São Paulo, terça-feira, 25 de janeiro de 2011

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Pesquisa de 1934 revela a ocupação estrangeira

Censo feito por quarteirão identificou a nacionalidade dos moradores

EVANDRO SPINELLI
DE SÃO PAULO

No Bom Retiro, ingressos a menos de R$ 4 para filmes falados em iídiche e peixes de água doce vendidos vivos.
Na rua 25 de Março, livros em árabe e canções dolentes e sentimentais com as melhores vozes do Oriente.
Na Liberdade, anúncios em japonês e produtos típicos, como o Ajinomoto, encontrados com facilidade.
Esta é a São Paulo dos estrangeiros, dos paulistanos acidentais que ajudaram a fazer do lugar de 240 mil moradores no início do século 19 a maior cidade das Américas.
Mas, embora pareça familiar, as descrições feitas dos bairros do Bom Retiro, Sé e Liberdade são de uma São Paulo mais jovem, 71 anos atrás, com "apenas" 386 anos. Quem descreve é Oscar Egídio de Araújo, em artigo publicado na "Revista do Arquivo Municipal" em 1940.
Técnico de estatística da prefeitura, Araújo foi o responsável, em 1934, pelo primeiro censo da cidade que identificou, quarteirão por quarteirão, as etnias que habitavam a cidade.
Eram 1.033.202 os moradores, 289.058 estrangeiros. Destaque para 85.782 italianos e 79.465 portugueses.
Os italianos vieram principalmente para trabalhar em indústrias e se instalaram perto do local de trabalho -margens da linha de trem (Mooca, Belenzinho e Brás) e Bela Vista.
Já os portugueses eram mais agricultores e foram para bairros mais periféricos, como o Belenzinho, que na época incorporava o rural Tatuapé. É o que constata Araújo, em artigo de 1941.
Mas eles se misturavam aos brasileiros, casavam com brasileiros, e aqui formaram suas famílias.
São famosas famílias com sobrenomes como Matarazzo (italiano, nome até de bairro) e Almeida (português), por exemplo. Sem contar os sobrenomes menos famosos, como o italiano Spinelli aí do alto deste texto, precedido na certidão de nascimento pelo português Guimaro.

BAIRROS
A chegada dos imigrantes acabou criando verdadeiros "bairros estrangeiros".
O Bom Retiro, por exemplo, virou praticamente um bairro judeu, pela grande concentração de russos, austríacos e alemães.
O censo de 1934 identificou boa quantidade de italianos no distrito, mas, com menos de 34 mil moradores, os milhares de judeus, com suas barbas e roupas características, se destacaram.
Na Sé, onde fica a rua 25 de Março, os árabes, especialmente sírios, tomaram conta. A pesquisa menciona inclusive um prédio que resiste até hoje: o Nacim Schroueri.
A Liberdade, onde também havia mais italianos e portugueses, ficou caracterizada como um bairro japonês. Explica-se: o censo de 1934 considerava apenas o país de nascimento. Se tivesse nascido no Brasil, era brasileiro. Porém, como os japoneses se casavam praticamente só entre eles, boa parte do bairro era de descendentes de japoneses.


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