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Lisboetas vêem como ruim a qualidade de vida dos brasileiros, mas 50% consideram que o país é mais importante que Portugal
Português acha Brasil pior, mas mais importante
do enviado especial a Lisboa
Embora guardem do Brasil uma
visão espontaneamente positiva,
os portugueses tendem a ver problemas quando convocados a analisar aspectos concretos do país.
Para 71% dos lisboetas, o quadro
econômico brasileiro é ruim ou
péssimo, mesma avaliação que
80% conferem à situação da segurança pessoal.
Não é positiva, igualmente, a
imagem que se tem dos serviços
públicos, das condições de habitação, da preservação ambiental e da
política racial: 39% dos entrevistados consideram o sistema de saúde
brasileiro ruim ou péssimo, contra
desprezíveis 6% que o avaliam como ótimo ou bom.
Para 59%, o Brasil oferece péssimas condições de habitação à população, e para 38% o país não cuida do seu meio ambiente. Só 12%
vêem como boa ou ótima a preservação ambiental no Brasil.
A política racial brasileira é considerada ruim ou péssima por 34%
dos entrevistados.
Avaliações semelhantes são atribuídas ao sistema educacional, aos
transportes, ao governo federal e
ao combate à corrupção.
Salva-se o Brasil na visão que os
portugueses têm do desenvolvimento tecnológico alcançado pela
ex-colônia: apenas 20% acham que
é ruim ou péssimo, idéia compreensível pela presença de uma
face moderna do país em Portugal,
especialmente na TV.
"Essa visão negativa do funcionamento do Brasil está presente
em toda a Europa", diz Laura de
Mello e Souza, professora do departamento de História da Universidade de São Paulo. "Não adianta
o presidente ter sido da USP e falar
cinco línguas. Essa imagem só vai
melhorar quando acabar a miséria,
o analfabetismo e a violência".
A percepção negativa da vida real
no Brasil não impede que os portugueses avaliem que a ex-colônia
tem hoje maior projeção internacional do que Portugal.
Metade dos entrevistados concorda que o Brasil tem "mais importância no mundo" do que Portugal, 33% consideram Portugal
mais importante e 8% julgam os
dois países equivalentes.
Os principais aspectos que justificam a maior importância do Brasil são a extensão do território,
mencionada por 54%, o fato de ser
um país rico (15%) e o de ter uma
economia mais forte (15%).
Mas, considerando as referências
pulverizadas aos aspectos culturais e turísticos (belezas naturais,
Carnaval, telenovela, música, arte,
cultura em geral) e ao futebol, verifica-se que parte considerável dos
portugueses atribui maior projeção internacional ao Brasil por
conta do clichê positivo do país
mais difundido em todo o mundo:
futebol, natureza e cultura.
"Vocês têm a música e, a cada
quatro anos, estão sendo falados
no mundo todo, por conta da Copa
do Mundo. Nós não temos tanta
presença", diz o português Paulo
Bismark, 33, produtor de shows.
"Portugal é periférico na Europa
e a língua portuguesa só tem algum
peso, ainda que pequeno, por causa do Brasil. Eles sabem que nós
somos importantes para eles", diz
Mello e Souza.
Para os brasileiros (75%), o Brasil também é mais importante por
possuir riquezas naturais (42%) e
uma economia mais forte (22%).
E quem pensa o contrário?
Dos 33% de lisboetas que vêem
Portugal com maior importância
no mundo, 56% citam o desenvolvimento e o fato de o país pertencer à União Européia.
É a mesma justificativa dos 15%
de moradores do Rio que consideram Portugal mais importante do
que o Brasil. A percepção dos cariocas sobre a qualidade de vida
em Portugal acompanha essa imagem de desenvolvimento.
Os mesmos aspectos que os portugueses consideram ruins no Brasil, os brasileiros tendem a considerar melhores por lá. Para a
maioria dos cariocas, são ótimas
ou boas as condições de saúde, de
educação e de segurança. Transportes e habitação também são
bem avaliados.
A própria questão racial tende a
ser vista positivamente: 22%
acham que a "democracia racial"
portuguesa é ótima ou boa, 27% a
consideram regular e só 21% a avaliam como má ou péssima.
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