São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010

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Em lugar público é melhor?

Contar a própria fantasia significa revelar algo muito oculto, que vai contra a autoimagem, daí a resistência da maioria

DÉBORA YURI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sexo em cima de uma Ferrari. Sentado em uma biblioteca pública. Com o fantasma de Elvis. Com todo mundo do escritório. Com trigêmeas bissexuais ninfomaníacas e, ao lado, teria uma pizzaria, para quando desse fome.
Mais de 25 mil britânicos falaram sobre suas fantasias sexuais ao psicanalista inglês Brett Kahr, por sete anos. A pesquisa está no livro "O Sexo e a Psique" (Best Seller), em que ele analisa cerca de mil dessas historinhas coletadas no divã.
"Os ocidentais se sentem cada vez mais confortáveis para falar de sexo, mas superficialmente. A maioria reluta em falar de suas fantasias, até mesmo no consultório. É tabu", disse Kahr, em entrevista à Folha.
Por aqui, entre as opções de fantasias apresentadas aos entrevistados, a campeã é transar em locais públicos abertos, assumida por 35%, empatada com transar em locais públicos fechados (34%). A maioria dos homens brasileiros fantasia com duas ou mais mulheres. Já a principal fantasia revelada por elas é transar amarrada, vendada ou amordaçada.
Mas a maioria nega ter qualquer dos devaneios sexuais apresentados na pesquisa. "Como a fantasia tem uma dimensão inconsciente, muita gente não sabe reconhecer o que seria uma", diz o psiquiatra Joel Birman, professor da UFRJ. "Leva tempo para alguém compartilhar sua vida sexual mais íntima com o analista. Mesmo entre amantes, é demorado."
"A fantasia revela quem o sujeito é", continua Birman. "As pessoas falam sobre comportamento sexual, mas não sobre a maneira como realmente sentem desejo e como gozam. Isso é muito definidor de um indivíduo, é o segredo que se guarda mais profundamente", diz.

Café e baunilha
"Temos 50 anos de revolução sexual. É pouco tempo para lidar naturalmente com o sexo", diz o psicoterapeuta Ari Rehfeld, professor da PUC-SP. "Quem vive o sexo de um jeito mais solto, livre e frequente se permite fantasiar mais do que quem vive o café com leite de uma vez por semana."
Na definição de Brett Kahr, algumas fantasias são "baunilha" (do tipo comum, que se conta na mesa, como "transar com Angelina Jolie vestida de couro"). Outras revelam o que há de obscuro na mente, contradizem a imagem que a pessoa quer passar de si mesma.
"Os temas podem ser gerais, como lesbianismo ou sexo grupal, mas cada um fantasia com detalhes precisos e individuais", diz Kahr.
A fantasia de 90% dos britânicos envolve traição, quando são casados ou têm relação estável; 11% deles adorariam atuar num filme pornográfico e 31% dos homens adultos já fantasiaram com adolescentes. O que mais impressionou Kahr foi o fato de quase a metade das fantasias incluir componentes de dor, vergonha, humilhação, masoquismo ou sadismo.
"A mais comum inclui algum elemento de agressão primitiva. A fantasia é um dos únicos espaços da mente em que um ser humano pode explorar sua agressividade com relativa impunidade", diz Kahr. Ele não verificou grandes diferenças entre homens e mulheres. "Muitos acham que mulheres fantasiam de um jeito romântico, mas a maioria se excita com sexo rude, brutal e punitivo."


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