São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

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Discurso foi chamado a esforço coletivo

Americano deve "deixar coisas infantis" na "era da responsabilidade", diz Obama

Primeira medida do novo governo ordena revisão de regulações de Bush; reunião das equipes de Defesa e economia acontece hoje


DE WASHINGTON

Houve poucos e precisos aplausos entre as centenas de milhares de pessoas reunidas em frente ao Capitólio para ouvir o discurso de posse feito por Barack Obama. Quase não se ouviu "Obama! Obama!" e apenas no final ensaiou-se um "Yes, we can!" (sim, nós podemos), o slogan do democrata.
O frio pode ter sido um dos motivos -fazia 3ºC graus negativos, com sensação térmica de -10ºC. O mais provável, no entanto, é que pela primeira vez em muitos anos um mandatário americano trata seu povo como adulto. O juramento, que Obama disse que "de quando em quando é feito em meio a nuvens acumuladas e tempestades assoladoras", como ontem, soou mais como uma bronca bem dada do que a habitual promessa de redenção.
"Nossa economia está gravemente enfraquecida, consequência da cobiça e irresponsabilidade da parte de alguns", disse. "Mas também de nosso fracasso coletivo em fazer escolhas difíceis e preparar o país para uma nova era." Esse tom de morde-assopra dominaria também a porção de política externa da fala, de 19 minutos -curta, se comparada a discursos obamistas anteriores.
"Continuamos a ser um país jovem, mas, nas palavras da Bíblia, é chegada a hora de deixar de lado as coisas infantis", disse, citando uma passagem da primeira epístola de são Paulo aos Coríntios, do Novo Testamento -Obama mencionaria Deus em três momentos da fala, mas, pela primeira vez num texto do tipo, reconheceu o que chamou de "não crentes" entre os que compõem o país.
Um país adulto, que inaugura o que ele chamou de "nova era de responsabilidade": "O reconhecimento, de parte de cada americano, de que temos deveres para conosco, para com nosso país e para com o mundo, deveres que não aceitamos a contragosto, mas que agarramos com alegria".
A grave crise econômica por que passa o país dominou a maior parte do texto. "Residências foram perdidas, empregos desapareceram, empresas foram fechadas", elencou. Esses, segundo ele, são os indicativos da crise. Menos mensurável, mas não menos profundo, afirmou, "é o enfraquecimento da confiança verificado em todo nosso país, um medo angustiante de que o declínio seja inevitável e de que a próxima geração seja obrigada a reduzir suas expectativas".
Para que isso não ocorra, pediu, é preciso reconstruir o país: "Começando hoje, precisamos nos reerguer, esfregar nossas mãos e começar novamente o trabalho de reconstruir a América". Obama volta ao tema que tem marcado suas intervenções sobre o assunto: a crise econômica é também oportunidade para mudar setores atrasados do país.
Se isso exigir mais governo, uma das críticas que vem sendo feita aos planos obamistas, que assim seja, respondeu o democrata, para então dar uma estocada num antecessor republicano. Disse que a pergunta a ser feita não é "se nosso governo é grande ou pequeno demais, mas se funciona". Ronald Reagan (1981-1989) criticara a presença excessiva do Estado em seus dois discursos inaugurais.

Primeiras medidas
Encerrado o discurso, o novo presidente participou de almoço no Congresso e seguiu em desfile para a Casa Branca, acompanhado da mulher, Michelle. Entrou na sede do Executivo americano no fim da tarde, para uma breve reunião. À noite, participaria de dez bailes presidenciais.
Ainda à tarde, seu chefe de gabinete, Rahm Emanuel, assinou memorando enviado a todas as agências e departamentos do governo interrompendo todas as regulações pendentes aprovadas por George W. Bush até que sejam revistas pela nova administração.
Hoje, além de participar de evento religioso, o novo presidente realiza sua primeira reunião com o gabinete de Defesa e Segurança Nacional e com o time econômico. Na pauta, o pacote de US$ 825 bilhões de estímulo econômico ainda pendente no Congresso, Iraque e Afeganistão. (SÉRGIO DÁVILA)


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