São Paulo, quinta, 23 de abril de 1998

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Guerras testaram armas de EUA e URSS

RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha

Em média uma vez por década, árabes e israelenses trocaram tiros em grandes conflitos -em 1948, em 1956, em 1967, em 1973, em 1982, e quase em 1991, quando o Iraque atirou mísseis contra Israel, que deixou o troco nas mãos dos americanos e sua coalizão.
Essas guerras são representativas da evolução da técnica militar no último meio século, não só por cobrirem todo o período, mas principalmente porque cada lado recebia seu material de um dos dois grandes blocos ideológicos.
Esses combates serviram de campo de teste do armamento desenvolvido por EUA e URSS durante a Guerra Fria, e nunca usado por um contra o outro.
Israel saiu vencedor militarmente de todos os combates graças a forças armadas qualitativamente melhores, embora quase sempre lutando em inferioridade numérica. Muitos especialistas se dedicaram a tentar explicar os motivos dessa supremacia. As respostas são variadas, mas de modo geral se concentram na melhor qualidade dos combatentes do Estado judeu.
A população do país tem melhores indicadores sociais (educação, saúde etc.) que a de seus rivais, e isso é a base para se criar soldados eficientes. Ao contrário dos exércitos do passado, uma força moderna precisa de soldados inteligentes e dotados de iniciativa.
Israel tem um núcleo de soldados profissionais altamente treinados dentro de uma organização militar flexível. Em caso de guerra, a esse núcleo se juntam os reservistas, praticamente toda a população masculina do país em idade de combater. São reservistas que treinam regularmente.
A busca da qualidade também depende de uma atualização tecnológica constante. Durante a Guerra Fria, os árabes recebiam o melhor equipamento disponível da União Soviética, forçando Israel a ter de buscar equivalentes em países ocidentais -primeiro a França, depois os EUA.
Ironicamente, foram os árabes que trouxeram algumas inovações importantes para os campos de batalha: o perdedor sempre tem mais motivos para buscar novidades, enquanto que o vencedor tende a se acomodar com aquilo que já deu bons resultados.
O primeiro navio a ser afundado por um míssil foi o destróier israelense Eilat, em 21 de outubro de 1967, durante a chamada "Guerra de Atrito" que se seguiu à espetacular vitória israelense na Guerra dos Seis Dias (em junho).
Duas lanchas lança-mísseis egípcias da classe Komar, de fabricação russa, dispararam quatro mísseis "Styx", dos quais três acertaram o navio. Israel desenvolveu seu próprio míssil, o "Gabriel", e deu a resposta afundando vários navios sírios e egípcios em 73.
Em 1967, a Força Aérea israelense destruiu em um ataque surpresa as forças aéreas de seus inimigos, e em seguida forças terrestres baseadas em tanques realizaram um avanço rápido, no estilo da "Blitzkrieg" alemã da Segunda Guerra.
Em 1973, para se prevenir da letal combinação israelense de aviação e blindados, os árabes revolucionam a guerra moderna ao empregar mísseis em grande quantidade. Mísseis antitanque soviéticos como o "Sagger" destruíram dezenas de tanques israelenses, fazendo fracassar as primeiras contra-ofensivas. Mísseis antiaéreos anularam boa parte do potencial da Força Aérea israelense em 73.
Mas a lição foi aprendida, e na invasão do Líbano em 82, novas táticas e tecnologias recuperaram a superioridade israelense.
Israel permanece em inferioridade numérica. Por isso gasta cada vez mais para se manter na liderança tecnológica. O país criou uma moderna indústria de armas que lidera o mundo em alguns setores. É o caso do moderno tanque Merkava 3, com blindagem modular de materiais compostos, e sistemas computadorizados para controle de tiro e detecção do inimigo, até recentemente privilégio de sistemas de armas mais complexos, como aviões de caça.



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