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plástica política
Obras dos consagrados Ai Weiwei, Flávio de Carvalho, Lygia Pape e Hélio Oiticica propõem conceito elástico para uma estética engajada e mostram que mandos, desmandos e injustiças sustentam a beleza
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
No começo do século passado, Flávio de Carvalho desafiou uma procissão de Corpus Christi, de boné na cabeça e flertando com moças no
meio do ato religioso. Quase
foi linchado pela rebeldia.
Três décadas mais tarde,
em plena ditadura, Lygia Pape convocou uma multidão
para vestir um imenso pano
branco nos jardins do Museu
de Arte Moderna do Rio, peça
que cortava de forma simbólica as cabeças dos participantes, o chamado "Divisor"
de corpos e de uma época.
Era 1968, o ano em que
aprovaram o AI-5, recrudescimento da censura e da repressão no país. Dois anos
antes, Hélio Oiticica homenageou o bandido Cara de
Cavalo, morto pela polícia,
ao fundir uma apologia ao
marginal a novas noções sobre o papel social do artista.
Juntos nesta Bienal, são
autores que trilharam um caminho político por meio da
estética. Deitam as bases para a reflexão sobre tempos tumultuosos e ainda hoje são
referência visual num país de
transformações agressivas.
Enquanto reverberam o
clima político em seus trabalhos, também atualizaram a
produção estética no país.
Carvalho como pioneiro da
performance, Pape e Oiticica
como propagadores de uma
arte que só funcionava com a
participação do público.
É esse conceito elástico de
política e estética que serve
de lastro também para a obra
de nomes contemporâneos
da arte no país. Nuno Ramos
e seu viveiro de urubus são
uma espécie de luto vivo por
um país que se esconde atrás
de uma pretensa alegria.
Cildo Meireles cria imagens utópicas em grandes cilindros movidos por tração
humana noutro trabalho que
joga luz sobre a beleza sustentada pelo que fica escondido por baixo do pano.
Na mesma cartografia
emergente, Francis Alys, belga radicado no México, e o
chinês Ai Weiwei também
tentam fixar em suas obras
os mandos e desmandos da
política e da economia.
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