São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

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Rumo à escassez


Metade da população mundial enfrentará crise de abastecimento em 2025, estima ONU


DA REPORTAGEM LOCAL

Seria irônico se não fosse trágico. Em pleno "planeta água", mais de 2 bilhões de pessoas sofrem com a escassez do líquido essencial para a vida. Em 2025, o número deve saltar para 4 bilhões, o equivalente a 50% da população mundial. Os dados fazem parte de um relatório divulgado pelas Nações Unidas no início do mês e mostram o tamanho do desafio que aguarda a humanidade num futuro próximo.
Para Aldo Rebouças, especialista em recursos hídricos do Instituto de Estudos Avançados da USP, os pessimistas hoje são os que acham que o pior já passou. Os otimistas seriam aqueles que dizem que o pior ainda está por vir -e portanto pode ser evitado.
Num planeta em que três quartos da superfície estão cobertos por água, dizer que falta água parece absurdo. Mas é a pura verdade. De toda a água na Terra, 97,5% estão no oceano. E 70% da água doce está congelada na Antártida e na Groenlândia. O que sobra para consumo humano está ameaçado pelo uso excessivo, pelo desperdício e pela poluição.
"A gestão da água é muito importante, tanto que estamos levando à Rio +10 um projeto brasileiro para treinamento de gerentes de recursos hídricos", diz José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia. Mas, para ele, a solução não passa só pelo controle do uso, mas pela busca de alternativas no uso e na captação dos recursos.
Uma opção que seria impensável à época da Eco-92 era a dessalinização. O processo que envolve o tratamento da água do mar para extrair o sal ainda é muito caro para ser usado em larga escala. "É coisa de um dólar para cada metro cúbico de água, que ainda é um valor bem alto", diz Tundisi. "Mas esse valor hoje tende a cair. Há dez anos, o mesmo metro cúbico custava cerca de dez vezes mais para ser dessalinizado."
Em princípio, o problema da água parece ser só de alguns países. O Brasil, por exemplo, se solucionar seus problemas de desperdício, tem potencial para abastecer toda a população com o terceiro maior volume de água doce do mundo (atrás de Canadá e EUA). "Claro, isso se o problema for combatido. Se ninguém fizer nada, já teremos séria escassez de água na cidade de São Paulo em 2010", diz Rebouças.
Segundo Tundisi, no entanto, a questão é global -como é o caso de tantos problemas ambientais. Afinal, secas na África significam mais imigrantes na Europa.
Daí ser esse um tema importante a ser debatido na Rio +10. Apesar disso, nem Tundisi nem Rebouças parecem otimistas com relação à conferência.
"Tenho a impressão de que a Rio +10 vai ser um fiasco. O tema da conferência é a pobreza na África -e ninguém quer saber de pobre", diz Rebouças. (SN)



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