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ANÁLISE
Peronistas se digladiam pela Presidência
JOSÉ ALAN DIAS
DO PAINEL S.A.
"Los peronistas quieren que me
vaya escupiendo sangre" (os peronistas querem que eu saia cuspindo sangue). O desabafo feito
por Raúl Alfonsín em junho do já
longínquo ano de 1989 poderia
ser usado por Fernando de la Rúa.
O então presidente se referia na
época a declarações de Carlos Menem, candidato eleito presidente
pelo Partido Justicialista (peronista), de que ele, Alfonsín, não chegaria ao final do mandato. Os dois
costuravam em sigilo um acordo
para que Menem assumisse o cargo antes do previsto, 15 de dezembro, para apaziguar o caos social.
A última cartada de Alfonsín seria
a renúncia antecipada, ainda no
final daquele mês de junho, obrigando Menem a tomar posse sem
ao menos ter gabinete formado.
Em discurso durante à tarde,
transmistido pela TV, De la Rúa
convocou os justicialistas a formarem um governo de unidade
nacional. Era jogo de cena. Horas
antes, nenhum peronista comparecera a uma reunião convocada
pelo governo. Sabiam que era
questão de tempo a renúncia.
Um dos debates no meio político argentino é quem será o candidato do peronismo caso sejam
convocadas eleições diretas para
eleger novo presidente.
Internamente, o peronismo está
dividido em seis correntes: os que
apóiam as ambições dos governadores Carlos Ruckauf (de Buenos
Aires Aires), José Manuel de la Sota (Córdoba) e Carlos Reutmann
(Santa Fé), os ligados ao senador
Eduardo Duhalde (Buenos Aires),
o pequeno grupo fiel ao ex-presidente Carlos Menem e, por fim, os
independentes, liderados pelos
governadores Nestór Kirschner
(Santa Cruz) e Adolfo Rodríguez
Saá (San Luis).
""O que está claro é que o poder
voltará para as mãos do perononismo", sentencia o analista político Rosendo Fraga, ironicamente
amigo pessoal do ex-ministro Domingo Cavallo. Fraga prefere dar
pouco crédito às disputas nas fileiras do peronsimo em torno de
um nome para disputar eventuais
eleições diretas. ""O peronismo
quando está no poder, se une.
Sempre foi assim", diz ele.
""A renúncia de De la Rúa demonstra que, por trás do agravamento da crise econômica e social, estava uma crise política. Crise que se instalou desde o dia em
que ele assumiu o poder", diz o
analista Artémio López. ""Não tenho dúvidas que o PJ terá mais
condições para governar, mas é
mais fácil assumir o poder que governar", competa ele.
Pelo menos em um sentido, os
analistas econômicos e políticos
estão de acordo: o regime de conversibilidade, que atrelou o peso
ao dólar, na paridade de um por
um, é um cadáver insepulto. Por
isso mesmo, em um governo peronista o ministro da economia
teria que ser um funcionário de
""perfil baixo", porque a ele caberá
o ônus de primeiro decretar oficialmente uma moratória -e,
possivelmente, anunciar a saída
do regime de câmbio fixo.
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