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Discurso foi chamado a esforço coletivo
Americano deve "deixar coisas infantis" na "era da responsabilidade", diz Obama
Primeira medida do novo governo ordena revisão de regulações de Bush; reunião das equipes de Defesa e economia acontece hoje
DE WASHINGTON
Houve poucos e precisos
aplausos entre as centenas de
milhares de pessoas reunidas
em frente ao Capitólio para ouvir o discurso de posse feito por
Barack Obama. Quase não se
ouviu "Obama! Obama!" e apenas no final ensaiou-se um
"Yes, we can!" (sim, nós podemos), o slogan do democrata.
O frio pode ter sido um dos
motivos -fazia 3ºC graus negativos, com sensação térmica de
-10ºC. O mais provável, no entanto, é que pela primeira vez
em muitos anos um mandatário americano trata seu povo
como adulto. O juramento, que
Obama disse que "de quando
em quando é feito em meio a
nuvens acumuladas e tempestades assoladoras", como ontem, soou mais como uma
bronca bem dada do que a habitual promessa de redenção.
"Nossa economia está gravemente enfraquecida, consequência da cobiça e irresponsabilidade da parte de alguns",
disse. "Mas também de nosso
fracasso coletivo em fazer escolhas difíceis e preparar o país
para uma nova era." Esse tom
de morde-assopra dominaria
também a porção de política
externa da fala, de 19 minutos
-curta, se comparada a discursos obamistas anteriores.
"Continuamos a ser um país
jovem, mas, nas palavras da Bíblia, é chegada a hora de deixar
de lado as coisas infantis", disse, citando uma passagem da
primeira epístola de são Paulo
aos Coríntios, do Novo Testamento -Obama mencionaria
Deus em três momentos da fala, mas, pela primeira vez num
texto do tipo, reconheceu o que
chamou de "não crentes" entre
os que compõem o país.
Um país adulto, que inaugura
o que ele chamou de "nova era
de responsabilidade": "O reconhecimento, de parte de cada
americano, de que temos deveres para conosco, para com
nosso país e para com o mundo,
deveres que não aceitamos a
contragosto, mas que agarramos com alegria".
A grave crise econômica por
que passa o país dominou a
maior parte do texto. "Residências foram perdidas, empregos
desapareceram, empresas foram fechadas", elencou. Esses,
segundo ele, são os indicativos
da crise. Menos mensurável,
mas não menos profundo, afirmou, "é o enfraquecimento da
confiança verificado em todo
nosso país, um medo angustiante de que o declínio seja
inevitável e de que a próxima
geração seja obrigada a reduzir
suas expectativas".
Para que isso não ocorra, pediu, é preciso reconstruir o
país: "Começando hoje, precisamos nos reerguer, esfregar
nossas mãos e começar novamente o trabalho de reconstruir a América". Obama volta
ao tema que tem marcado suas
intervenções sobre o assunto: a
crise econômica é também
oportunidade para mudar setores atrasados do país.
Se isso exigir mais governo,
uma das críticas que vem sendo
feita aos planos obamistas, que
assim seja, respondeu o democrata, para então dar uma estocada num antecessor republicano. Disse que a pergunta a ser
feita não é "se nosso governo é
grande ou pequeno demais,
mas se funciona". Ronald Reagan (1981-1989) criticara a presença excessiva do Estado em
seus dois discursos inaugurais.
Primeiras medidas
Encerrado o discurso, o novo
presidente participou de almoço no Congresso e seguiu em
desfile para a Casa Branca,
acompanhado da mulher, Michelle. Entrou na sede do Executivo americano no fim da tarde, para uma breve reunião. À
noite, participaria de dez bailes
presidenciais.
Ainda à tarde, seu chefe de
gabinete, Rahm Emanuel, assinou memorando enviado a todas as agências e departamentos do governo interrompendo
todas as regulações pendentes
aprovadas por George W. Bush
até que sejam revistas pela nova administração.
Hoje, além de participar de
evento religioso, o novo presidente realiza sua primeira reunião com o gabinete de Defesa e
Segurança Nacional e com o time econômico. Na pauta, o pacote de US$ 825 bilhões de estímulo econômico ainda pendente no Congresso, Iraque e
Afeganistão.
(SÉRGIO DÁVILA)
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