São Paulo, quinta-feira, 20 de setembro de 2001

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Sob risco de guerra civil, Paquistão anuncia colaboração com os EUA

Associated Press
Musharraf, presidente paquistanês, faz pronunciamento na TV


DA REDAÇÃO

O presidente do Paquistão, general Pervez Musharraf, disse em discurso que seu país -cuja população está dividida entre apoiar ou não os EUA em sua caçada a Osama bin Laden- havia decidido apoiar uma campanha internacional, liderada pelos EUA, para capturar o terrorista saudita.
Numa tentativa de evitar uma guerra civil num país que detém arsenal nuclear, Musharraf fez ontem na TV um pronunciamento no qual pediu aos paquistaneses que confiassem em sua decisão de ajudar os EUA.
"O Exército paquistanês e o povo paquistanês estão prontos para dar suas vidas pela segurança do país", disse Musharraf. Ele disse que os EUA haviam solicitado acesso ao espaço aéreo do país, ajuda para coletar informações de inteligência e apoio logístico.
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, elogiou Musharraf, dizendo que ele havia assumido uma "posição audaz" ao revelar à população que decidira apoiar os EUA.
Richard Boucher, porta-voz do Departamento de Estado, afirmou que o discurso "demonstra muito claramente que eles fizeram uma escolha, que estão conosco e com o resto do mundo nesta luta contra o terrorismo".
Mas convencer sua população a entrar em guerra contra o Afeganistão não será uma tarefa fácil para Musharraf, que tomou o poder em outubro de 1999 por meio de um golpe de Estado.

"Morte aos EUA"
Segundo uma pesquisa divulgada ontem pelos institutos de pesquisas Gallup e Taylor Nelson Sofres, se uma guerra fosse declarada entre os Estados Unidos e o Afeganistão, 63% dos paquistaneses disseram preferir se aliar aos afegãos, 27% a nenhum dos dois países, e apenas 7% declararam que gostariam de estar do lado dos norte-americanos.
Além disso, a área do Paquistão que faz fronteira com o Afeganistão foi palco de vários protestos e manifestações anti-americanas ontem.
Cerca de 1.500 pessoas marcharam em Peshawar, queimando uma bandeira americana enquanto gritavam "morte aos EUA!" e "Osama é nosso herói".
Líderes tribais na região noroeste do Paquistão também prometeram apoio ao Teleban caso os EUA decidam atacar o Afeganistão. Fortemente armados com equipamentos da época da ocupação soviética (1979-1989), os grupos nunca aceitaram a fronteira, desenhada em 1893 pelo britânico Mortimer Durand, que separa o Afeganistão e o Paquistão.
O Conselho de Defesa do Afeganistão e do Paquistão, uma influente aliança de partidos islâmicos, prometeu apoio ao Taleban e advertiu Musharraf ontem de que uma cooperação com os EUA na busca de Bin Laden poderia provocar uma guerra civil no país.
Maulana Sami-ul Haq, presidente do conselho, que reúne 35 grupos islâmicos, convocou uma greve amanhã em todo o país e uma manifestação em Lahore (capital da Província de Punjab) para iniciar um movimento de resistência à cooperação com os EUA.
Reino Unido, EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Alemanha recomendaram a seus cidadãos que deixassem o Paquistão e disseram estar removendo todos os seus funcionários diplomáticos "não essenciais" do país.

Caxemira
Na Caxemira, região disputada por Índia e Paquistão, cinco grupos rebeldes também prometeram apoiar o Taleban e defender Bin Laden contra ações militares dos EUA, e o grupo Dukhtaran-e-Millat disse em uma nota que "Osama governa os corações dos muçulmanos em todo o mundo".
O controle da Caxemira causou duas das três guerras já travadas entre Índia e Paquistão desde 1947, ano em que os dois países se tornaram independentes do Reino Unido. Hoje, dois terços do território estão sob domínio indiano, e o restante sob controle do Paquistão e da China.


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