São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997.

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Atletas voltam a ser amadores em busca de melhores salários

MARCELO DAMATO
da Reportagem Local

A cada ano no Brasil, milhares de jogadores deixam a profissão. Cerca de mil deles fazem isso de forma oficial. Pedem à Confederação Brasileira de Futebol e conseguem outra vez o registro de amadores. É o que se chama de reversão.
Ela significa quase sempre o abandono de um sonho _conquistar fama e fortuna no futebol_ por outro _ter uma renda mais estável em outra profissão ou até um salário informal num clube amador.
''De um modo geral, o que mais influencia na reversão é a idade'', diz Luiz Gustavo Vieira de Castro, diretor do Departamento de Registro da CBF.
Mas, segundo ele, mesmo jogadores mais jovens voltam ao amadorismo.
A contramão da profissionalização é causada pelos baixos salários, mas há casos de jogadores que deixam o esporte por brigas com seus clubes.
Nesse caso, o clube pode negar o pedido de reversão. Mesmo assim, segundo Vieira de Castro, o jogador consegue ter seu pedido atendido, mas demora um pouco mais. ''Ninguém pode ser impedido de deixar a profissão'', explica.
Os ''novos amadores'' são atraídos em parte dos casos por ofertas de emprego em empresas que estão mais interessadas em seu futebol do que na sua competência na nova profissão.
As indústrias, por exemplo, contratam alguns profissionais, preocupadas com a disputa dos Jogos Operários _no qual o título rende prestígio para o dirigente da empresa que o conquista. A filosofia é muito semelhante ao que fazem escolas norte-americanas, empenhadas em montar times fortes nas competições universitárias.
Há também torneios amadores, como o Matutão, do Rio Grande do Norte, que atraem profissionais. Há jogadores que recebem informalmente R$ 500,00 por mês, mais do que 80% dos verdadeiros profissionais.
O Matutão explica em parte porque esse Estado foi o terceiro em reversão no ano passado. O torneio, realizado por um radialista, tem mais jogos do que o Campeonato Estadual profissional.
A reversão pode indicar também caos no futebol de um Estado. Por causa da ruína dos clubes do Amapá, só 1 jogador se profissionalizou, enquanto 7 voltaram a ser amadores.


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