São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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PAULISTANOS

Brasilândia/Freguesia do Ó

Local é tido como feio por paulistanos




DA REPORTAGEM LOCAL

Um lugar tido como tão feio, mas tão feio, que é feio até no nome. Essa é a opinião que os moradores de São Paulo e da própria região têm da área da Vila Brasilândia/Freguesia do Ó, na zona norte da cidade.
Uma das áreas mais pobres da capital paulista, essa região foi citada pelos paulistanos ouvidos pelo Datafolha entre as três mais feias, mais pobres, mais violentas e de nome mais feio. Nessa última "categoria", é a campeã, à frente do Capão Redondo/Jardim Ângela (zona sul), seu principal "concorrente" nesse ranking às avessas de pior lugar da cidade.
Esses dados não necessariamente refletem o que a população vê da região como um todo. Como as respostas sobre as características dos bairros da cidade foram muito fragmentadas, o Datafolha as agrupou entre as 19 áreas em que a pesquisa foi dividida.
Isso pode explicar por que alguns pontos aprazíveis da Freguesia, como o largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó, acabam incluídos nesse balaio de feiúra. O Datafolha agrupou nessa região os distritos da Brasilândia, da Cachoeirinha e da Freguesia do Ó.

"É horrível"
Moradora de uma rua sem asfalto ao lado de um córrego de esgoto, a professora estadual Edijane Maria Neves da Mata, 18, conta um pouco o sentimento de viver nesse lugar. "Não dá nem para trazer o namorado. E o cheiro do rio? É horrível", afirma.
Em uma roda com outras três amigas, Edijane conversava na porta de sua casa há cerca de dez dias, na Vila Brasilândia. Suas amigas, Erica Maria Neves da Mata, 15, Liliane Siqueira de Faria, 18, e Valeska Siqueira, 15, também não souberam dizer o que viam de bom no bairro em que moram.
Nessa região, a média dos que sentem mais vergonha que orgulho da área em que vivem também fica acima do percentual da cidade (é a terceira maior, 23%, contra 17% no geral dos bairros).
Quando se fala da cidade como um todo, apenas 12% dos paulistanos sentem mais vergonha que orgulho, segundo o Datafolha.
A vergonha se estende também às residências -13% consideram que vivem em local um pouco pior que a maioria das moradias.
Dona de um bar, Aliete Maria de Jesus, 56, coloca em sua perna a mais nova de seus 34 netos, Kauane, de um ano e dois meses. Sentada na rua, ela conta que a violência não é um problema no seu bairro, o Jardim Guarani, no distrito da Brasilândia.

"Sossegado"
"Aqui a gente pode ficar aberto até nove, dez horas da noite. É sossegado. Acho que é o lugar mais sossegado de São Paulo", diz. Com Aliete moram uma filha e três netos, e ela não se lembra de ameaça ou violência recente.
Sentado ali perto, o ajudante Elásio Alves da Silva, 53, concorda com Aliete. "Violência tem em tudo quanto é lugar, é comum. O que acaba com esse mundo é a droga", avalia.
Mas o diagnóstico dos dois não bate com a opinião dos paulistanos e do restante dos moradores da própria região sobre isso. A área da Brasilândia/Freguesia do Ó é considerada a mais violenta da cidade por 16% dos entrevistados -a segunda pior, atrás apenas do ponto Capão Redondo/ Jardim Ângela (19%).

Deixar a cidade
Aliás, pela opinião dos próprios moradores, essa seria a região mais violenta da cidade -43% dos que vivem na área da Brasilândia/Freguesia a consideram a mais violenta do município. No campeão Capão/Jd. Ângela, são "só" 39% dos moradores que têm seu próprio bairro como o mais inseguro da capital paulista.
Essa conjunção de avaliações negativas pode ser um dos fatores que se refletem na alta taxa de moradores da região que demonstram intenção de deixar a capital paulista. São 54% do total da área, de cerca de 550 mil pessoas. (PDL)



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