São Paulo, quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

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Contra o relógio

Irregularidades apontadas pelo Ministério Público e disputas políticas atrasam obras e afetam cronograma da Copa

DOS ENVIADOS ESPECIAIS

A tranquilidade de Luciano Ducci (PSB), prefeito de Curitiba, ao falar dos preparativos para a Copa assusta. Nem parece que a maioria das obras necessárias para a cidade abrigar o evento ainda não foi licitada.
"O plano é que tudo esteja pronto no fim de 2012. Até porque é o ano da eleição", diz, sorrindo, o prefeito.
Ducci quer continuar no cargo. Para isso, finalizar as obras da Copa, como ampliação de avenidas, às vésperas da eleição será providencial.
A lentidão no processo de Curitiba é acompanhada de perto pelo Ministério Público Estadual. "Tudo parece calmo, mas está atrasado", diz o procurador Arion Pereira.
Essa é só uma mostra de como as sedes da Copa-14 estão correndo contra o tempo.
Se for tomado como base outras licitações, o atraso na elaboração dos editais de Curitiba faz qualquer tranquilidade terminar. Fortaleza é um exemplo do quão arrastado pode ser o processo que viabiliza obras para o evento.
"Hoje, para fazer uma licitação, é uma novela. A nossa deve ter sido interrompida por umas dez ações judiciais, uns 30 recursos administrativos, coisas no tribunal de contas", diz o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), sobre a licitação do estádio do Castelão, em Fortaleza.
A capital do Ceará levou mais de um ano entre a confecção do projeto básico da arena e o anúncio do início da reforma do Castelão, que só aconteceu neste mês.
Antes de lançar o edital, a sede teve que lidar com mudanças de projeto exigidas pela Fifa e pela Assembleia Legislativa do Ceará.
Quando o edital foi lançado, em fevereiro, iniciou-se uma briga de liminares, recursos e questionamentos do Ministério Público que levaram o processo a se arrastar por mais de sete meses. Só em 29 de outubro o consórcio formado por Galvão Engenharia, Serveng Civilsan e BWA foi declarado vencedor.
Mas nenhuma sede sofreu tantas intervenções de órgãos fiscalizadores como Natal, que ainda está sob risco de ser cortada do Mundial. A arena potiguar terá seu edital lançado nos próximos dias. No último processo, não houve empresas interessadas.
A nova licitação já está na mira dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, que encontraram irregularidades no último edital e recomendaram alteração de cláusulas na elaboração do novo.
O não cumprimento das recomendações pode incorrer em mais atrasos para o início das obras do estádio.
A Procuradoria solicitou ao BNDES que não aprove financiamento para a reforma da arena até que os problemas no edital sejam corrigidos. O prazo para a correção acaba nesta sexta-feira.
Em Brasília, os grandes imbróglios são o financiamento da obra do Estádio Nacional e sua capacidade.
Segundo o projeto original, a Terracap, empresa dos governos federal (49%) e do Distrito Federal (51%), deve bancar a obra de R$ 696 milhões. Para isso, a instituição venderia terrenos no setor hoteleiro norte, que valem até R$ 700 milhões.
Inicialmente, a diretoria da Terracap aprovou a venda dos terrenos. Mas, em outubro, o conselho da empresa barrou a operação e pediu mais esclarecimentos. Se a venda de terrenos não for aprovada, a cidade terá de apelar para empréstimo do BNDES para erguer a arena.
"A obra não está paralisada. A Terracap recebeu os documentos e vai analisá-los. Temos certeza da reversão", declara Sérgio Graça, da Agecopa, o comitê de Brasília.
Vale lembrar que o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., já disse que não haverá dinheiro federal nas arenas.
Outro motivo de impasse é a capacidade do estádio, planejado para 70 mil pessoas.
O governador eleito, Agnelo Queiroz (PT), afirmou ser favorável a diminuir o tamanho da arena, mas que o mantém porque a cidade quer a abertura da Copa.
Já o Ministério Público Federal pede a redução para 30 mil pessoas -para 2014, a Fifa exige estádios para pelo menos 40 mil torcedores.
Desde o mês passado, quando foi anunciada pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, como a sede escolhida para receber a abertura da Copa, São Paulo também lida com seus entraves.
Antes disso, a cidade esteve envolvida na disputa envolvendo o Morumbi, rejeitado como sede pela Fifa.
Desde que soube que receberia o jogo inaugural, o projeto do estádio em Itaquera passa por adaptações.
"São várias mudanças. Tentamos correr e, ao mesmo tempo, fazer as coisas com cuidado para entregar o projeto o mais breve possível", diz Antônio Paulo Cordeiro, um dos arquitetos da arena.
Em situação oposta à de São Paulo, Manaus tem uma das obras para a construção de estádio em fase mais avançada. Mas o Ministério Público barrou o desembolso de verba do BNDES para erguer a Arena Amazônia.
Os questionamentos são em relação à falta de detalhamento do projeto e a um suposto sobrepreço de 46% em relação ao custo médio de concreto e ferragens.
Por enquanto, o governo estadual está bancando a obra. Essa estratégia foi escolhida porque havia o temor, em caso de atraso, de a cidade ser excluída da Copa.

OLIMPÍADA
O Rio sofre com o inverso: o excesso de eventos na cidade em curto espaço de tempo e a concomitância das obras.
Autoridades ligadas à organização do Mundial questionam o que serão dos preparativos para a Olimpíada- -2016 no período em que a cidade sediar jogos da Copa.
Afirmam que o cronograma de obras terá de ser planejado para não complicar o trânsito durante o Mundial.
Consenso entre autoridades das 12 sedes ouvidas pela Folha é o problema dos aeroportos. Esse é o único atraso admitido por todas as cidades, por se tratar de um tema do governo federal.
A ineficiência em atender à demanda de voos é visível. Os motivos para preocupação vão desde o pequeno número de fingers (corredores de acesso aos aviões) até a falta de espaço para a ampliação dos aeroportos, passando necessariamente pela escassez de recursos.


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