São Paulo, Quinta-feira, 22 de Abril de 1999
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Lisboetas vêem como ruim a qualidade de vida dos brasileiros, mas 50% consideram que o país é mais importante que Portugal
Português acha Brasil pior, mas mais importante

do enviado especial a Lisboa

Embora guardem do Brasil uma visão espontaneamente positiva, os portugueses tendem a ver problemas quando convocados a analisar aspectos concretos do país.
Para 71% dos lisboetas, o quadro econômico brasileiro é ruim ou péssimo, mesma avaliação que 80% conferem à situação da segurança pessoal.
Não é positiva, igualmente, a imagem que se tem dos serviços públicos, das condições de habitação, da preservação ambiental e da política racial: 39% dos entrevistados consideram o sistema de saúde brasileiro ruim ou péssimo, contra desprezíveis 6% que o avaliam como ótimo ou bom.
Para 59%, o Brasil oferece péssimas condições de habitação à população, e para 38% o país não cuida do seu meio ambiente. Só 12% vêem como boa ou ótima a preservação ambiental no Brasil.
A política racial brasileira é considerada ruim ou péssima por 34% dos entrevistados.
Avaliações semelhantes são atribuídas ao sistema educacional, aos transportes, ao governo federal e ao combate à corrupção.
Salva-se o Brasil na visão que os portugueses têm do desenvolvimento tecnológico alcançado pela ex-colônia: apenas 20% acham que é ruim ou péssimo, idéia compreensível pela presença de uma face moderna do país em Portugal, especialmente na TV.
"Essa visão negativa do funcionamento do Brasil está presente em toda a Europa", diz Laura de Mello e Souza, professora do departamento de História da Universidade de São Paulo. "Não adianta o presidente ter sido da USP e falar cinco línguas. Essa imagem só vai melhorar quando acabar a miséria, o analfabetismo e a violência".
A percepção negativa da vida real no Brasil não impede que os portugueses avaliem que a ex-colônia tem hoje maior projeção internacional do que Portugal.
Metade dos entrevistados concorda que o Brasil tem "mais importância no mundo" do que Portugal, 33% consideram Portugal mais importante e 8% julgam os dois países equivalentes.
Os principais aspectos que justificam a maior importância do Brasil são a extensão do território, mencionada por 54%, o fato de ser um país rico (15%) e o de ter uma economia mais forte (15%).
Mas, considerando as referências pulverizadas aos aspectos culturais e turísticos (belezas naturais, Carnaval, telenovela, música, arte, cultura em geral) e ao futebol, verifica-se que parte considerável dos portugueses atribui maior projeção internacional ao Brasil por conta do clichê positivo do país mais difundido em todo o mundo: futebol, natureza e cultura.
"Vocês têm a música e, a cada quatro anos, estão sendo falados no mundo todo, por conta da Copa do Mundo. Nós não temos tanta presença", diz o português Paulo Bismark, 33, produtor de shows.
"Portugal é periférico na Europa e a língua portuguesa só tem algum peso, ainda que pequeno, por causa do Brasil. Eles sabem que nós somos importantes para eles", diz Mello e Souza.
Para os brasileiros (75%), o Brasil também é mais importante por possuir riquezas naturais (42%) e uma economia mais forte (22%).
E quem pensa o contrário?
Dos 33% de lisboetas que vêem Portugal com maior importância no mundo, 56% citam o desenvolvimento e o fato de o país pertencer à União Européia.
É a mesma justificativa dos 15% de moradores do Rio que consideram Portugal mais importante do que o Brasil. A percepção dos cariocas sobre a qualidade de vida em Portugal acompanha essa imagem de desenvolvimento.
Os mesmos aspectos que os portugueses consideram ruins no Brasil, os brasileiros tendem a considerar melhores por lá. Para a maioria dos cariocas, são ótimas ou boas as condições de saúde, de educação e de segurança. Transportes e habitação também são bem avaliados.
A própria questão racial tende a ser vista positivamente: 22% acham que a "democracia racial" portuguesa é ótima ou boa, 27% a consideram regular e só 21% a avaliam como má ou péssima.


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