São Paulo, terça-feira, 25 de janeiro de 2011

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SP foi explorada até "expulsar" bandeirantes

Pelo escambo ou pela força, eles capturaram tantos índios que seu negócio afundou quando a "matéria-prima" acabou

DE SÃO PAULO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


Poucos anos após a fundação da vila de São Paulo, o jesuíta Pedro Correa reclamava: "Os índios [após o contato com os brancos] andam sempre a beber vinho pelas aldeias, ordenando guerras e fazendo muitos males, o que fazem todos os que são muito dados ao vinho por todas as partes do mundo".
Não é verdade que o vinho tivesse tornado os índios adeptos da guerra -eles já eram assim-, mas a fala de Correa escancara um item básico da relação entre brancos e nativos: o álcool.
Isso ficou ainda mais forte quando os bandeirantes passaram a partir para longas aventuras pelo sertão do país atrás de índios para escravizar. Era um escambo típico: os brancos entregavam a bebida e, em troca, os índios entregavam-se uns aos outros.
Um senhor de engenho descreveu o mecanismo: "Esta gente é muito afetuosa à aguardente; por consequência, fazemo-lhe o presente dela para mais os acarinhar".
Em geral, os índios entregavam os membros de tribos inimigas, mas nem sempre, como no relato impressionado de um padre português do século 17: "Em troca de ferramentas e vestidos, dão seus próprios parentes e amigos".
Quando o escambo falhava, a força resolvia -muitas das aldeias "colaboracionistas" acabaram depois sendo "traídas" pelos bandeirantes, e todo mundo virou escravo em São Paulo.
Um paulista era tão agressivo com os índios que, nas palavras de Pedro Taques, historiador do século 18, "por cujo rigor foi tratado com a alcunha de "caga-fogo'".
Os bandeirantes foram tão competentes -algumas expedições voltavam com mais de 2.000 índios acorrentados- que capturaram índios até demais, acabando assim com a sua "matéria-prima".
Começaram a ir, então, cada vez mais longe. Alguns, quando perceberam estar em lugares como o vale do São Francisco ou o Piauí, nem voltaram -leia sobre Raposo Tavares, que andou 10 mil quilômetros, na página 23.
Tavares era um bandeirante experiente, mas era exceção. Muitos jovens colonos paulistanos se aventuravam pelo sertão. Era visto como parte importante da sua formação, e esperava-se que os pais dessem, inclusive, ajuda financeira para isso -uma espécie de intercâmbio no exterior primitivo.
(RICARDO MIOTO, SABINE RIGHETTI, GIULIANA MIRANDA e MARCELLE SOUZA)


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