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COALIZÃO
Apoio à retaliação militar é parcial
Líderes políticos concordam em combater terrorismo, mas discordam sobre modo de agir
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O chanceler (premiê) alemão,
Gerhard Schröder, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair,
prometeram ontem "apoio inabalável" aos EUA em razão dos
ataques que atingiram a Costa
Leste do país na semana passada.
Já o ministro da Defesa francês,
Alain Richard, afirmou que a resposta aos ataques suicidas requer
uma estratégia de longo prazo e
que uma ação conjunta deve envolver uma "coalizão mais abrangente" do que a da aliança militar
ocidental (Otan), que, além dos
EUA e do Canadá, engloba apenas 17 países europeus.
Anteontem, o presidente francês, Jacques Chirac, em visita oficial aos EUA, manifestou a solidariedade dos franceses aos americanos, entretanto evitou o uso do
termo "guerra". Com isso, indicou que o apoio francês a um ataque militar americano para punir
os supostos autores dos atentados
suicidas é incerto.
"Passado o choque inicial, Washington terá grande dificuldade
em conseguir a aprovação dos
países europeus a um ataque maciço a qualquer país, sobretudo se
não houver provas concretas que
incriminem um Estado-nação. O
Reino Unido será o único país europeu que apoiará incondicionalmente qualquer ação americana",
analisou para a Folha Anne-Marie Le Gloannec, diretora-adjunta
do Centro Marc Bloch, um instituto de pesquisas franco-alemão.
"Ademais, alemães e franceses
são majoritariamente contrários a
um ataque militar violento dos
EUA, pois isso provocaria a morte
de mais civis inocentes. Na França
e na Alemanha, a opinião pública
jamais será negligenciada pelos líderes políticos. Afinal, os dois países têm eleições cruciais no ano
que vem", acrescentou.
Blair, que estava em Berlim para
garantir a anuência alemã às
ações americanas, disse ter certeza de que a coalizão internacional
antiterrorismo contará com países árabes e islâmicos. Indubitavelmente, nenhum país ousará
defender abertamente atos terroristas, porém, se a reação americana envolver um ataque militar
maciço a um desses países, como
o Afeganistão, dificilmente seus
líderes colocarão em risco seu poder interno para apoiar os EUA.
No Oriente Médio, os atentados
suicidas provocaram mais incertezas. De positivo, apenas o cessar-fogo acordado anteontem
que, apesar de enfrentamentos
isolados, foi respeitado ontem.
"Os israelenses temem que,
agora, Washington pense que pagou um preço alto demais por seu
apoio a Israel. Já os palestinos receiam que o choque causado pelos ataques suicidas possa desencadear um sentimento antiárabe
nos EUA e consolidar o amparo
do país a Israel", explicou Shibley
Telhami, do Instituto Brookings.
China e Rússia disseram estar
dispostas a tomar parte numa iniciativa internacional contra o terrorismo, contudo salientaram
que ela deve ocorrer sob a égide
da ONU. "Os EUA jamais aceitarão que a ONU lidere a iniciativa,
pois Washington não tem controle sobre a organização", afirmou
Robert Rotberg, presidente da
Fundação para a Paz Mundial.
O chanceler russo, Igor Ivanov,
reuniu-se com o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, para
analisar o modo como os dois países poderão colaborar na ação
contra o terror. Embora tenham
chamado a reunião de "positiva",
eles não disseram que tinham
chegado a conclusões que previssem planos de ação concreta.
"A Rússia enfrenta o problema
tchetcheno. A luta contra o terrorismo é uma boa desculpa para legitimar suas medidas contra os
tchetchenos, que, para Moscou,
são terroristas", apontou Rotberg.
O governo chinês se preocupa
com o efeito que uma eventual
ofensiva militar contra o Afeganistão, que abriga o principal suspeito de ter orquestrado os atentados, o milionário saudita e líder
terrorista Osama bin Laden, possa ter sobre a região.
"A China opõe-se firmemente a
todos os tipos de terrorismo, mas
é necessário enfrentar o problema
tendo em mente o impacto na região e os interesses da paz e do desenvolvimento do mundo", afirmou o presidente Jiang Zemin.
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