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SP 450
CONTRA TUDO
Levantamento diz que o paulistano ficou mais intransigente quando estão em debate temas relativos a crimes e costumes
Em questões morais, conservadorismo é predominante
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de ter eleito, pela segunda vez na história, uma prefeita
mulher e de um partido supostamente de esquerda, o paulistano
está cada vez mais conservador
quando o assunto é pena de morte, aborto e maconha.
De acordo com os resultados
obtidos pelo Datafolha, a conclusão é que o morador da cidade está mais conservador em relação a
si próprio e em relação ao resto do
país, com poucas exceções.
São a favor da adoção da pena
de morte 59% dos que moram em
São Paulo -eram 51% nas três
pesquisas anteriores (2002, 2000 e
1997). No Brasil, a porcentagem
atual diminui para 49%.
Situação similar acontece quando o assunto é prisão perpétua.
Apóiam a pena 81% dos ouvidos
em São Paulo (eram 76% em
2002), ante 72% dos ouvidos em
outras capitais brasileiras. "Sabe o
que é isso? O povo dizendo que
não agüenta mais a situação atual
da segurança pública e pedindo
providências", diz Walter Abrahão Filho, 24, presidente do PFL
Jovem do Estado de São Paulo.
Opinião diferente tem o deputado estadual Renato Simões (PT),
ligado a movimentos de defesa
dos direitos humanos, para quem
o humor da pesquisa no que toca
à segurança está contaminado pela repercussão que teve o caso do
assassinato dos adolescentes Liana Friedenbach e Felipe Silva Caffé, em novembro de 2003.
"Esses indicadores mostram
que a população reage de forma
instintiva ao aumento da violência, evidenciado por um crime
bárbaro como aquele", acredita o
deputado estadual. "A tendência
é, nos próximos levantamentos,
esses índices diminuírem."
É curioso notar como historicamente houve uma inversão de valores provocada provavelmente
pelo aumento da criminalidade.
Pesquisa realizada em 1989 pelo
Datafolha trazia a maioria dos
paulistanos contrários à pena capital (73%), com 22% a favor.
Ligeiramente em alta é também
o total de moradores de São Paulo
que são contrários à descriminalização da maconha: 82% (eram
79% em 1997 e 80% em 1994). "Isso deve mudar", acredita Vandré
Fernandes, 30, presidente estadual da União Juventude Socialista, para quem São Paulo já deu
uma guinada à esquerda na área
política, elegendo Marta e Lula.
"Agora a área comportamental
deve acompanhar aos poucos."
É na questão relacionada ao
aborto, no entanto, que está a mudança mais significativa, com um
aumento na aprovação da lei
atual -intervenção só permitida
em caso de estupro ou risco de
morte da gestante- de 37% (em
1994) para os atuais 63%. "É impressionante, mas esperado", disse a psicanalista Miriam Chnaiderman. "São Paulo está virando
uma cidade de limites."
Mas existem graus e graus de
conservadorismo, e três enquetes
específicas parecem relativizar o
fenômeno, colocando o paulistano em posição mais liberal do que
os ouvidos em oito Estados brasileiros mais o Distrito Federal.
Com a frase "Se Deus fez raças
diferentes, é para que elas não se
misturem", apenas 11% dos paulistanos disseram concordar
-foram 16% no resto do país. O
mesmo ocorreu com "Uma boa
coisa do povo paulistano é a mistura de raças". Dos que habitam a
cidade, 88% concordam com a assertiva; já para os demais, só 75%
a acham correta.
(SÉRGIO DÁVILA)
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