São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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"Soca-tempero" faz rapaz lucrar com o desarmamento

DA ENVIADA A MINADOR DO NEGRÃO (AL)

O estudante Jacó Ricardo Gomes, 24, Jacozinho do Minuca, como o chamam em homenagem ao pai, descobriu um jeito engenhoso de faturar com a campanha do desarmamento.
Inteligente, o rapaz que sonha virar jornalista ou agente da Polícia Federal, percebeu no decreto presidencial de julho de 2004, o que previa indenização de R$ 100 a R$ 300 para quem entregasse à polícia uma arma de fogo, a chance de se transformar em uma espécie de Senhor das Armas da Bacia do Leite alagoana.
Acostumado à vida em fazenda (ele mesmo é dono da Fazenda Lagoa do Caminho, na zona rural de Minador do Negrão, em que cria gado leiteiro), Jacó sabia que muitos sertanejos tinham sua própria arma de caça, na verdade um artefato primitivo, conhecido em Alagoas como espingarda "soca-tempero".
Até a publicação do Estatuto do Desarmamento, em dezembro de 2003, toda feira do interior do Estado tinha uma ou mais barracas que vendiam essas espingardas.
O preço? Entre R$ 20 e R$ 30. Para efeito de comparação, uma pistola Rugger pode superar os R$ 3 mil.
O segredo da pechincha é o mecanismo de funcionamento das "soca-tempero". Essas espingardas nem mesmo trabalham com balas. Em vez disso, o caçador enfia cano adentro a pólvora, o chumbo e a bucha. Soca tudo com um pilão comprido e... BAM.
Tiro dado, o caçador tem de reabastecer a espingarda -um exercício de paciência. Se errou, a presa já era.
Jacó avisou que estava comprando as "soca-tempero". Pagava como se novas fossem. Revendia-as depois à PF por R$ 100.
Subtraídos os custos com gasolina para o leva-e-traz de armas entre Minador e a delegacia da PF em Maceió, sobram em média R$ 50.
Os olhos dos invejosos cresceram. Na cidade, o boato é que Jacozinho comprou 500 "soca-tempero" para revender. Um lucro total de R$ 25 mil. "Põe aí que sou um colaborador na campanha pelo desarmamento", pede o empreendedor. Em tempo: no referendo, ele votará "não". (LC)


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