São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

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A pé, Obama desfila para multidão recorde

Sob frio de -3C, 1,8 milhão de pessoas se aglomeram para ver novo presidente

Euforia e alta expectativa tomam a plateia diversa, mas críticos também se manifestam questionando novidade que governo trará


Doug Mills/"The New York Times"/Pool
Barack e Michelle Obama caminham pela avenida Pensilvânia após a posse, rumo à Casa Branca

DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O público recorde para uma posse presidencial nos EUA (1,8 milhão, segundo a polícia local) cercava o Capitólio ontem como se estivesse em romaria. A passos lentos no frio de -3C (e sensação térmica de -11C, pelo vento), americanos exibiam em cartazes e camisetas frases de fé no homem de 47 anos que personifica esperança para resolver os problemas da nação, sobretudo econômicos.
A euforia explodiu em gritos e aplausos quando Obama chegou mais perto do povo no tradicional desfile da posse, na avenida Pensilvânia, no circuito Capitólio-Casa Branca (de cerca de 3 km). Por volta das 19h, no horário de Brasília, ele e a mulher, Michelle, desceram da limusine blindada e seguiram a pé por dois quarteirões.
Acenaram para o público (300 mil pessoas em todo o trecho) e depois voltaram ao carro. Mais tarde, desceram de novo, sempre caminhando em áreas liberadas pelo serviço secreto por serem isoladas por prédios federais -fechados ontem-, onde, em tese, não poderiam ser atingidos por tiros.
Ao final do trecho, Obama subiu ao palco cercado de vidro blindado, para ver o restante do desfile passar. Caminhavam por ali cerca de 12 mil pessoas, de mais de 90 grupos -musicais, patrióticos, assistencialistas, tribos indígenas e outros.
Sob o mar de bandeirinhas ao redor dos eventos da posse, outro, de embalagens de comida e bebida, se arrastava aos pés da multidão. Em frente a vários dos 5.000 banheiros químicos havia filas longas.
Posses presidenciais nunca haviam superado 1,2 milhão de pessoas (com Lyndon Johnson, em 1965), mas o recorde de Obama ficou aquém das projeções, que previam o dobro ou o triplo. Foi o suficiente, ainda assim, para que estações de metrô ficassem congestionadas e tivessem o funcionamento interrompido em pontos críticos.

Mãos sujas
Nada era problema para Zaneta White, 34, eufórica entre bandeirinhas americanas de papel. "A Guerra do Iraque e a crise econômica serão resolvidas. Se os EUA são o melhor país do mundo mesmo com políticos comprometidos com negociatas e interesses de empresários, imagine aonde chegaremos com Obama, cujas mãos não são sujas", dizia, a despeito das conhecidas ligações do presidente com lobistas.
Em meio à festa obamista, ativistas tentavam divulgar sua mensagem, às vezes contrárias ao presidente. "Esse sentimento de mudança é ridículo. Obama vai aumentar as tropas do Afeganistão e matará mais gente, ele não é o cara ótimo que todos pensam", dizia Carl Diz, presidente do Partido Comunista Revolucionário, nos arredores do Capitólio. Estar ali não era fácil. "Adoram Obama e ficam me tentando, me mandam sair do país, ir para a América do Sul, para a Venezuela.
Ainda não saí no braço com ninguém, mas não falta muito."
Para a noite, estavam previstos bailes oficiais para celebrar a posse, com a presença do presidente. A brasileira Claudia Cody, ligada ao Partido Democrata no Estado de Minnesota, se preparava para participar de um deles. "Tenho de chegar três horas antes. De manhã, no juramento, mesmo gente que tinha ingresso especial, como eu, ficou de fora. Não posso correr o risco", disse ela à Folha.


Leia página especial Obama presidente
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