São Paulo, quinta-feira, 20 de setembro de 2001

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COALIZÃO

Apoio à retaliação militar é parcial

Líderes políticos concordam em combater terrorismo, mas discordam sobre modo de agir

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, prometeram ontem "apoio inabalável" aos EUA em razão dos ataques que atingiram a Costa Leste do país na semana passada.
Já o ministro da Defesa francês, Alain Richard, afirmou que a resposta aos ataques suicidas requer uma estratégia de longo prazo e que uma ação conjunta deve envolver uma "coalizão mais abrangente" do que a da aliança militar ocidental (Otan), que, além dos EUA e do Canadá, engloba apenas 17 países europeus.
Anteontem, o presidente francês, Jacques Chirac, em visita oficial aos EUA, manifestou a solidariedade dos franceses aos americanos, entretanto evitou o uso do termo "guerra". Com isso, indicou que o apoio francês a um ataque militar americano para punir os supostos autores dos atentados suicidas é incerto.
"Passado o choque inicial, Washington terá grande dificuldade em conseguir a aprovação dos países europeus a um ataque maciço a qualquer país, sobretudo se não houver provas concretas que incriminem um Estado-nação. O Reino Unido será o único país europeu que apoiará incondicionalmente qualquer ação americana", analisou para a Folha Anne-Marie Le Gloannec, diretora-adjunta do Centro Marc Bloch, um instituto de pesquisas franco-alemão.
"Ademais, alemães e franceses são majoritariamente contrários a um ataque militar violento dos EUA, pois isso provocaria a morte de mais civis inocentes. Na França e na Alemanha, a opinião pública jamais será negligenciada pelos líderes políticos. Afinal, os dois países têm eleições cruciais no ano que vem", acrescentou.
Blair, que estava em Berlim para garantir a anuência alemã às ações americanas, disse ter certeza de que a coalizão internacional antiterrorismo contará com países árabes e islâmicos. Indubitavelmente, nenhum país ousará defender abertamente atos terroristas, porém, se a reação americana envolver um ataque militar maciço a um desses países, como o Afeganistão, dificilmente seus líderes colocarão em risco seu poder interno para apoiar os EUA.
No Oriente Médio, os atentados suicidas provocaram mais incertezas. De positivo, apenas o cessar-fogo acordado anteontem que, apesar de enfrentamentos isolados, foi respeitado ontem.
"Os israelenses temem que, agora, Washington pense que pagou um preço alto demais por seu apoio a Israel. Já os palestinos receiam que o choque causado pelos ataques suicidas possa desencadear um sentimento antiárabe nos EUA e consolidar o amparo do país a Israel", explicou Shibley Telhami, do Instituto Brookings.
China e Rússia disseram estar dispostas a tomar parte numa iniciativa internacional contra o terrorismo, contudo salientaram que ela deve ocorrer sob a égide da ONU. "Os EUA jamais aceitarão que a ONU lidere a iniciativa, pois Washington não tem controle sobre a organização", afirmou Robert Rotberg, presidente da Fundação para a Paz Mundial.
O chanceler russo, Igor Ivanov, reuniu-se com o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, para analisar o modo como os dois países poderão colaborar na ação contra o terror. Embora tenham chamado a reunião de "positiva", eles não disseram que tinham chegado a conclusões que previssem planos de ação concreta.
"A Rússia enfrenta o problema tchetcheno. A luta contra o terrorismo é uma boa desculpa para legitimar suas medidas contra os tchetchenos, que, para Moscou, são terroristas", apontou Rotberg.
O governo chinês se preocupa com o efeito que uma eventual ofensiva militar contra o Afeganistão, que abriga o principal suspeito de ter orquestrado os atentados, o milionário saudita e líder terrorista Osama bin Laden, possa ter sobre a região.
"A China opõe-se firmemente a todos os tipos de terrorismo, mas é necessário enfrentar o problema tendo em mente o impacto na região e os interesses da paz e do desenvolvimento do mundo", afirmou o presidente Jiang Zemin.


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