeiros anos da era FHC e as privatizações aparecem como alimentadores do processo, na avaliação de especialistas.

DA REPORTAGEM LOCAL

Os anos FHC começaram em janeiro de 95 com uma taxa de desemprego de 4,3% da PEA -população economicamente ativa, o universo das pessoas que estão trabalhando ou procurando emprego- , segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
Em outubro deste ano, a taxa de desemprego alcançou, descontadas as variações sazonais, 7,7% da PEA, o maior nível desde fevereiro de 2000. "A sobrevalorização do câmbio, que durou até o início de 99, combinada com uma abertura pouco criteriosa às importações, maltratou grande parte da nossa indústria e impulsionou o desemprego", afirma Anselmo Luís dos Santos, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp.
O primeiro mandato de FHC foi marcado pelo Plano Real, que permitiu que a moeda doméstica se equiparasse ao dólar e, em alguns momentos, até a superasse. Isso favoreceu a forte entrada de produtos estrangeiros no país.
"Alguns setores não tiveram condições de concorrer com os importados e o resultado foi o fechamento de empresas e, consequentemente, de postos de trabalho", afirma Fábio Romão, economista da consultoria LCA.
Nos primeiros anos da era FHC, a taxa de desemprego oscilou próxima dos 5%. No final de 97, atingiria 6%. No início do segundo mandato de FHC, em janeiro de 99, a taxa de desemprego já era de 7,7%. O maior índice registrado, desde que o IBGE começou a pesquisa, em 82, foi em novembro de 99, quando chegou a 8%.
As taxas crescentes de desemprego não resultam apenas do fechamento de postos de trabalho. O problema é que o aumento das ocupações não tem acompanhado a necessidade de abertura de vagas para as pessoas que chegam ao mercado de trabalho.
"Com isso, temos visto o crescimento do emprego informal e temporário. Os encargos trabalhistas continuam muito elevados e esse é mais um fator de desestímulo para o surgimento de novas vagas", diz o diretor do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), Antônio Carlos Porto Gonçalves.
Entre 87 e 90, houve uma recuperação do emprego formal, após as altas taxas, no mesmo nível das mais recentes, registradas em 83 e 84. "O governo FHC não conseguiu chegar ao fim com uma recuperação do emprego. Pelo contrário, os últimos dados mostram o percentual de desocupados crescendo", diz Gonçalves.

Baixo investimento
A atuação do governo FHC no que se refere a políticas de emprego foi considerada insuficiente na avaliação de analistas do setor.
Trabalho apresentado recentemente pelo economista e secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da prefeitura de São Paulo, Marcio Pochmann, mostra que os gastos do governo não acompanharam a explosão do desemprego entre 95 e 2000.
Segundo o estudo -chamado "Desemprego e políticas de emprego no Brasil: o que precisa avançar"-, enquanto o desemprego cresceu 155% entre 95 e 2000, segundo pesquisa do IBGE, o volume de recursos para geração de emprego e assistência aos desempregados aumentou apenas 64,7%. Para Santos, o governo investiu pouco e de forma equivocada. "O governo deveria ter se preocupado mais com a criação de frentes de trabalho do que apenas em qualificar a mão-de-obra desempregada. O que temos hoje são pessoas mais qualificadas que seguem desocupadas."

Crescimento estagnado
O processo de desaceleração da economia brasileira persiste desde, pelo menos, o segundo trimestre do ano passado. O primeiro semestre deste ano foi especialmente desanimador. O PIB registrou crescimento de apenas 0,14%. Para o ano, as estimativas são de que o crescimento da economia fique em torno de 1,5%. "O governo FHC não conseguiu fazer o país crescer da forma necessária para poder propiciar uma melhora em pontos fundamentais como o mercado de trabalho", diz o professor da Unicamp.
A era FHC chega ao fim com um crescimento médio anual do PIB em torno de 2,5%, percentual não muito distante do registrado durante a chamada "década perdida", nos anos 80; a renda per capita cresceu cerca de 0,9% ao ano. Para analistas, o crescimento é pífio para o ritmo em que aumenta a população brasileira.
"O baixo crescimento manteve a renda per capita quase estagnada nos últimos anos. E esse último ano de governo FHC não foi diferente", afirma Romão.

Diferentes metodologias
Pelos dados da Ped (Pesquisa de Emprego e Desemprego), realizada pela Fundação Seade e o Dieese, o percentual de trabalhadores desempregados é bem maior que o registrado pelo IBGE.
Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, a Ped registrou uma taxa de desemprego de 19% no mês de outubro.
O IBGE mede apenas o desemprego aberto (pessoa que trabalhava, foi demitida ou pediu demissão, procura novo emprego e não acha). Já o levantamento do Dieese/Seade mede também o chamado "desemprego oculto por desalento", que é quando a pessoa procurou emprego nos últimos 12 meses, mas desanimou nos últimos 30 dias, e o desemprego oculto por trabalho precário, que se refere à pessoa que exerceu apenas um trabalho eventual nos últimos 30 dias. Com isso, as taxas do IBGE, consideradas oficiais, são menores do que as do Dieese/Seade.


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