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Contra o relógio
Irregularidades apontadas
pelo Ministério Público e disputas
políticas atrasam obras e
afetam cronograma da Copa
DOS ENVIADOS ESPECIAIS
A tranquilidade de Luciano Ducci (PSB), prefeito de
Curitiba, ao falar dos preparativos para a Copa assusta.
Nem parece que a maioria
das obras necessárias para a
cidade abrigar o evento ainda não foi licitada.
"O plano é que tudo esteja
pronto no fim de 2012. Até
porque é o ano da eleição",
diz, sorrindo, o prefeito.
Ducci quer continuar no
cargo. Para isso, finalizar as
obras da Copa, como ampliação de avenidas, às vésperas
da eleição será providencial.
A lentidão no processo de
Curitiba é acompanhada de
perto pelo Ministério Público
Estadual. "Tudo parece calmo, mas está atrasado", diz o
procurador Arion Pereira.
Essa é só uma mostra de
como as sedes da Copa-14 estão correndo contra o tempo.
Se for tomado como base
outras licitações, o atraso na
elaboração dos editais de Curitiba faz qualquer tranquilidade terminar. Fortaleza é
um exemplo do quão arrastado pode ser o processo que
viabiliza obras para o evento.
"Hoje, para fazer uma licitação, é uma novela. A nossa
deve ter sido interrompida
por umas dez ações judiciais,
uns 30 recursos administrativos, coisas no tribunal de
contas", diz o governador do
Ceará, Cid Gomes (PSB), sobre a licitação do estádio do
Castelão, em Fortaleza.
A capital do Ceará levou
mais de um ano entre a confecção do projeto básico da
arena e o anúncio do início
da reforma do Castelão, que
só aconteceu neste mês.
Antes de lançar o edital, a
sede teve que lidar com mudanças de projeto exigidas
pela Fifa e pela Assembleia
Legislativa do Ceará.
Quando o edital foi lançado, em fevereiro, iniciou-se
uma briga de liminares, recursos e questionamentos do
Ministério Público que levaram o processo a se arrastar
por mais de sete meses. Só
em 29 de outubro o consórcio
formado por Galvão Engenharia, Serveng Civilsan e
BWA foi declarado vencedor.
Mas nenhuma sede sofreu
tantas intervenções de órgãos fiscalizadores como Natal, que ainda está sob risco
de ser cortada do Mundial. A
arena potiguar terá seu edital
lançado nos próximos dias.
No último processo, não houve empresas interessadas.
A nova licitação já está na
mira dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, que
encontraram irregularidades
no último edital e recomendaram alteração de cláusulas
na elaboração do novo.
O não cumprimento das
recomendações pode incorrer em mais atrasos para o
início das obras do estádio.
A Procuradoria solicitou
ao BNDES que não aprove financiamento para a reforma
da arena até que os problemas no edital sejam corrigidos. O prazo para a correção
acaba nesta sexta-feira.
Em Brasília, os grandes
imbróglios são o financiamento da obra do Estádio Nacional e sua capacidade.
Segundo o projeto original, a Terracap, empresa dos
governos federal (49%) e do
Distrito Federal (51%), deve
bancar a obra de R$ 696 milhões. Para isso, a instituição
venderia terrenos no setor
hoteleiro norte, que valem
até R$ 700 milhões.
Inicialmente, a diretoria
da Terracap aprovou a venda
dos terrenos. Mas, em outubro, o conselho da empresa
barrou a operação e pediu
mais esclarecimentos. Se a
venda de terrenos não for
aprovada, a cidade terá de
apelar para empréstimo do
BNDES para erguer a arena.
"A obra não está paralisada. A Terracap recebeu os documentos e vai analisá-los.
Temos certeza da reversão",
declara Sérgio Graça, da Agecopa, o comitê de Brasília.
Vale lembrar que o ministro do Esporte, Orlando Silva
Jr., já disse que não haverá
dinheiro federal nas arenas.
Outro motivo de impasse é
a capacidade do estádio, planejado para 70 mil pessoas.
O governador eleito, Agnelo Queiroz (PT), afirmou ser
favorável a diminuir o tamanho da arena, mas que o
mantém porque a cidade
quer a abertura da Copa.
Já o Ministério Público Federal pede a redução para 30
mil pessoas -para 2014, a Fifa exige estádios para pelo
menos 40 mil torcedores.
Desde o mês passado,
quando foi anunciada pelo
presidente da CBF, Ricardo
Teixeira, como a sede escolhida para receber a abertura
da Copa, São Paulo também
lida com seus entraves.
Antes disso, a cidade esteve envolvida na disputa envolvendo o Morumbi, rejeitado como sede pela Fifa.
Desde que soube que receberia o jogo inaugural, o projeto do estádio em Itaquera
passa por adaptações.
"São várias mudanças.
Tentamos correr e, ao mesmo
tempo, fazer as coisas com
cuidado para entregar o projeto o mais breve possível",
diz Antônio Paulo Cordeiro,
um dos arquitetos da arena.
Em situação oposta à de
São Paulo, Manaus tem uma
das obras para a construção
de estádio em fase mais
avançada. Mas o Ministério
Público barrou o desembolso
de verba do BNDES para erguer a Arena Amazônia.
Os questionamentos são
em relação à falta de detalhamento do projeto e a um suposto sobrepreço de 46% em
relação ao custo médio de
concreto e ferragens.
Por enquanto, o governo
estadual está bancando a
obra. Essa estratégia foi escolhida porque havia o temor,
em caso de atraso, de a cidade ser excluída da Copa.
OLIMPÍADA
O Rio sofre com o inverso:
o excesso de eventos na cidade em curto espaço de tempo
e a concomitância das obras.
Autoridades ligadas à organização do Mundial questionam o que serão dos preparativos para a Olimpíada-
-2016 no período em que a cidade sediar jogos da Copa.
Afirmam que o cronograma de obras terá de ser planejado para não complicar o
trânsito durante o Mundial.
Consenso entre autoridades das 12 sedes ouvidas pela
Folha é o problema dos aeroportos. Esse é o único atraso
admitido por todas as cidades, por se tratar de um tema
do governo federal.
A ineficiência em atender
à demanda de voos é visível.
Os motivos para preocupação vão desde o pequeno número de fingers (corredores
de acesso aos aviões) até a
falta de espaço para a ampliação dos aeroportos, passando necessariamente pela
escassez de recursos.
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