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Em lugar público é melhor?
Contar a própria fantasia significa revelar algo muito oculto, que
vai contra a autoimagem, daí a resistência da maioria
DÉBORA YURI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Sexo em cima de uma Ferrari. Sentado em uma biblioteca
pública. Com o fantasma de Elvis. Com todo mundo do escritório. Com trigêmeas bissexuais ninfomaníacas e, ao lado,
teria uma pizzaria, para quando
desse fome.
Mais de 25 mil britânicos falaram sobre suas fantasias sexuais ao psicanalista inglês
Brett Kahr, por sete anos. A
pesquisa está no livro "O Sexo e
a Psique" (Best Seller), em que
ele analisa cerca de mil dessas
historinhas coletadas no divã.
"Os ocidentais se sentem cada vez mais confortáveis para
falar de sexo, mas superficialmente. A maioria reluta em falar de suas fantasias, até mesmo no consultório. É tabu", disse Kahr, em entrevista à Folha.
Por aqui, entre as opções de
fantasias apresentadas aos entrevistados, a campeã é transar
em locais públicos abertos, assumida por 35%, empatada
com transar em locais públicos
fechados (34%). A maioria dos
homens brasileiros fantasia
com duas ou mais mulheres. Já
a principal fantasia revelada
por elas é transar amarrada,
vendada ou amordaçada.
Mas a maioria nega ter qualquer dos devaneios sexuais
apresentados na pesquisa. "Como a fantasia tem uma dimensão inconsciente, muita gente
não sabe reconhecer o que seria uma", diz o psiquiatra Joel
Birman, professor da UFRJ.
"Leva tempo para alguém compartilhar sua vida sexual mais
íntima com o analista. Mesmo
entre amantes, é demorado."
"A fantasia revela quem o sujeito é", continua Birman. "As
pessoas falam sobre comportamento sexual, mas não sobre a
maneira como realmente sentem desejo e como gozam. Isso
é muito definidor de um indivíduo, é o segredo que se guarda
mais profundamente", diz.
Café e baunilha
"Temos 50 anos de revolução
sexual. É pouco tempo para lidar naturalmente com o sexo",
diz o psicoterapeuta Ari Rehfeld, professor da PUC-SP.
"Quem vive o sexo de um jeito
mais solto, livre e frequente se
permite fantasiar mais do que
quem vive o café com leite de
uma vez por semana."
Na definição de Brett Kahr,
algumas fantasias são "baunilha" (do tipo comum, que se
conta na mesa, como "transar
com Angelina Jolie vestida de
couro"). Outras revelam o que
há de obscuro na mente, contradizem a imagem que a pessoa quer passar de si mesma.
"Os temas podem ser gerais,
como lesbianismo ou sexo grupal, mas cada um fantasia com
detalhes precisos e individuais", diz Kahr.
A fantasia de 90% dos britânicos envolve traição, quando
são casados ou têm relação estável; 11% deles adorariam
atuar num filme pornográfico e
31% dos homens adultos já fantasiaram com adolescentes. O
que mais impressionou Kahr
foi o fato de quase a metade das
fantasias incluir componentes
de dor, vergonha, humilhação,
masoquismo ou sadismo.
"A mais comum inclui algum
elemento de agressão primitiva. A fantasia é um dos únicos
espaços da mente em que um
ser humano pode explorar sua
agressividade com relativa impunidade", diz Kahr. Ele não
verificou grandes diferenças
entre homens e mulheres.
"Muitos acham que mulheres
fantasiam de um jeito romântico, mas a maioria se excita com
sexo rude, brutal e punitivo."
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