São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

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Maioria não garante vida fácil no Congresso

Senadores adiam aprovação de Hillary para secretária de Estado por suposto conflito de interesse com Fundação Clinton

Aprovação de pacote de estímulo fiscal é o primeiro desafio; aceno ao centro pode atrair republicanos, mas afastar esquerdistas


DA ENVIADA A WASHINGTON

Por ele chegar à Presidência com popularidade recorde e confortável maioria democrata no Congresso, a expectativa popular é que o presidente Barack Obama aproveite longo período de lua-de-mel política nos EUA. Mas há sinais de que a relação entre a Casa Branca e o Capitólio poderá ser menos suave do que se supunha.
Os democratas no Congresso estão divididos em várias facções, o que não surpreende dada a magnitude da maioria. O Senado tem 58 democratas e 41 republicanos (a centésima vaga, que seria do democrata Al Franken, ainda é disputada judicialmente pelo Partido Republicano). A Câmara dos Representantes (deputados) tem 257 democratas e 178 republicanos.
Vários são significativamente conservadores na área social e em políticas fiscais. Há uma relativamente pequena ala mais esquerdista, composta por nomes como o do senador Russ Feingold (Wisconsin) e do deputado Dennis Kucinich (Ohio). E também há progressistas mais moderados.
Para manter a coalizão unida, o grupo deverá dar guinada ao centro. As lideranças serão fundamentais nesse processo. "Muito do que Obama quer alcançar depende de como os líderes da Câmara [Nancy Pelosi] e do Senado [Harry Reid] poderão controlar suas maiorias", disse à Folha Adam Sheingate, professor de política americana da Universidade Johns Hopkins. O Senado, apesar de menor, pode ser mais complicado. "Reid não é muito poderoso, até porque a liderança do Senado, pelas regras, não tem tanto controle sobre os legisladores."
Na economia, primeira prioridade do novo governo, o presidente mostrou que pretende buscar o apoio a partir do centro, na esperança de conquistar votos de progressistas mas também dos republicanos, à direita do espectro. "Isso provavelmente vai funcionar por algum tempo", disse à Folha Alexander Keyssar, analista político da Universidade Harvard. "Até porque ninguém saber o que fazer, e as antigas configurações ideológicas estão rompidas ou desacreditadas."
Mas mesmo na área econômica a tarefa não é simples. O presidente diz que quer a aprovação de um pacote de estímulo bilionário antes de 13 de fevereiro, o que colegas de partido como deputado James Moran, de centro, dizem ser inviável. Os democratas pretendem também imprimir marcas próprias no pacote.
O mesmo parece ocorrer com os impostos sobre fortunas que foram cortados no governo de George W. Bush. Obama sinalizou após eleito que poderá, em vez de reverter os cortes, deixar a anistia expirar em 2011; mas a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, disse discordar e pretende tentar restabelecer os cortes.
Na reforma do sistema de saúde, o desafio será maior. Para Keyssar, Obama "terá de deixar o setor privado muito ativo" para que a oposição não derrube um plano de universalizar o atendimento. Mas isso poderá alienar os mais esquerdistas, que favorecem uma atuação federal mais forte.

Fundação Clinton
A confirmação da senadora Hillary Clinton para o cargo de secretária de Estado foi adiada ontem por pelo menos um dia por colegas republicanos, que apontam conflitos de interesse por supostas remessas feitas por doadores estrangeiros à Fundação Clinton, dirigida pelo marido e ex-presidente Bill.
Depois da posse, o Senado aprovou por unanimidade a indicação de outros sete secretários do gabinete de Obama.
(ANDREA MURTA)


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