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FINANÇAS
Banco Central decreta feriado bancário
Bancos ficam abertos hoje somente para o pagamento de salários; operações
de câmbio são canceladas; reestruturação da dívida externa fica em suspense
DA REDAÇÃO
O Banco Central da Argentina
decretou ontem feriado bancário
no país, previsto para durar a
princípio apenas hoje. O objetivo
é evitar uma corrida aos bancos e
mais tumulto, num momento de
total incerteza política. As transações de câmbio também não serão feitas.
Algumas transações, no entanto, serão permitidas, como o saque de salários e pensões. Mas, de
acordo com uma declaração do
BC emitida ontem à tarde, deverá
ser respeitado o limite semanal de
US$ 250.
Pela resolução do BC, as agências bancárias deverão permanecer abertas para o recebimento do
pagamento de impostos e cobrança de outras faturas de serviços
públicos.
Estão suspensas também, pelo
menos hoje, todas as operações
interbancárias que precisem ser
feitas com intermédio do BC
(transações de liquidação, ou
"clearing"). A medida afeta negócios feitos no sistema bancário local e também com bancos do exterior, disse o BC.
A determinação do Banco Central promete provocar confusão
hoje. Isso porque não existe mais
sustentação jurídica para que as
operações de retirada tenham seu
valor limitado.
Primeiro os deputados (anteontem) e, depois, os senadores (ontem) derrubaram a lei que determinava a restrição de saques para
pensões e salários. Mas a decisão
dos congressistas não dizia respeito à movimentação de depósitos, poupança e outros investimentos financeiros.
No último dia 1º, Cavallo havia
imposto o limite de saque em US$
250 por semana como forma de
evitar a fuga de depósitos. Com o
medo de uma desvalorização do
peso ou de um bloqueio das contas, os argentinos começaram a
sacar suas reservas, em dólar e peso, de forma acelerada.
A fuga dos depósitos estava arruinando as reservas do governo,
e por isso a limitação dos saques
foi determinada. Como não se sabe nem quem governará o país
daqui para a frente, quanto menos quais serão as medidas econômicas a serem implantadas,
uma corrida aos bancos era mais
do que prevista para hoje.
Por isso o BC determinou o feriado bancário e cambial. A resolução foi divulgada logo após de
De la Rúa ter renunciado, mas ontem não se sabia de quem partiu a
iniciativa de manter os bancos
com operações limitadas.
Desde o começo do ano, os depósitos em instituições argentinas
desabou cerca de 20%. De acordo
com um balanço divulgado ontem pelo BC, o total de depósitos
estava em US$ 68,32 bilhões no
último dia 18.
Antes da renúncia do presidente Fernando de la Rúa, o Banco
Ciudad havia informado que começaria a permitir, a partir de hoje, que seus correntistas sacassem
a totalidade de seus vencimentos.
A posição do banco dá mostra da
falta de autoridade de De la Rúa.
Num comunicado, o banco informou que "tomou a decisão, de
forma unilateral, de permitir a retirada de todo o salário". Isso
quando a restrição ainda vigorava. Para embasar sua resolução, a
instituição citou falhas jurídicas
no projeto.
Graças a essas brechas, lembrou
o banco, vários sindicatos, como
dos professores e dos servidores
do Judiciário, já haviam conseguido liminares que lhes dava o direito de mexer nas contas além do limite estabelecido.
Também ontem, o BankBoston
permitiu que uma mulher retirasse 27 mil pesos de poupança de
que ela dispunha. Uma liminar
concedida por um juiz da cidade
de Callao permitiu que Maria
Cristina Bosch sacasse suas economias depositadas no banco.
Na próxima segunda-feira, véspera de Natal, previa-se que as
agências funcionariam normalmente. Ontem o BC não informou nada que alterasse isso.
A crise política colocará um
freio na reestruturação da dívida,
que vinha sendo feita com os credores internacionais. "É muito
improvável que o governo cumpra o cronograma", afirmou
Hans Humes, diretor da corretora
Van Eck, que trabalha com mercados emergentes.
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