|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REPERCUSSÃO
De la Rúa insistiu em política de efeitos escassos, afirma FHC
Presidente diz que renúncia na Argentina não foi surpresa
e que a iniciativa não ameaça a continuidade do Mercosul
CLÁUDIA DIANNI
ENVIADA ESPECIAL A MONTEVIDÉU
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a renúncia
do presidente argentino, Fernando de la Rúa, não surpreendeu e
foi consequência da falta de apoio
político e da insistência em uma
política econômica que produzia
resultados escassos.
"Aconteceu porque não houve
condições objetivas para que a
Argentina retomasse o caminho
da prosperidade e, talvez, por
uma insistência por muito tempo
em uma política econômica cujos
resultados, se via, eram escassos",
disse, em espanhol, comentando
a renúncia de De la Rúa.
As declarações foram dadas
quando FHC desembarcou ontem na base aérea de Montevidéu,
para participar do encontro de
presidentes do Mercosul, que
ocorre hoje, na reunião de cúpula
do bloco.
FHC comparou a conjuntura
econômica da Argentina com a
do Brasil ao fazer um apelo, conforme disse, aos congressistas
brasileiros para que votem o Orçamento de 2002. "No Brasil estamos discutindo o aumento do salário, enquanto na Argentina a
discussão é sobre o nível de redução dos salários", disse. "Não podemos deixar que o Brasil, que está em um caminho tão seguro,
perca o rumo", afirmou.
O presidente chamou a Argentina de nação irmã várias vezes e
manifestou confiança na recuperação do vizinho em um clima democrático. Ele também lamentou
a saída do presidente argentino,
que qualificou como "um homem
sério que se empenhou dentro
das circunstâncias".
"Não foi uma surpresa", disse
referindo-se à renúncia. "A situação na Argentina estava difícil havia muito tempo e, quando se
chega a um ponto em que a crise
social se agrava, como se agravou,
e a situação econômica não encontra um caminho, uma solução
crível pelo povo em feitos concretos, crescimento econômico e geração de empregos, é natural que
o impasse ocorra."
Para o presidente, a situação na
Argentina não preocupa a comunidade internacional porque a
crise não coloca em risco a democracia no país vizinho. "O que
preocuparia no mundo hoje seria
se não fosse um processo democrático. Neste caso, tudo está se
desenvolvendo dentro da institucionalidade democrática."
Ele lembrou que há uma cláusula no Mercosul que obriga seus
membros a manterem a democracia para continuar no bloco.
"Há no Mercosul uma cláusula
muito forte, e o caso na Argentina
não é de ruptura institucional,
mas um caso político, econômico
e social que se resolverá dentro da
democracia", afirmou
Segundo FHC, o momento requer que haja ainda mais integração regional, para que os países
do bloco possam continuar negociando com outras regiões do
mundo em conjunto.
"Outra coisa é nossa capacidade
de continuar negociando como
Mercosul, e nós vamos continuar
fazendo isso com a União Européia, com a Comunidade Andina,
e estamos ainda no início de uma
difícil negociação na Alca. Nesse
momento, temos de ter ainda
mais presença de Mercosul."
A renúncia de De la Rúa não coloca em risco a continuidade do
Mercosul, na avaliação de FHC.
Ele citou o impeachment de Fernando Collor como exemplo. "O
Brasil já teve presidente que renunciou, que sofreu impeachment, e o Mercosul continuou."
Texto Anterior: Bolsa sobe mais de 26% em dois dias Próximo Texto: Fraga prefere desvalorização a dolarização Índice
|