São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2001

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REPERCUSSÃO

De la Rúa insistiu em política de efeitos escassos, afirma FHC

Presidente diz que renúncia na Argentina não foi surpresa e que a iniciativa não ameaça a continuidade do Mercosul

CLÁUDIA DIANNI
ENVIADA ESPECIAL A MONTEVIDÉU

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a renúncia do presidente argentino, Fernando de la Rúa, não surpreendeu e foi consequência da falta de apoio político e da insistência em uma política econômica que produzia resultados escassos.
"Aconteceu porque não houve condições objetivas para que a Argentina retomasse o caminho da prosperidade e, talvez, por uma insistência por muito tempo em uma política econômica cujos resultados, se via, eram escassos", disse, em espanhol, comentando a renúncia de De la Rúa.
As declarações foram dadas quando FHC desembarcou ontem na base aérea de Montevidéu, para participar do encontro de presidentes do Mercosul, que ocorre hoje, na reunião de cúpula do bloco.
FHC comparou a conjuntura econômica da Argentina com a do Brasil ao fazer um apelo, conforme disse, aos congressistas brasileiros para que votem o Orçamento de 2002. "No Brasil estamos discutindo o aumento do salário, enquanto na Argentina a discussão é sobre o nível de redução dos salários", disse. "Não podemos deixar que o Brasil, que está em um caminho tão seguro, perca o rumo", afirmou.
O presidente chamou a Argentina de nação irmã várias vezes e manifestou confiança na recuperação do vizinho em um clima democrático. Ele também lamentou a saída do presidente argentino, que qualificou como "um homem sério que se empenhou dentro das circunstâncias".
"Não foi uma surpresa", disse referindo-se à renúncia. "A situação na Argentina estava difícil havia muito tempo e, quando se chega a um ponto em que a crise social se agrava, como se agravou, e a situação econômica não encontra um caminho, uma solução crível pelo povo em feitos concretos, crescimento econômico e geração de empregos, é natural que o impasse ocorra."
Para o presidente, a situação na Argentina não preocupa a comunidade internacional porque a crise não coloca em risco a democracia no país vizinho. "O que preocuparia no mundo hoje seria se não fosse um processo democrático. Neste caso, tudo está se desenvolvendo dentro da institucionalidade democrática."
Ele lembrou que há uma cláusula no Mercosul que obriga seus membros a manterem a democracia para continuar no bloco. "Há no Mercosul uma cláusula muito forte, e o caso na Argentina não é de ruptura institucional, mas um caso político, econômico e social que se resolverá dentro da democracia", afirmou
Segundo FHC, o momento requer que haja ainda mais integração regional, para que os países do bloco possam continuar negociando com outras regiões do mundo em conjunto.
"Outra coisa é nossa capacidade de continuar negociando como Mercosul, e nós vamos continuar fazendo isso com a União Européia, com a Comunidade Andina, e estamos ainda no início de uma difícil negociação na Alca. Nesse momento, temos de ter ainda mais presença de Mercosul."
A renúncia de De la Rúa não coloca em risco a continuidade do Mercosul, na avaliação de FHC. Ele citou o impeachment de Fernando Collor como exemplo. "O Brasil já teve presidente que renunciou, que sofreu impeachment, e o Mercosul continuou."


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