|
Texto Anterior | Índice
Maioria não garante vida fácil no Congresso
Senadores adiam aprovação de Hillary para secretária de Estado por suposto conflito de interesse com Fundação Clinton
Aprovação de pacote de
estímulo fiscal é o primeiro
desafio; aceno ao centro
pode atrair republicanos,
mas afastar esquerdistas
DA ENVIADA A WASHINGTON
Por ele chegar à Presidência
com popularidade recorde e
confortável maioria democrata
no Congresso, a expectativa popular é que o presidente Barack
Obama aproveite longo período de lua-de-mel política nos
EUA. Mas há sinais de que a relação entre a Casa Branca e o
Capitólio poderá ser menos
suave do que se supunha.
Os democratas no Congresso
estão divididos em várias facções, o que não surpreende dada a magnitude da maioria. O
Senado tem 58 democratas e 41
republicanos (a centésima vaga, que seria do democrata Al
Franken, ainda é disputada judicialmente pelo Partido Republicano). A Câmara dos Representantes (deputados) tem 257
democratas e 178 republicanos.
Vários são significativamente conservadores na área social
e em políticas fiscais. Há uma
relativamente pequena ala
mais esquerdista, composta
por nomes como o do senador
Russ Feingold (Wisconsin) e do
deputado Dennis Kucinich
(Ohio). E também há progressistas mais moderados.
Para manter a coalizão unida, o grupo deverá dar guinada
ao centro. As lideranças serão
fundamentais nesse processo.
"Muito do que Obama quer alcançar depende de como os líderes da Câmara [Nancy Pelosi] e do Senado [Harry Reid]
poderão controlar suas maiorias", disse à Folha Adam
Sheingate, professor de política
americana da Universidade
Johns Hopkins. O Senado, apesar de menor, pode ser mais
complicado. "Reid não é muito
poderoso, até porque a liderança do Senado, pelas regras, não
tem tanto controle sobre os legisladores."
Na economia, primeira prioridade do novo governo, o presidente mostrou que pretende
buscar o apoio a partir do centro, na esperança de conquistar
votos de progressistas mas
também dos republicanos, à direita do espectro. "Isso provavelmente vai funcionar por algum tempo", disse à Folha Alexander Keyssar, analista político da Universidade Harvard.
"Até porque ninguém saber o
que fazer, e as antigas configurações ideológicas estão rompidas ou desacreditadas."
Mas mesmo na área econômica a tarefa não é simples. O
presidente diz que quer a aprovação de um pacote de estímulo bilionário antes de 13 de fevereiro, o que colegas de partido como deputado James Moran, de centro, dizem ser inviável. Os democratas pretendem
também imprimir marcas próprias no pacote.
O mesmo parece ocorrer
com os impostos sobre fortunas que foram cortados no governo de George W. Bush. Obama sinalizou após eleito que
poderá, em vez de reverter os
cortes, deixar a anistia expirar
em 2011; mas a presidente da
Câmara, Nancy Pelosi, disse
discordar e pretende tentar
restabelecer os cortes.
Na reforma do sistema de
saúde, o desafio será maior. Para Keyssar, Obama "terá de
deixar o setor privado muito
ativo" para que a oposição não
derrube um plano de universalizar o atendimento. Mas isso
poderá alienar os mais esquerdistas, que favorecem uma
atuação federal mais forte.
Fundação Clinton
A confirmação da senadora
Hillary Clinton para o cargo de
secretária de Estado foi adiada
ontem por pelo menos um dia
por colegas republicanos, que
apontam conflitos de interesse
por supostas remessas feitas
por doadores estrangeiros à
Fundação Clinton, dirigida pelo marido e ex-presidente Bill.
Depois da posse, o Senado
aprovou por unanimidade a indicação de outros sete secretários do gabinete de Obama.
(ANDREA MURTA)
Texto Anterior: Bênçãos de pastores dão tom religioso a posse Índice
|