São Paulo, quinta, 25 de setembro de 1997. |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice Católicos praticantes contrariam a igreja e aprovam a camisinha
JOSÉ GERALDO COUTO especial para a Folha Os católicos praticantes, em sua grande maioria (68%), preferem ouvir sua própria consciência a obedecer cegamente as determinações da igreja. É o que revela pesquisa Datafolha realizada entre católicos antes ou depois de assistirem a missas nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Isso explica, entre outras coisas, por que o uso da camisinha, condenado pelo papa, mas que conta com o apoio de 90% dos entrevistados, se a justificativa é evitar a gravidez, e de 96%, quando o motivo é a prevenção da Aids. Outros assuntos em que a posição dos católicos se distancia da orientação da igreja são a necessidade do casamento religioso e a exigência da virgindade antes do casamento. Casar na igreja só é considerado um imperativo por 34% dos entrevistados; para 64%, pode-se morar junto sem passar pelo altar. E só 45% acham que a mulher deve casar virgem, número que cai para 27% no caso do homem. Curiosamente, são sobretudo as mulheres que defendem a virgindade pré-matrimonial feminina (46%) e a não-virgindade masculina (55%). Para a maioria das católicas de São Paulo e Rio, a mulher deve casar virgem e o homem não. Pena de morte Também a pena de morte é um assunto controverso entre os católicos entrevistados. Embora a maioria (67%) condene a prática, seguindo nisso a orientação da igreja, uma expressiva parcela (29%) a apóia. A pena de morte encontra mais adeptos católicos em São Paulo (31%) do que no Rio (26%). Os homens são mais favoráveis (30%) que as mulheres (27%). A própria posição da igreja, nessa questão, não é taxativa. Embora condene, de modo geral, a pena capital, o novo "Catecismo da Igreja Católica", divulgado neste mês, considera-a aceitável "se for o único meio disponível para defender a vida das pessoas do agressor injusto". É interessante notar que entre os católicos a oposição à pena de morte é maior que entre o restante da população. Em pesquisa realizada em março de 95, 54% dos brasileiros manifestaram-se a favor da pena, e apenas 42%, contra. Aparentemente, quanto mais praticante é o católico, mais ele condena a pena de morte: 82% dos que vão à missa mais de uma vez por semana são contra a medida; entre os que vão apenas uma vez por mês, a oposição cai para 47%. Aborto e maconha A opinião dos católicos entrevistados coincide com a da igreja no que se refere à condenação do aborto: 70% dos entrevistados acham que a prática deve continuar proibida por lei. Mas uma parcela significativa (24%) apóia a legalização do aborto, embora este seja considerado pela igreja uma das mais graves faltas, que acarreta a seus praticantes a excomunhão automática. Outro ponto em que os católicos praticantes seguem de perto a orientação do Vaticano é a condenação das drogas. A legalização da maconha enfrenta a oposição de 81% dos entrevistados e o apoio de 14%. As mulheres opõem-se mais maciçamente à legalização (85%) do que os homens (77%). O "Catecismo da Igreja Católica" não faz menção específica à maconha, mas considera "falta grave" o uso de drogas, "salvo com indicações estritamente terapêuticas". Homossexuais e masturbação A legalização da união entre homossexuais é condenada pela grande maioria (71%) dos católicos ouvidos na pesquisa. As mulheres (72%) são mais contrárias que os homens (68%). Quem mais condena a união homossexual são os católicos mais assíduos: 79% dos que vão à missa mais de uma vez por semana são contra a legalização, porcentagem que cai para 41% entre os que vão menos de uma vez por mês. No "Catecismo", a homossexualidade é vista como "transtorno objetivo", mas os católicos são chamados a acolher os homossexuais com respeito e compaixão. A masturbação, definida pelo "Catecismo" como "ato intrínseca e gravemente desordenado", não é considerada um pecado pela maioria (47%) dos ouvidos na pesquisa. Para 16%, é um pecado grave, e, para 31%, um pecado leve. Também a igreja acha a masturbação um pecado leve. "Para formar um justo juízo", prega o "Catecismo", é preciso levar em conta "a imaturidade afetiva, a força dos hábitos contraídos, o estado de angústia ou outros fatores psíquicos ou sociais que minoram ou deixam mesmo extremamente atenuada a culpabilidade moral". Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
|