São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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Reivindicações passaram do ataque para a defesa

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento do desemprego, o controle da inflação durante o Plano Real e as mudanças que ocorreram no mercado de trabalho enfraqueceram o movimento sindical, reduziram o número de greves no país e transformaram o conteúdo das pautas de negociação durante o governo FHC.
Enquanto nos anos 80 as paralisações buscavam a ampliação de direitos e a reposição de perdas salariais de mais de 100%, nos anos 90, os sindicatos saíram do ataque para a defesa. Mesmo as greves no setor público, marcadas por períodos de longa duração e apoio maciço do funcionalismo, tiveram como objetivo a manutenção de direitos trabalhistas e a defesa do emprego.
Levantamento do Dieese mostra que, entre 95 e 99, o número de greves no país diminuiu 52% -foram 1.056 contra 508. Nesse mesmo período, a taxa média de desemprego, por sua vez, aumentou de 4,6% para 7,6%, segundo dados da pesquisa mensal de emprego do IBGE.
"O desemprego foi um forte instrumento para reduzir e sufocar a ação sindical. Em 89, foram registradas 4.000 greves, enquanto na década seguinte a média anual foi de 500", diz Marcio Pochmann, secretário municipal do Trabalho de São Paulo.
As motivações dos grevistas também mudaram. Em 95, 49% das greves realizadas tinham como motivo principal reivindicações econômicas e 10% eram por emprego. Mas, quatro mais tarde, as paralisações por remuneração caíram para 37%, enquanto as pelo emprego subiram para 28%. O Dieese não tem, em seu banco de dados, informações referentes ao período de 2000 a 2002, mas informa que não houve inversão das tendências registradas até 99.
"O baixo crescimento econômico, o processo de reestruturação das empresas, com a introdução de novas tecnologias, e a guerra fiscal entre os Estados tiveram forte impacto na questão do desemprego e, portanto, na atuação sindical", diz Carlos Augusto Gonçalves, coordenador do Departamento de Estudos Sócio-Econômicos da CUT.
A primeira -e decisiva- queda de braço entre o governo FHC e o movimento sindical ocorreu em 95, com a greve dos petroleiros. A categoria parou para reivindicar o cumprimento de acordo coletivo assinado em 94. O governo mandou o Exército ocupar quatro refinarias da Petrobras para garantir a retomada da produção e evitar o desabastecimento. Depois de 30 dias de paralisação, a reivindicação dos sindicalistas não foi atendida, e os líderes da greve foram demitidos. A Justiça do Trabalho julgou o movimento abusivo e determinou multa de R$ 37,5 milhões aos sindicatos por descumprirem a sentença.
"O recado do governo foi claro: Exército e multa. Desde então, governo e patrões jogam duro com os sindicatos, e o resultado foi a desmobilização", diz o professor da USP Arnaldo Nogueira.
Para o Dieese, as greves e as negociações caminharam nos anos FHC para a descentralização. "As greves por categoria deram lugar as por empresa. E as negociações antes feitas por ramo deram lugar a acordos por empresa ou setor", diz Wilson Amorim, coordenador técnico do Dieese.


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