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PAN - Rio 2007
Arqueologia - São Paulo - 1963
No Pan e na raça
Papagaio viabiliza Jogos de 1963, que fez uso de arenas esportivas já existentes em São Paulo e nasceu sob signo do improviso
EDGARD ALVES
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Precisava de mais uma assinatura e
eu, que não tinha um tostão, também assinei com
eles." Foi graças a uma canetada de Pedro Barros Silva, 89,
um dos dirigentes remanescentes do COE (Comitê Organizador e Executivo do Pan de
1963), que o projeto dos Jogos
de São Paulo ganhou corpo e
conseguiu sair do papel.
O Pan-Americano realizado
na capital paulista, de 20 de
abril a 5 de maio de 1963, seguiu à risca o preceito do amadorismo, então vigente.
Estava tudo parado desde
1959, quando o Brasil conquistou o direito de sediar os Jogos.
Um "papagaio bancário", como
se costumava denominar a tomada de empréstimo em banco, alavancou a empreitada.
As outras assinaturas para
levantar a verba saíram dos punhos do major Sylvio de Magalhães Padilha, presidente do
COE, e do almirante Paulo
Meire, tesoureiro do COB (Comitê Olímpico Brasileiro).
O governador Adhemar de
Barros avalizou o empréstimo,
e o prefeito Prestes Maia incentivou. As duas esferas de governo financiaram o Pan.
"Além disso, confiamos no
apoio do povo", completa Barros Silva, que chefiou a secretaria executiva da Comissão Técnica do Pan. Em 63, São Paulo
tinha 4,5 milhões de habitantes
(hoje, conta com cerca de 11
milhões). Metade era jovens
com menos de 21 anos.
Liberado o dinheiro (é desconhecido registro oficial), foi
montado o organograma. O
major Padilha (ex-atleta olímpico e, depois do Pan-63, presidente do COB pelos 27 anos seguintes) era o diretor do Defe
(Departamento de Educação
Física e Esportes), que organizava o setor no Estado.
Padilha acionou integrantes
do órgão, cuja rede organizava
os Jogos Abertos do Interior.
"Os funcionários recebiam
seus salários normais, mas, no
Pan, gastava-se do bolso também", afirma Barros Silva.
O relatório do COE após o
Pan apontou que havia um ceticismo quanto à organização.
"Assim, os Jogos Pan-Americanos não foram edificados em
quatro anos, mas apenas em
150 dias. A Vila Pan-Americana
surgiu como que por encanto.
Na sua construção e na reforma de praças desportivas, trabalhou-se dia e noite. Nos planos de transportes e na edificação de serviços auxiliares, foi
necessário um esforço desdobrado", registra o relatório.
O trabalho da organização foi
recompensado, e o Pan rendeu
lucros. Com a "sobra de receita" do Pan de 63, o COB montou sua antiga sede, adquirindo
salas no prédio 156 da avenida
Rio Branco. A rua é uma das
principais do centro do Rio.
Parte da sucesso financeiro
se deve ao fato de que São Paulo usou arenas já existentes, o
que amenizou os custos.
Espaços públicos que já haviam sido erguidos na época
abrigaram 60% das competições dos 19 esportes programados. O Complexo Esportivo do
Pacaembu foi o local mais utilizado. Lá ocorreram disputas de
atletismo, boxe, futebol, judô,
lutas, natação e parte das competições de hipismo.
Os clubes privados tiveram
um peso muito maior em São
Paulo-63 do que terão no Pan
do Rio. Arenas particulares ficaram com 30% dos esportes.
Os clubes também foram sede parcial de 10% dos esportes.
São Paulo só não teve condição
de abrigar o pentatlo moderno,
programado na Aman (Academia Militar de Agulhas Negras), em Resende (RJ).
Só a Vila Pan-Americana, o
atual Crusp (Conjunto Residencial da Universidade de São
Paulo), teve a sua construção
respaldada pelos Jogos.
De acordo com João Roberto
Leme Simões, arquiteto e professor livre-docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, o projeto inicial do
Crusp é de 1935, mas só tomou
corpo em 1962, época em que a
cidade se preparava para o Pan.
"Nós tínhamos o projeto e o
local. O Pan foi o impulso para
a construção do Crusp. O governo bancou, e o projeto saiu
do papel. Dinheiro é a mola do
mundo. Sem dinheiro não se
faz nada. O Pan caiu do céu",
afirma Simões, que trabalhou,
durante cinco meses, cerca de
16 horas por dia na construção.
O projeto inicial, assinado
por Eduardo Kneese de Melo,
Joel Ramalho e Sidney de Oliveira, previa que o conjunto residencial deveria ser construído em três anos, mas os engenheiros, comandados por Paulo Camargo, tiveram só cinco
meses para finalizá-lo.
Simões diz que, depois de
Brasília, inaugurada em 1960, a
cidade universitária passou a
ser o grande canteiro nacional
de obras. "Quando o primeiro
atleta entrava na Vila, nós ainda limpávamos as instalações."
A Vila contava com seis blocos, um restaurante e uma unidade de recepção e abrigou
1.665 atletas de 22 países.
São Paulo-63 foi o Pan com
melhor performance da equipe
brasileira na classificação geral. O país ficou na segunda colocação no quadro de medalhas, somando 14 de ouro, 20
de prata e 18 de bronze.
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