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RENDA
Salário e escolaridade dos negros melhoram
Média de anos de estudo de pretos e pardos é ainda menor que a de brancos em 1995
DA SUCURSAL DO RIO
Há 13 anos, na comunidade
quilombola de Ivaporunduva,
no Vale do Ribeira (SP), ninguém tinha diploma universitário. Essa barreira foi rompida
em 2006 por Elson Silva, 25.
Depois dele, mais dois concluíram a graduação e outros nove
seguem o mesmo caminho.
Com uma bolsa da Fundação
Ford, Silva faz mestrado em
educação. "O maior acesso ao
ensino melhorou a qualidade
de vida na nossa comunidade",
diz ele, que vê um preconceito
menor, ao mesmo tempo que
mais "enrustido", no país.
O maior acesso à educação de
pretos e pardos é destaque na
comparação das pesquisas Datafolha de 1995 e 2008. O avanço também é detectado pelo IBGE, mas a diferença ainda é
grande, como mostra o Relatório Anual das Desigualdades
Raciais, organizado por Marcelo Paixão e Luiz Carvano.
A diferença na média de estudo de pretos e pardos para
brancos caiu de 2,1 anos em
1995 para 1,8 em 2007. Mesmo
assim, a média de 6,3 anos de
estudo de pretos e pardos em
2007 é menor que os 6,4 anos
de brancos em 1995.
O IBGE também detecta
maior presença de pretos e pardos no ensino superior. Em
1995, eram 18% dos estudantes.
Em 2007, 31%. O acesso aos
cursos, porém, é diferenciado.
O questionário do Exame
Nacional de Desempenho de
Estudantes, do MEC, mostra
que, numa graduação concorrida como medicina, só 12% dos
concluintes são negros, pardos
ou mulatos (definições usadas
pelo MEC no exame). Já nos
cursos que formam professores, a proporção sobe para 51%.
IDH
Além da educação, a esperança de vida ao nascer, graças em
boa parte à queda na mortalidade infantil, também registrou avanço. Em 1995, 5,6 anos
separavam brancos de pretos e
pardos. Dez anos depois, a diferença caiu para 3,2.
Essas melhorias se refletiram também no IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano,
usado pela ONU para comparar
países). Mas, ainda assim, o
IDH de pretos e pardos (0,753
numa escala de zero a um) os
coloca no mesmo nível do Irã.
Os brancos, com 0,838, ficam
perto de Cuba.
Avanços, ainda que insuficientes, também se verificam
nos salários. De acordo com
uma conta do economista
Naércio Menezes Filho, da
USP, em 1987, uma mulher negra recebia, em média, 38% do
salário de um homem branco.
Vinte anos depois, o percentual
passou a ser de 56%.
Na comparação entre homens negros e homens brancos, no entanto, os avanços são
menos significativos. Em 1987,
o rendimento médio dos homens negros representava 58%
do recebido por homens brancos. Em 2007, o percentual
passou para 62%.
"Mulheres negras estavam
mais confinadas a ocupações
precárias e sofrem duplo preconceito: por ser mulher e por
ser negra. Isso diminuiu um
pouco graças à melhoria da escolaridade", diz Menezes.
Essas mudanças, no entanto,
ainda não foram suficientes para mudar a cor da riqueza no
Brasil.
Num país em que quase metade da população se declara
preta ou parda, em 1995, como
mostram Paixão e Carvano, essa parcela representava apenas
17% dos brasileiros que estavam entre os 10% mais ricos.
Em 2007, o percentual subiu
para 22%.
Já entre os 10% mais pobres,
a proporção de pretos e pardos
é de 68%.
(AG)
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