São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2001

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ANÁLISE

Peronistas se digladiam pela Presidência

JOSÉ ALAN DIAS
DO PAINEL S.A.

"Los peronistas quieren que me vaya escupiendo sangre" (os peronistas querem que eu saia cuspindo sangue). O desabafo feito por Raúl Alfonsín em junho do já longínquo ano de 1989 poderia ser usado por Fernando de la Rúa.
O então presidente se referia na época a declarações de Carlos Menem, candidato eleito presidente pelo Partido Justicialista (peronista), de que ele, Alfonsín, não chegaria ao final do mandato. Os dois costuravam em sigilo um acordo para que Menem assumisse o cargo antes do previsto, 15 de dezembro, para apaziguar o caos social. A última cartada de Alfonsín seria a renúncia antecipada, ainda no final daquele mês de junho, obrigando Menem a tomar posse sem ao menos ter gabinete formado.
Em discurso durante à tarde, transmistido pela TV, De la Rúa convocou os justicialistas a formarem um governo de unidade nacional. Era jogo de cena. Horas antes, nenhum peronista comparecera a uma reunião convocada pelo governo. Sabiam que era questão de tempo a renúncia.
Um dos debates no meio político argentino é quem será o candidato do peronismo caso sejam convocadas eleições diretas para eleger novo presidente.
Internamente, o peronismo está dividido em seis correntes: os que apóiam as ambições dos governadores Carlos Ruckauf (de Buenos Aires Aires), José Manuel de la Sota (Córdoba) e Carlos Reutmann (Santa Fé), os ligados ao senador Eduardo Duhalde (Buenos Aires), o pequeno grupo fiel ao ex-presidente Carlos Menem e, por fim, os independentes, liderados pelos governadores Nestór Kirschner (Santa Cruz) e Adolfo Rodríguez Saá (San Luis).
""O que está claro é que o poder voltará para as mãos do perononismo", sentencia o analista político Rosendo Fraga, ironicamente amigo pessoal do ex-ministro Domingo Cavallo. Fraga prefere dar pouco crédito às disputas nas fileiras do peronsimo em torno de um nome para disputar eventuais eleições diretas. ""O peronismo quando está no poder, se une. Sempre foi assim", diz ele.
""A renúncia de De la Rúa demonstra que, por trás do agravamento da crise econômica e social, estava uma crise política. Crise que se instalou desde o dia em que ele assumiu o poder", diz o analista Artémio López. ""Não tenho dúvidas que o PJ terá mais condições para governar, mas é mais fácil assumir o poder que governar", competa ele.
Pelo menos em um sentido, os analistas econômicos e políticos estão de acordo: o regime de conversibilidade, que atrelou o peso ao dólar, na paridade de um por um, é um cadáver insepulto. Por isso mesmo, em um governo peronista o ministro da economia teria que ser um funcionário de ""perfil baixo", porque a ele caberá o ônus de primeiro decretar oficialmente uma moratória -e, possivelmente, anunciar a saída do regime de câmbio fixo.



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