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Bênçãos de pastores dão tom religioso a posse
ERNANE GUIMARÃES NETO
DA REDAÇÃO
Barack Hussein Obama crê
em Deus -ou pelo menos no
apoio dos religiosos a seu governo. No discurso de posse de
ontem, o presidente dos EUA
definiu o país como "nação de
cristãos e muçulmanos, judeus
e hindus -e não crentes" e encerrou sua fala desejando que
"a graça de Deus" guie as ações
dos norte-americanos.
Antes de falar, porém, assistiu a uma bênção do pastor
Rick Warren, polêmico por sua
militância contra a união de
homossexuais. Depois de discursar, houve outra, a cargo do
reverendo Joseph Lowery, antigo colega de igreja de Martin
Luther King.
"Obama precisa do aval do
país, vai ter dificuldades para
passar medidas econômicas
com os congressistas republicanos", lembra Roberto Romano, professor de ética e filosofia
política na Unicamp. Para Romano, a religião já foi usada como escudo contra a pressão sofrida na campanha, quando
Obama era associado à impopular posição pró-aborto.
Kenneth Serbin, professor de
história na Universidade de
San Diego e autor de "Padres,
Celibato e Conflito Social"
(Companhia das Letras), acrescenta: "Obama lembra à população a tradição de tolerância,
ao mesmo tempo apelando para a unidade nacional. Ele seria
uma combinação dessas duas
tendências: não vai esconder
sua religiosidade vai e usar o
discurso público religioso para
reanimar o país".
Para Serbin, mais do que as
palavras, o tom na cerimônia de
ontem foi religioso. "Toda a
posse lembra a luta de Luther
King, grande pregador. Obama
quis levantar o ânimo do povo."
Serbin não vê motivo para
preocupação quanto à mistura
de política e religião nos EUA:
"Ter um Estado laico é justamente o que permite que se utilize o discurso religioso: ninguém tem medo que a religião
se apodere do Poder Público".
Antônio Flávio Pierucci, professor de sociologia na USP,
acrescenta: "Pode parecer paradoxal, mas a separação de
igreja e Estado é feita em respeito à religião. A religião pode
fazer o que quiser, contanto
que não seja ilegal".
Pierucci também vê o apelo
religioso de Obama como estratégia para os que ainda resistem ao presidente. "Ele tem o
nome árabe, não pode vacilar."
Mas o tom de pregação incomoda Roberto Romano: "O que
me deixa escandalizado é o fato
de Obama aceitar essa quase
passagem de líder político para
messias. Colocam sobre ele o
papel de grande salvador da
economia, ele é o Moisés que
veio nos livrar do racismo".
"Os fundadores do Estado
quiseram separar fundamentalmente: uma coisa é a administração do Estado, outra é a
religião. Estamos num momento ambíguo desse trato",
conclui Romano.
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