São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2001

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FINANÇAS

Banco Central decreta feriado bancário

Bancos ficam abertos hoje somente para o pagamento de salários; operações de câmbio são canceladas; reestruturação da dívida externa fica em suspense

DA REDAÇÃO

O Banco Central da Argentina decretou ontem feriado bancário no país, previsto para durar a princípio apenas hoje. O objetivo é evitar uma corrida aos bancos e mais tumulto, num momento de total incerteza política. As transações de câmbio também não serão feitas.
Algumas transações, no entanto, serão permitidas, como o saque de salários e pensões. Mas, de acordo com uma declaração do BC emitida ontem à tarde, deverá ser respeitado o limite semanal de US$ 250.
Pela resolução do BC, as agências bancárias deverão permanecer abertas para o recebimento do pagamento de impostos e cobrança de outras faturas de serviços públicos.
Estão suspensas também, pelo menos hoje, todas as operações interbancárias que precisem ser feitas com intermédio do BC (transações de liquidação, ou "clearing"). A medida afeta negócios feitos no sistema bancário local e também com bancos do exterior, disse o BC.
A determinação do Banco Central promete provocar confusão hoje. Isso porque não existe mais sustentação jurídica para que as operações de retirada tenham seu valor limitado.
Primeiro os deputados (anteontem) e, depois, os senadores (ontem) derrubaram a lei que determinava a restrição de saques para pensões e salários. Mas a decisão dos congressistas não dizia respeito à movimentação de depósitos, poupança e outros investimentos financeiros.
No último dia 1º, Cavallo havia imposto o limite de saque em US$ 250 por semana como forma de evitar a fuga de depósitos. Com o medo de uma desvalorização do peso ou de um bloqueio das contas, os argentinos começaram a sacar suas reservas, em dólar e peso, de forma acelerada.
A fuga dos depósitos estava arruinando as reservas do governo, e por isso a limitação dos saques foi determinada. Como não se sabe nem quem governará o país daqui para a frente, quanto menos quais serão as medidas econômicas a serem implantadas, uma corrida aos bancos era mais do que prevista para hoje.
Por isso o BC determinou o feriado bancário e cambial. A resolução foi divulgada logo após de De la Rúa ter renunciado, mas ontem não se sabia de quem partiu a iniciativa de manter os bancos com operações limitadas.
Desde o começo do ano, os depósitos em instituições argentinas desabou cerca de 20%. De acordo com um balanço divulgado ontem pelo BC, o total de depósitos estava em US$ 68,32 bilhões no último dia 18.
Antes da renúncia do presidente Fernando de la Rúa, o Banco Ciudad havia informado que começaria a permitir, a partir de hoje, que seus correntistas sacassem a totalidade de seus vencimentos. A posição do banco dá mostra da falta de autoridade de De la Rúa.
Num comunicado, o banco informou que "tomou a decisão, de forma unilateral, de permitir a retirada de todo o salário". Isso quando a restrição ainda vigorava. Para embasar sua resolução, a instituição citou falhas jurídicas no projeto.
Graças a essas brechas, lembrou o banco, vários sindicatos, como dos professores e dos servidores do Judiciário, já haviam conseguido liminares que lhes dava o direito de mexer nas contas além do limite estabelecido.
Também ontem, o BankBoston permitiu que uma mulher retirasse 27 mil pesos de poupança de que ela dispunha. Uma liminar concedida por um juiz da cidade de Callao permitiu que Maria Cristina Bosch sacasse suas economias depositadas no banco.
Na próxima segunda-feira, véspera de Natal, previa-se que as agências funcionariam normalmente. Ontem o BC não informou nada que alterasse isso.
A crise política colocará um freio na reestruturação da dívida, que vinha sendo feita com os credores internacionais. "É muito improvável que o governo cumpra o cronograma", afirmou Hans Humes, diretor da corretora Van Eck, que trabalha com mercados emergentes.


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