São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2001

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PROTESTOS

Centrais mantêm greve geral para hoje

Informação sobre renúncia de De la Rúa não adia reunião na praça de Maio; choques com policiais poderão ser violentos

FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES

Mesmo com a informação da renúncia do presidente Fernando De la Rúa, a greve geral convocada ontem foi mantida. As centrais sindicais, que pediam a queda do presidente, afirmaram que os problemas continuam.
"A convocatória da greve geral continua em pé. Exigimos o fim da decretação do estado de sítio e urgentes mudanças na política econômica", afirmou a assessoria da CGT dissidente.
Há uma semana, a greve geral organizada pelas mesmas entidades foi marcada pela violência. A de hoje não deve ser diferente. O encontro dos manifestantes está marcado para a praça de Maio, em frente à Casa Rosada, a sede do governo, palco de repetidos choques entre a polícia e o povo desde a madrugada de ontem.
Após a decretação do estado de sítio por De la Rúa, na noite de quarta-feira, o agrupamento de pessoas passou a ser proibido. A repressão da polícia explodiu contra os manifestantes.
Hugo Moyano, presidente da CGT dissidente, afirmou que "a população quer que o presidente se vá. O país já não pode continuar como se encontra".
A greve começou antes do planejado. Uma das duas centrais sindicais organizadoras, a CGT oficial, anunciou o começo para as 18h de ontem. Primeiramente, começaria apenas à meia noite.
E foram os metroviários e ferroviários que primeiro pararam suas atividades, às 18h, atrapalhando a volta dos argentinos para casa e adiantando as dificuldades que as pessoas enfrentarão com a greve geral de hoje.
Para o líder sindical e presidente da CGT oficial, Rodolfo Daer, ""a renúncia de Domingo Cavallo [ex-ministro da Economia" não basta para amenizar a crise social que foi desatada nos últimos dias, por causa da situação terrível que o povo argentino enfrenta".
"As manifestações de milhares de pessoas foram uma resposta ao discurso de De la Rúa. Estou preocupado com meu país", disse ele.
Uma greve de menores proporções já aconteceu ontem, organizada pela CTA (Central dos Trabalhadores Argentinos), que reúne principalmente professores e funcionários públicos.
"Essa greve de hoje [ontem" tem a intenção de intensificar a mobilização espontânea que tomou as ruas argentinas desde a noite de quarta-feira", afirmou Eduardo Menajoski, diretor de relações internacionais da CTA.
Dois dirigentes sindicais da ATE (Associação dos Trabalhadores de Estado) foram presos ontem em uma manifestação em La Plata. Um deles foi para o hospital, ferido por balas de borracha disparadas pela polícia.
A CTA foi uma das organizações que realizaram, no final da manifestação, uma consulta popular para forçar o Congresso a destinar um seguro-desemprego de US$ 380 aos pais de famílias. Quase 3 milhões de argentinos votaram na consulta.
O presidente da CTA, Claudio Lozano, reivindicou como prioridade do ato a exigência de "uma democracia sem repressão e com uma justa repartição de riquezas". Para Lozano, "quem induziu o caos que domina as ruas argentinas atualmente foi o governo."
Na última greve geral no país, dia 13 deste mês, a violência foi grande, com o apedrejamento de vitrines de lojas e caixas eletrônicos, incêndio de táxis e choques entre policiais e manifestantes.


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