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Assexuados num país sensual
Grupo começa a dar as caras no país; desinteresse só é distúrbio quando gera sofrimento
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles também começam a sair
do armário. De um armário
comportadíssimo. Autodenominados "assexuais", homens e
mulheres têm usado a internet
para defender a liberdade de,
simplesmente, não fazer sexo.
"Lutei muito tempo para
aceitar minha assexualidade,
até entender que isso não é um
problema", afirma o britânico
David Jay, um dos primeiros a
levantar a bandeira do "Sexo?
Tô nem aí". Ele criou no seu
país uma rede para a "visibilidade dos assexuais".
Do lado de cá, Júlio Timóteo
Neto, 18, tentou repetir a ideia,
sem sucesso. Criador do blog
"Assexuados - você não está sozinho", diz que os visitantes
têm medo de se identificar. "O
brasileiro fala tanto de sexo que
quem não liga para isso parece
um E.T." Dono de uma loja de
informática no Grande Recife,
Neto é virgem e diz ter uma vida normal. Diferente é o fato de
ele não se sentir seduzido pelos
corpos que sol e praia deixam
visíveis. "Zero. Não vejo graça."
Ele não disfarçou a alegria ao
saber que, segundo o Datafolha,
5% dos rapazes de 18 a 24 anos
declaram não ter interesse em
sexo. "Tá vendo?"
Os números também consolaram a auxiliar administrativa
Eva Nilda, 42. Ao saber que 11%
das mulheres na sua faixa etária disseram não ter interesse
em sexo, arriscou: "Deve ser
normal, né?" Nilda manteve-se
virgem até os 39 anos. Como
sonha ter um filho, resolveu,
mesmo sem vontade, transar
com um namorado. "Forcei a
barra e me arrependi. Estou casada, mas não gosto de sexo."
Ela foi ao projeto Afrodite, da
Unifesp, onde são oferecidos
tratamento hormonal e psicoterapia para mulheres que não
conseguem sentir prazer. "É
comum que o desinteresse sexual gere problemas afetivos,
até porque vivemos a ditadura
do orgasmo", diz a ginecologista Carolina Ambrogini, coordenadora do Afrodite. "Mas nem
sempre há um distúrbio."
Entre os psiquiatras, a linha
que delimita distúrbio e jeito
de ser é riscada sem curvas.
"Desinteresse só deve ser tratado quando desperta uma neurose", diz o psiquiatra Aderbal
Vieira Jr., especialista em compulsivos sexuais. "Falta de sexo, como excesso, só é problema quando gera sofrimento. Se
a pessoa sem desejo sexual se
sente bem, vai ao cinema, segue
a vida, tudo bem." O que a psiquiatria trata é o transtorno do
desejo sexual hipoativo, originado na depressão ou no desequilíbrio hormonal.
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