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Independência afastou as culturas
MARTA AVANCINI
da Reportagem Local
A escassa troca de informações
culturais entre Brasil e Portugal
torna a distância que separa os
dois países bem maior do que os
7.700 quilômetros entre Rio e Lisboa. Só 14% dos cariocas sabem
que d. Manuel 1º era o rei de Portugal na época do Descobrimento, e
quase metade dos moradores de
Lisboa (44%) desconhece que o
Brasil foi descoberto em 1500.
Parte da desinformação pode ser
atribuída aos currículos escolares,
que tendem a diluir as informações sobre os dois países em contextos gerais ou a abordá-los apenas numa perspectiva local. "A informação existe, mas circula apenas nos meios universitários e não
chega aos livros didáticos nem às
salas de aula", diz Carlos Alberto
Xavier, representante brasileiro na
comissão das comemorações do 5º
Centenário do Descobrimento.
A história de Portugal é estudada
nas escolas brasileiras como um
reflexo da história brasileira e,
mesmo assim, só até a Independência do Brasil (1822). Dessa maneira, a formação do império colonial português, que tornaria o país
um dos mais importantes do mundo no século 16, só é conhecida pelos estudantes brasileiros porque o
Brasil é parte desse processo.
Raciocínio similar vale para o estudo da colonização do Brasil, um
dos poucos temas incluídos nos livros lusitanos. "É um tratamento
superficial. O tema é inserido dentro do contexto da história geral e
dos descobrimentos portugueses",
diz Maria do Isabel João, da equipe
portuguesa da comissão das comemorações do 5º Centenário.
Esse desconhecimento cria uma
percepção distorcida da cultura
portuguesa pelos brasileiros, e vice-versa, reforçando estereótipos
negativos. "Como Portugal não tinha projeto nos primeiros 30 anos
de colonização, fica uma imagem
de descaso, que acaba sendo transposta aos portugueses", diz Maria
do Carmo Martins, da Unicamp.
Além disso, o desconhecimento
da história portuguesa impede um
estudo aprofundado de nossas raízes culturais, diz Ernesta Zamboni,
da Unicamp. A restrição no estudo
da literatura tem efeitos semelhantes, diz Benjamin Abdala Jr., professor de literatura da USP. "Só se
estudam os autores e temas solicitados no vestibular. Com isso, perde-se muito na compreensão da
nossa própria maneira de ser", diz.
No Brasil, não há uma obrigação
de estudar a literatura portuguesa.
A circulação da literatura brasileira em Portugal se concentra nos
cursos de letras, diz Arnaldo Saraiva, professor de literatura brasileira na Universidade do Porto. "Alguns autores, como Cecília Meireles, Clarice Lispector, João Cabral
de Melo Neto e Jorge Amado, são
muito apreciados. Mas desconfio
que a difusão dos autores brasileiros só não é maior porque não há
muitos livros editados."
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